Artigo
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A situação clínica: Regressão Clínica
por: Joseph Sandler, Christopher Dare e Alex
Holder.
Um aspecto do processo psicanalítico,que
merece especial menção e atenção, usado com
numerosos sentidos na teoria psicanalíticaé
o significado específico do termo regressão,
isto é, o surgimento de tendências passadas,
frequentemente infantis, em situações em que
se julga, que tais tendências representam o
reaparecimento de modos de funcionamento,
que tinham sido abandonados ou modificados.
Regressão desse tipo aparece como parte
característica do processo psicanalítico,
mas os mesmos fenômenos são visíveis fora da
análise. Basta apenas citar a maneira como
uma criança que está aprendendo a caminhar
pode abandonar o controle intestinal no
período de tensão consequente ao nascimento
de um irmãozinho, ou a maneira como uma
criança ou adulto pode se tornar
independente quando hospitalizada. Tais
regressões, que podem afetar qualquer parte
do funcionamento da personalidade, podem ser
temporárias ou mais permanentes,
insignificantes ou graves. Regressões dessa
espécie são de esperar em fases críticas do
desenvolvimento do indivíduo e a menos que
se mostrem inusitadamente prolongadas ou
graves, podem ser consideradas normais (A.
Freud, 1965).
No tratamento psicanalítico, uma das funções
da situação terapêutica é a de permitir, ou
facilitar a regressão. As tendências
regressivas são vistas muito claramente na
análise à medida que se desenvolvem os
fenômenos da transferência, no
reaparecimento de desejos, sentimentos,
formas de se relacionar, fantasias e
condutas infantis para com a pessoa do
analista. Contudo, da mesma forma como
constitui um veículo essencial, através do
qual importantes dados são trazidos do
passado numa forma convincente e
significativa, a regressão pode, às vezes,
ter também um aspecto mais obstrutivo e
prejudicial. Se verifica isso especialmente,
quando ela se torna tão intensa ou
prolongada que o paciente é incapaz de
reaver aquela capacidade de auto-observação
que é uma parte necessária da aliança
terapêutica.
Por exemplo, é muito comum a experiência de
verificar, durante a análise, que o paciente
se torna, em alguma fase, cada vez mais
exigente no que se refere ao amor, afeição e
provas de estima por parte do analista. A
forma como isso se manifesta pode ser um
importante ponto de partida para o
entendimento relativo ao primitivo
relacionamento entre o paciente e, por
exemplo, uma mãe que foi vivenciada como
causadora de privações e omissa. Tal
informação pode constituir material
essencial para compreender as dificuldades e
os problemas atuais do paciente, No entanto,
se essa tendência a ser exigente se torna o
ponto principal das comunicações do paciente
ao analista, e se o analista é incapaz de
inverter essa tendência mediante
interpretações adequadas ou outras
intervenções, a possibilidade de continuaro
trabalho analítico pode ser prejudicada ou
mesmo, em certos casos, perdida. Isto é
evidente em certas formas especiais de
transferência.
Diversos autores têm assinalado a
importância da capacidade de regredir dentro
e fora da situação psicanalítica. Por
exemplo, E. Kris (1952) discutiu a
importância da capacidade de regressão
controlada e temporária no âmbito da
criatividade artística. D. W. Winnicott
(1954) e M. Balint(1934,1965,1968)
acentuaram a importância da regressão do
paciente como meio de obter acesso a
material que de outra maneira não seria
disponível. Isto M. Balint chamou de
“regressão a serviço do progresso”. Parece
provável que cada psicanalista varia o grau
em que (conscientemente ou inconscientemente)
favorece as tendências regressivas em seus
pacientes.
Referências
SANDLER,
Joseph. DARE Christopher. HOLDER Alex. O
paciente e o analista: fundamentos do
processo psicanalítico. Trad. José Luis
Meurer. 2ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986.
P. 21.
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