Artigo 2
A Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers e o
valor da Leitura Psicanalítica
Por: Elaine Thiers
Psicóloga. Psicanalista. Psicomotricista.
Sócia Titular da ABP.
Sociopsicomotricista Ramain-Thiers.
Responsável pela Formação em
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers.
Presidente da ABRT.
A Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers, em
sua clinica psicomotora, contribui com a sua
leitura psicanalítica, neste campo
interdisciplinar.
A interdisciplinaridade, aparece no século
XX, buscando superar o movimento de
especialização da ciência e a fragmentação
do conhecimento em diversas áreas de estudo
e pesquisa.
Buscando desenvolver novas práticas de
pesquisa, como também, acompanhar a
atualidade, as evidências e os movimentos da
Psicomotricidade. Muitas disciplinas, que
seriamconsideradas incomunicáveis,devido
à distância
entre seus objetos de estudo, estão sendo
reunidas para dar mais respostas a novos
problemas de pesquisa e novas formas de
pensar.
A Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers é uma
metodologia criada por Solange Thiers, por
volta dos anos 80, do século XX, que através
da sua experiência com a Psicomotricidade,
observou, que a representação simbólica, que
compreende a dimensão psíquica se
manifestava na ação motorado sujeito. Todo o
trabalho foi desenvolvido com base na
Psicanálise Freudiana,pois seus principais
fundamentos são voltados para a Clínica
Psicomotora epor compreender o sujeito como
mente, corpo, ação e social.
Um dos conceitos fundamentais em que a
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers se
fundamenta é a Transferência, termo
introduzido por Freud e Ferenczi (1900/1909)
na Psicanálise, considerada essencial para o
processo, pois está contida em todas as
relações humanas.A transferência ocorre, na
projeção, ou seja, quando se desloca,
projeta e transfere para pessoas do convívio
presente,situações vividas com algumas
figuras importantes do passado do sujeito:
pai, mãe, irmãos e outros. Todo o processo
acontece de maneira inconsciente e
simbólica, com a finalidadede favorecer a
cura e iluminar a vida do sujeito.
O setting terapêutico na
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers é
composto de três momentos interligados: a
verbalização, a psicomotricidade
diferenciada: gráfica / artística e o
trabalho corporal. O tipo de material
utilizado também causa diferentes tipos de
transferência, que poderá ocorrer em
qualquer um destes momentos.
A transferência foi
constatada por Freud durante suas análises,
quando ele percebeu, que alguns pacientes
pareciam nutrir por ele
certo afeto e desejo. Sentimentos incompatíveis com a relação entre
terapeuta – paciente.
A transferência, no entanto, não está apenas presente nas sessões
psicanalíticas, ela é um aspecto inerente à
personalidade humana.
Ela perpassa os mais diversos nichos de
relacionamentos, que se estabelece entre as
pessoas, quando projetamos em alguém
expectativas irreais e gostaríamos que essa
pessoa assumisse.
Nos grupos terapêuticos de SociopsicomotricidadeRamain-Thiers, a
transferência ocorre, podendo ela ser
central: que é a projeção de expectativas na
pessoa do terapeuta Sociopsicomotricista, ou
lateral: quando essas projeções são feitas
entre os diferentes membros do grupo.Dessa
forma
surgemmuitas
vezes, afetos positivos e,ou afetos
negativos, ligados às outras pessoas, que
remetem aos afetos infantis, e assim
criam-seas
expectativas de reações do outro.
Esse pode ser considerado um dos principais motivos
pelos quaisSolange
Thiers sempre trabalhou a pessoa do
terapeuta Sociopsicomotricista em sua
análise formativa: Formação Pessoal, pois é
preciso muito cuidado por parte do terapeuta
para não entrar na contratransferência,
devolvendo afetos de forma desordenada para
o paciente.
A transferência não está apenas presente nas sessões
psicoterapêuticas, de um modo geral, ela é
um aspecto inerente à personalidade humana,
perpassando os mais diversos nichos de
relacionamentos que se estabelece entre as
pessoas. Quando projetamos em alguém
expectativas irreais que gostaríamos que
essa pessoa assumisse.
É preciso queo
terapeuta ou psicoterapeuta
Sociopsicomotricista tenhaas
suas questões emocionais bem elaboradas para
que as suas devolutivas não gerem
resistênciasao processo psicoterapêutico.
Em: A Dinâmica da Transferência, Freud
(1912) distinguia duas atitudes básicas do
paciente: de um lado, a cooperação, e de
outro, a resistência. Estas atitudes, que se
contrapõem entre si, foram incluídas na
transferência.
A teoria da transferência em Freud permite
discriminar: uma "transferência positiva
sublimada" e as resistências que se
alimentam tanto da transferência erótica:
quando o vínculo transferencial assume um
caráter sexual; quanto da transferência
negativa: quando o vínculo transferencial
adquire um caráter hostil.
A SociopsicomotricidadeRamain-Thiers também
é baseada nas fases do Desenvolvimento
Psicossexual de Freud, observando como as
crianças desenvolvem a sua sexualidade
infantil.
Inicialmente
aparecem
os
instintos de auto conservação e, a seguir,
os instintos sexuais. A criança começa a
mamar no peito o leite, por uma questão
física de alimentação, mas depois começam a
surgir os impulsos sexuais de prazer. Não
podemos falar em genitalidade adulta, pelos
próprios impedimentos biológicos, esses
impulsos sexuais de prazer ficam apenas na
fantasia.
Em Ramain–Thiers todas as atividades
psicomotoras corporais, gráficas e na
verbalização, denominadas por Solange Thiers,
seguem a seguinte classificação:
·
Momento Oral: Reconstrução da Maternagem.
·
Momento Anal: A Entrada do Limite
·
Momento Fálico: O Movimento Edipiano
·
Momento Genital: A Descoberta do Eu Social
Solange Thiers, também criou os Orientadores
Terapêuticos Thiers para Crianças,
Adolescentes e Adultos. Nesses todas as
atividades gráficas/artísticas estão
classificadas de
acordo com a fase do Desenvolvimento
Psicossexual que mobilizam.
Assim, o Sociopsicomotricista vai observar a
fase de
desenvolvimento emque
se encontra a pessoa ou o grupo de pessoas
que está atendendo e vai escolher, para
oferecer, uma proposta gráfica que trabalhe
esses aspectos.
No trabalho corporal, também vamos oferecer
a vivência de atividades corporais e
materiais intermediários, como:bolas, panos,
papéisdiversos, aromas, bambolês e outros
que vão favorecer a elaboração das referidas
fases.
Um grupo terapêutico quando se encontra:
No MOMENTO ORAL, em analogia com o
desenvolvimento pulsional dos sujeitos,
apresenta-se de forma bastante dependente do
terapeuta. O que transferencialmente remete
à dependência materna. Apresenta grande
voracidade, na oralidade excessiva
analógica ao comer
compulsivo e na rápida execução das
propostas que são
“devoradas”.
A Criatividade é pobre e narcísica, com
pouca interferência do outro. O
Sociopsicomotricista deve trabalhar
transferencialmente no sentido de
reconstruir as relações maternas mal
resolvidas.
No MOMENTO ANAL, atua de forma agressiva,
obtendo prazer com a expulsão ou retenção de
suas
“fezes”; há um
elemento de
sadismo no controle desta primeira
produção.O Sociopsicomotricista deve
trabalhar limites com o paciente e propostas
corporais de autoridade, ritmo e toque
corporal.
No MOMENTO FÁLICO, haverá uma oposição ao
Sociopsicomotricista, os órgãos sexuais
começam a concentrar energia pulsional,
surgindo sentimentos de exclusão da tríade
edípica. Quando percebe a diferença
anatômica dos sexos o menino vive a angustia
de castração, o menino tem medo de perder
algo que ele possui, iniciando,
assim, um processo de saída do Édipo. A menina iniciará o movimento de entrada
no Édipo.Surgem,
no grupo, situações
de traição relacionadas à tríade edípica eo
Sociopsicomotricista deve
trabalhar propostas de exclusão e disputa.
No MOMENTO GENITAL, o sujeitobusca sua
própria identidade, as propostas em grupo
fluem de melhor forma, começa a saída da
tríade edípica familiar, descobrindo sua
potencialidade no mundo.
Concluímos salientando que esse trabalho de
grupo foi desenvolvido e criado por Solange
Thiers, que através de sua vasta experiência
e muitos estudos, pode embasar com a leitura
psicanalítica sua criação de trabalho
psicomotor.
Consideramos de grande valia ao mundo
científico, em particular à Psicomotricidade,
a criação, embasamento e aplicação da
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers.
Solange Thiers nos deixou, em março de 2018,
todavia seu trabalho está sacramentado na
história da Psicomotricidade. Eu, como sua
filha, sinto-me bastante honrada e
lisonjeada de poder dar prosseguimento à sua
obra.
Como dizia Solange, Ramain-Thiers era a sua
Rosa, em referência à Saint Exupéry, no
Pequeno Príncipe. Nós, profissionais
Ramain-Thiers, em especial a diretoria da
ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers,
vem cultivando com amor, carinho e dedicação
a Rosa criada e plantada por Solange Thiers.
REFERÊNCIAS
THIERS, E.Org.Compartilhar em Terapia: seleções em Ramain-Thiers. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1998.
THIERS, E. THIERS, S.Org.A Essência dos
Vínculos. Rio de Janeiro: Altos da
Glória, 2001.
THIERS, Solange e Cols. -
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers: uma
leitura emocional, corporal e social. 2ª ed. ver. E atual. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1998.
THIERS, S. GERALDI, A. Org.
Corpo e Afeto:reflexões
em Ramain-Thiers. Rio de Janeiro: WAK Ed.,
2009.
THIERS, Solange. Orientador Terapêutico
Thiers para Adolescentes - AD. Rio de
Janeiro: Biblioteca Nacional, reg. nº
79.695, 1992.
THIERS, Solange. Orientador Terapêutico
Thiers para Crianças - CR. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Biblioteca Nacional, reg. nº 75307,
1992/2017.
ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de
psicanálise. Trad. Vera Ribeiro, Lucy
Magalhães; Sup. Marco Antonio Coutinho
Jorge. Riode janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
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