Artigo 1
Os efeitos da pandemia pelo C.19 e a
intensificação dos sintomas psíquicos no
relato de três gestantes na atualidade
Por: Marina Aparecida Fraga Abelha Stremlow
Psicóloga. Psicanalista. Gestão em Família.
MS em Psicologia Social.
Sociopsicomotricista Ramain-Thiers.
Os efeitos da pandemia pelo C.19 e alguns
sintomas se tornaram mais recorrentes na
Sociedade Brasileira e de forma geral na
atualidade muito intensos e tensos.
A partir dos relatos de gestantes, como
também, um trabalho de atendimento e escuta
das mesmas, convido nesse artigo à essa
reflexão.
Segundo Birman (2021), em publicação
recente, na qualdiscorre sobre a neurose de
angústia, a hipocondria, quadros depressivos
e de melancolia, ritualização do cotidiano
em torno de regras e ingestão de drogas
lícitas e ou ilícitas com variante na
ingestão excessiva de alimentos com aspectos
de bulimia.
Os sintomas, talvez, um ou outro já
existentes nos sujeitos, possivelmente
aumentaram nesse momento da pandemia ou
mesmo vieram à tona, exatamente pela
angústia de não saber, ou não poderdominar
as consequências do vírus C.19 na saúde
humana. Incluímos ainda, um outro aspecto a
partir da nossa observação, que é a negação
da pandemia, ou seja, a convicção do sujeito
de que nada o atingirá, abdicando de se
antecipar e exercer os cuidados necessários
frente ao presente momento e à dura
realidade.
Um fator marcante e muito especial é
estar gestante e exercer com seus pares a
parentalidade (Teperman 2020), especialmente
nesse período de pandemia (distanciamento,
álcool em gel, máscara e etc.). O
desconhecimento da ciência em abranger a
letalidade do vírus em cada sujeito, acentua
o risco a gestação, somados aos riscos
implícitos à mesma. Não é possível tratar
uma gestante com C.19, sem que isso envolva
uma total limitação, complicações maiores e
desconhecidas, finalizando em graves
consequências.
Quando se trata da primeira gestação, é
muito comum estar presente o processo de
negação. Conforme relatado, as gestantes se
sentem suspensas, desprotegidas diante da
vida e declaram: “como se a vida tivesse
parado diante de mim” (SIC). Relatam ainda,
que se sentem solitárias e carentes de
conviver e circular com as pessoas “está
pegando muito não poder encontrar os amigos
e familiares”, e “nem mesmo poder contar com
ajuda junto do bebê” (SIC).
Embora
esses sintomas sejam comuns a qualquer
pessoa, atualmente, as gestantes os vivem de
uma forma mais real, além de ameaçadora na
medida em que se “culpam”, por uma gestação,
que resulte em risco para si e para seu bebê.
Teperman (2020), diz que essa culpa imputada
à mãe é historicamente construída e não
reflete os limites e nem o alcance da
relação um a um (mãe e bebê), que se dão nos
laços sociais de geração a geração.
É importante observar também,que na maior
parte dos casos a presença do parceiro,
marido, familiares, ou profissionais da
saúde, é reconhecida pela gestante como
essencial e ameniza a angústia gerada nesse
período. Vivem, porém, com intensidade
alterações de sono e vigília, alterações de
apetite e alterações no comportamento e na
impulsividade. As gestantes relatam ainda, a
força opressora da rotina que envolve a
gestação e puerpério, nos cuidados com bebê
sem poder contar, ou mesmo, contando com
pouca ajuda dos familiares. “Sinto-me
isolada dentro do isolamento da pandemia”
(SIC). Com relação a questão hipocondríaca
citada por Birman (2021), as gestantes
trazem também intensificados esses sintomas,
quando associam com qualquer alteração
física ou fisiológica a presença do vírus da
C.19, antes mesmo de entender, que pode se
tratar de sintoma ligado as alterações
típicas da gestação.
Os grupos de escuta com
trabalho de apoio à gestação, suspensos
nesse momento é uma oportunidade, para a
gestante junto à outras gestantes, de serem
acolhidas por uma equipe multidisciplinar,
para que possam atualizar o que acontece
consigo e com as outras gestantes com a
finalidade de se organizarem psiquicamente,
em busca deformar uma rede de apoio em seus
laços sociais que favoreçam a sua gestação e
puerpério.
A partir dessas constatações e implicações
faz-se necessário, de forma urgente, o
atendimento e suporte a gestante/puérpera e
seus familiares, com prioridade para as
situações de riscos: orgânicos, psíquicos
esociais, envolvidos em cada gestação.
Em
benefício dessa demanda represada pelas
restrições impostas pela pandemia e para que
essa aproximação da gestante e seu contexto
seja um meio de fortalece-la nos seus laços,
é que lançamos esse trabalho de prevenção
aos sintomas já citados, para que cedam
lugar a uma perspectiva mais humanizante no
processo de gestar e ter filhos. É preciso
ainda considerar que o atendimento on-line
pode ser um instrumento que permite o
acolhimento das gestantes/puérperas e que se
destina a suprir a lacuna gerada
temporariamente pela pandemia na execução
desse serviço, sem prescindir dos grupos
presenciais assim que seja possível.
Ainda
para finalizar coloco a questão: Porquê da
Psicanálise nesse lugar. Para Teperman
(2020) “o psicanalista se empresta enquanto
integrante do conjunto, que pressupõe a
parentalidade e aí oferece o seu saber sobre
o exercício das funções parentais de caráter
estrutural para entender a constituição do
sujeito na família para além do universo
pai-mãe-bebê. E em sua exterioridade produz
aberturas onde o conhecimento
instrumentalizante produza menos ingerências
danosas a criação das crianças”.
A importância da Sociopsicomotricidade
Ramain-Thiers nesse processo é
instrumentalizar e fortalecer o trabalho de
grupo, ampliando o entendimento de si, do
outro e das relações familiares.
REFERÊNCIAS
MALDONADO, Maria Tereza. Nós estamos
grávidos. Rio de Janeiro: Bloch, 1983.
MALDONADO, Maria Teresa. Psicologia da
gravidez, parto e puerpério. Petrópolis:
Vozes, 1988.
NASIO,
Joel. O trauma na pandemia do Corona vírus:
suas dimensões políticas, sociais,
econômicas, ecológicas, culturais, éticas e
científicas. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2020.
|