Literatura
Foco sobre a resistência à Decisão
por: Irvin D. Yalom
Por que as decisões são difíceis? No romance Grendl, de John
Gardner, o protagonista, confuso com os
mistérios da vida, consulta um sacerdote
sábio que profere duas frases curtas e
simples, aterrorizantes: “Tudo passa, e as
alternativas são excludentes”.
“As alternativas são excludentes” – esse conceito situa-se no coração
de muitas dificuldades decisórias. Para cada
“sim”, deve haver um “não”. As decisões são
caras porque exigem renúncia. Esse fenômeno
atraiu grandes mentes em todas as épocas.
Aristóteles imaginou um cachorro faminto
incapaz de escolher entre duas porções de
comida, igualmente atraentes e os
escolásticos medievais escreveram sobre o
asno de Burridan, que morreu de fome entre
dois fardos de feno com cheiros igualmente
de doces.
[...], descrevi a morte como uma experiência-limite capaz de mover um
indivíduo de um estado de espírito cotidiano
para um estado ontológico (um estado de ser
no qual estamos cientes de ser), em que uma
mudança é mais possível. A decisão é outra
experiência-limite. Ela não apenas nos
confronta com até que ponto criamos a nós
mesmos, mas também com os limites das
possibilidades. Tomar uma decisão nos tira
as demais possibilidades. Escolher uma
mulher, ou uma carreira, ou uma escola,
significa abrir mão das possibilidades dos
demais. Quantos mais encaramos nossos
limites, mais temos de renunciar ao nosso
mito de qualidade especial pessoal,
potencial ilimitado, imortalidade e
imunidade antes as leis do destino biológico.
É por esses motivos que Heidegger referiu-se
à morte como a impossibilidade de
possibilidade adicional. O caminho para
a decisão pode ser difícil porque leva o
território tanto da finitude quanto da
infundamentabilidade – domínios mergulhados
em angústia: Tudo passa, e as
alternativas são excludentes.
REFERÊNCIAS
YALOM, Irvin D. Os desafios da terapia.
Trad. Vera de Paula Assis. Rio de janeiro:
Ediouro, 2006. Cap. 49. |