Vol. XV: Vitrais 99 - ago 2022 

A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers

ISSN 2317-0719

VITRAIS
Vol. XV: Vitrais 99 - ago 2022

 

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Artigo 1

 

Equoterapia e Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers

 

Por: Elizabeth Luiza Possan

Psicóloga. Sociopsicomotricista Ramain-Thiers. Psicopedagoga. Equoterapeuta.

 

Segundo o site do Centro de Equoterapia Passo-a-passo: “A Equoterapia é um método terapêutico que tem o cavalo como o facilitador da evolução humana, independente da sua condição, por meio de intervenções de um mediador preparado para compor esta relação. O cavalo é um agente facilitador de ganhos motores, emocionais, intelectuais e espirituais, (MOTA, 2014)”.

A inserção do cavalo em processos terapêuticos data de 458-370 a.C., quando Hipócrates, pai da medicina, fez referência à equitação como fator regenerador da saúde, (FREIRE, 1999).

O uso do cavalo facilita o desenvolvimento das habilidades funcionais nas deficiências físicas através dos benefícios biomecânicos deste animal. A montaria contribui para uma melhora da amplitude de movimento, flexibilidade, força muscular, promove ajustes tônicos, melhora do equilíbrio e postura corporal. As dificuldades de aprendizagem e alterações de linguagem são trabalhadas na Equoterapia com o objetivo de estimular as funções cognitivas, de modo a promover melhora significativa nos seguintes aspectos: atenção, memória, coordenação motora, noção espacial e temporal. As questões relacionadas à disciplina, criatividade e iniciativa também são otimizadas no contexto do ambiente equestre. A Equoterapia oferece um espaço no qual o indivíduo pode conhecer suas competências, buscar a melhoria da autoconfiança, da elaboração de medos e conflitos. O cavalo é franco e autêntico na relação com o outro, espelhando com eficácia as dificuldades da pessoa, porém sem punição ou julgamento. As atividades de montaria e do cuidado com o animal proporcionam situações concretas que envolvem novas aprendizagens e ações positivas voltadas para a superação de limites.”

E o Ramain Thiers?

Quando fiz o curso de Equoterapia, já tinha concluído a Formação em Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers, mas estava procurando um trabalho com mais liberdade, ao ar livre, sem deixar de ser Psicóloga. Então uma fisioterapeuta e um professor de equitação, me convidaram para abrimos uma escola, e assim formamos a Escola de Equitação e Equoterapia Integração. Conseguimos uma licença da Prefeitura Municipal de Palotina-PR, para trabalhar no Parque de Exposições porque neste parque, já existia uma estrutura construída com cocheiras, banheiros e era coberto. Além do espaço maravilhoso, havia um bosque e a pista de laço do CTG, Centro de Tradições Gaúchas. Assim, em troca, atendíamos 30 crianças gratuitamente, da APAE, da CASA LAR e das Escolas Municipais.

Ao começar o trabalho eu fazia como a maioria dos Psicólogos, ficava de apoio no atendimento aos pais e a Fisioterapeuta, atendia as crianças, mas percebia que poderia fazer muito mais pelos praticantes.

Então comecei a criar, a adaptar alguns materiais para realizar as propostas da Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers para usar sobre o cavalo. Com pranchetas de metal, painéis de metal fixados nas paredes da pista de equoterapia, ou seja, no picadeiro, além de peças de jogos, papéis, quebra-cabeças todos com muito ímã.

Adaptamos dois baldes de plástico amarrados, um de cada lado, na manta de Equoterapia, para os exercícios de lateralidade, equilíbrio, raciocínio e para ser apoio ao levarmos do material pelo bosque.

A proposta de Percurso, por exemplo, era realizada com mini mapas, onde o praticante tinha que seguir o mapa e encontrar tesouros escondidos pelo bosque. Considerando sempre as dificuldades e habilidades de cada um. Ainda usávamos balizas e as árvores com percursos diferentes.

A música era muito utilizada, as propostas com ritmos com latinhas, palitos e pedrinhas. Os sons do bosque eram muito utilizados por nós, em brincadeiras de mímicas, adivinhações e imitações de animais. Ainda na oralidade, os praticantes alimentavam os cavalos, davam água, sempre observando os sons e movimentos do animal.

Uma das atividades preferidas dos praticantes era a tinta, podiam carimbar suas mãos no cavalo, pintar as crinas, colocar presilhas, prendedores de roupas coloridos. Os cabelos da Psicóloga e da Fisioterapeuta também eram penteados. O cavalo realmente, facilitava o contato do praticante conosco. O vínculo era quase instantâneo.

Além do cavalo, usávamos também uma charrete. Era excelente para desenvolver a lateralidade, autonomia, enfim, tudo o que nós conseguíamos explorar. Ao subir na charrete, sempre com muita ajuda, devido aos déficits motores da maioria, nós dávamos as rédeas para o praticante. Assim, ele precisava prestar atenção no caminho, aprender os comandos para o cavalo acelerar ou parar. Era incrível como eles se sentiam capazes por terem guiado a charrete.

Atendíamos autistas, síndromes, paralisia cerebral, traumatismos e lesões severas devido a acidentes, hiperativos, crianças da CASA LAR com problemas sérios de abandono e maus tratos.

Durante esse período, dois casos nos chamaram atenção: um senhor com mais de 70 anos com Mal de Parkinson, que gostava de contar sua história de vida, ao subir no cavalo e assumir as rédeas, o tremor praticamente acabava, ele relatava que se sentia no controle dos seus movimentos de novo. Emocionante! Outro caso de uma praticante diagnosticada com Transtorno Bipolar com aspectos psicóticos, já veio medicada e adorava andar a cavalo, então com ela o divã era o cavalo, andávamos pelo parque, longe de todos e com muita psicanálise!

Assim a Equoterapia e a Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers começaram uma história, quebrando paradigmas e mostrando oque é necessário para a terapia acontecer. É necessária uma sala, um ambiente ou desprendimento e uma vontade de realizar!

 

REFERÊNCIAS

MOTA, Claudia da Costa. Fonoaudióloga. Fundadora do Instituto Passo a Passo – Equoterapia. Itatiba. SP.

FREIRE, Heloisa Bruna Grubits. Equoterapia Teoria e Técnica: uma experiência com crianças autistas.São Paulo, Vetor. 1999.