SOBRE OS FELIZES
Socorro Acioli
Colaboração de:
Sandra Regina Ribeiro Sapia
Existem pessoas admiráveis
andando em passos firmes sobre a face da
terra. Grandes homens, grandes mulheres,
sujeitos exemplares que superam toda
desesperança. Tenho a sorte de conhecer
vários deles, de ter muitos amigos e costumo
observar as ações com delicada atenção.
Tento compreender como conseguem levar a
vida de maneira tão superior à maioria,
busco onde está o mistério, tento ler seus
gestos e aprendo muito com eles.
De tanto observar, consegui
descobrir alguns pontos em comum entre todos
e o que mais me impressiona é que são
felizes. A felicidade, essa meta por vezes
impossível, é parte deles, está intrínseco.
Vivem um dia após o outro desfrutando de uma
alegria genuína, leve, discreta, plantada na
alma como uma árvore de raízes que força
nenhuma consegue arrancar.
Dos felizes que conheço, nenhum
leva uma vida perfeita. Não são famosos.
Nenhum é milionário, alguns vivem com muito
pouco, inclusive. Nenhum tem saúde impecável,
ou uma família sem problemas. Todos
enfrentam e enfrentaram dissabores de várias
ordens. Mas continuam discretamente felizes.
O primeiro hábito que eles têm em
comum é a generosidade. Mais que isso: eles
têm prazer em ajudar, dividir, doar. Ajudam
com um sorriso imenso no rosto, com desejo
verdadeiro e sentem-se bem o suficiente para
nunca relembrar ou cobrar o que foi feito e
jamais pedir algo em troca.
Os felizes costumam oferecer
ajuda antes que se peça. Ficam inquietos com
a dor do outro, querem colaborar de alguma
maneira. São sensíveis e identificam as
necessidades alheias mesmo antes de receber
qualquer pedido. Os felizes, sobretudo, doam
o próprio tempo, suas horas de vida, às
vezes dividem o que têm, mesmo quando é
muito pouco.
Eu também observo os infelizes e
já fiz a contraprova: eles costumam ser
egoístas. Negam qualquer pequeno favor.
Reagem com irritação ao mínimo pedido.
Quando fazem, não perdem a oportunidade de
relembrar, quase cobram medalhas e passam o
recibo. Não gostam de ter a rotina
perturbada por solicitações dos outros. Se
fazem uma bondade qualquer, calculam o
benefício próprio e seguem assim, infelizes.
Cada vez mais.
O segundo hábito notável dos
felizes é a capacidade de explodir de
alegria com o êxito dos outros. Os felizes
vibram tanto com o sorriso alheio que parece
um contágio. Eles costumam dizer: estou tão
contente como se fosse comigo. Talvez seja
um segredo de felicidade, até porque os
infelizes fazem o contrário. Tratam
rapidamente de encontrar um defeito no
júbilo do outro, ou de ignorar a boa nova
que acabaram de ouvir. E seguem infelizes.
O terceiro hábito dos felizes é
saber aceitar. Principalmente aceitar o
outro, com todas as suas imperfeições. Sabem
ouvir sem julgar. Sabem opinar sem diminuir
e sabem a hora de calar. Sobretudo, sabem
rir do jeito de ser dos seus amigos. Sorrir
é uma forma sublime de dizer: amo você e
todas as suas pequenas loucuras.
Escrevo essa crônica, grata e
emocionada, relembrando o rosto dos homens e
mulheres sublimes que passaram e que estão
na minha vida, entoando seus nomes com a
devoção de quem reza. Ainda não sou um dos
felizes, mas sigo tentando. Sigo buscando
aprender com eles a acender a luz genuína e
perene de alegria na alma.
Sigamos os felizes, pois eles
sabem o caminho... |