SOCIOPSICOMOTRICIDADE RAMAIN-THIERS
Valéria Salles Freire Ferrari.
Pedagoga
O presente trabalho tem
por objetivo relatar o trabalho desenvolvido
com a teoria e a técnica Ramain-Thiers, para
a conclusão da Formação em
Sociopsicomo-tricidade Ramain-Thiers, que
contemplou o programa, as aulas, supervisão
de estágio e os settings terapêuticos,
realizado no período de 1999 a 2002 e
obtenção do Certificado.
O processo de formação de
Sociopsicomotricista Ramain-Thiers foi para
mim, enquanto pessoa e profissional, fator
essencial, uma vez que pude viver a
experiência, transformando o conhecimento,
entendendo como se dá o processo do trabalho
analítico. Com relação ao estágio, pude
experienciar e vivenciar toda a teoria e a
técnica durante a formação, além de ter o
“olhar do terapeuta”, pontuando o “material
”
que o paciente produzia nas sessões.
Conheci o Ramain-Thiers através de um amigo
e achei interessante a maneira como o
emocional do sujeito é trabalhado. Sou
professora de adolescentes e adultos e
observo como as questões emocionais
interferem no sujeito como um todo, ou seja,
em seu comportamento, em suas condutas, em
seu processo de ensino-aprendizagem. É
objetivo da técnica trabalhar o indivíduo de
maneira global: corpo-mente-afetos-social.
Meu estágio foi realizado com uma paciente
adulta, com sessões de um período aproximado
de 02 a 03 horas cada e 02 vezes por semana.
Nas primeiras sessões, aconteceu a
Entrevista ou Anamnese onde se fez um
registro do depoimento da paciente, bem como
a primeira interação Paciente e Terapeuta,
com o objetivo de mapear as questões
vinculadas às suas necessidades, desejos e
frustrações. Comecei por uma reflexão
registrando a maior quantidade de
informações possíveis: individual, familiar,
social e profissional.
Procurei criar um ambiente de liberdade,
informal, transparente e seguro, destacando
que há dois pilares na nossa vida que, se
compreendidos, nos ajudarão a nos ajustar às
constantes mutações emocionais e que este
seria uma oportunidade importante com as
sessões terapêuticas que adviriam.
O primeiro pilar se refere à transitoriedade,
lembra que tudo na vida é um processo, um
eterno fluir, que não se pode aceitar
atitudes definitivas ou intocáveis.
Já o segundo, se refere ao equilíbrio que é
o nome do jogo social, ou a arte para
ajustar o homem à natureza.
Depois aconteceu a aplicação do desenho
livre, principalmente da família. O desenho
permite ao sujeito uma via de comunicação
direta com o mundo. É através do desenho da
figura humana que o sócio terapeuta pode
melhor acompanhar a formação de espaço e
organização do esquema corporal e
estruturação psíquica do indivíduo e sua
relação com o mundo, através do corpo como
mediador.
É importante lembrar que as sessões eram
iniciadas com o momento da Atividade
Corporal, que era realizada através do uso
de diversos materiais, como música, bolas,
fitas, bambolê, exercícios respiratórios,
etc.
Nas demais sessões, foi iniciado o trabalho
com o Orientador Terapêutico para Adultos
“E”, que teve como primeira sessão a
proposta de Caleidoscópio, que em nível das
questões básicas, vai mobilizar a atenção,
seleção, abstração. No plano psicomotor,
desenvolve percepção visual, a criatividade.
No plano emocional, suscita questões
parentais como a renúncia e a vivência do
luto e outros que surjam.
Paciente relata o seu conflito com a mãe.
Desde os 14 anos, passou a morar com avó.
Fala de um medo, principalmente em não ser
aceita pelas pessoas.
Uma outra proposta do Orientador aplicada
foi O Gogó da Ema, do conjunto E-06, desenho
E 1000/3.
Lembrando que o conjunto Recorte no viés
psicomotor mobiliza a orientação espacial.
Já no sentido emocional, favorece a retorno
das questões vinculadas à fase fálica, como
por exemplo, a revivência da angústia de
castração, questões de separação que
acontecem com a saída do bebê do útero na
relação mãe e filho. Esse conjunto traz à
tona também pulsões de morte.
Em relação à realização da proposta, a
paciente reclamou da dificuldade na execução
da mesma. Continuou a verbalizar sobre sua
relação conflituosa com a mãe. Chorou muito
na sessão.
No decorrer das sessões seguintes, a
paciente falava em uma segurança, que já era
sentida por ela. Já sabia que não tinha que
fazer algo para agradar os outros. Já
associava o recortar às dificuldades do dia
a dia, as subidas, as descidas, os erros, ou
seja, enfrentando a vida. Nesse momento foi
dito a ela, que tudo na vida gira de maneira
circular.
Uma outra proposta trabalhada foi “A árvore
decorada”. A paciente ao final do trabalho
disse que essa árvore representava ela mesma
e o excelente momento que está atravessando.
Era perceptível seu crescimento.
Ao longo desse trabalho de estágio, posso
falar em mudança de atitude, de
transformação e fortalecimento do caráter
desse ser humano, que criava vínculos muito
profundos em relação ao outro.
O caminho da maturidade e da mudança de
atitude é sofrido, mas ao mesmo tempo, sem
medida, enriquecedor.
Como Sociopsicomotricista Ramain-Thiers
acredito na força desse trabalho terapêutico,
através de um novo olhar, um investimento,
primeiro sobre mim, enquanto profissional,
depois em meu paciente, que também acreditou
e investiu no trabalho.
Dessa experiência, com relação ao papel de
terapeuta, tenho a convicção de ter tido a
compreensão e a oportunidade do aprendizado
pessoal, o domínio da técnica Ramain-Thiers,
o afetivo e o emocional trabalhados.
Participei diretamente da formação,
crescimento e amadurecimento da minha
paciente.
Aproveito o momento para destacar a
importante contribuição que a paciente tem
nesse estágio, sem a qual seria impossível
realizar esse relatório de estágio.
REFERÊNCIAS
DECHERF, G.
Édipo em grupo: psicanálise e grupos de
crianças. Trad. REIS, C. E. Porto Alegre:
Artes Médicas,1986.
MARCELLI, D. e BRACONNIER, A. Manual de
psicopatologia do adolescente. Trad. FILMAN,
A. E. Porto Alegre: Artes Médicas. São
Paulo: Masson, 1989.
OSÓRIO, L. C. Grupoterapia hoje. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1986.
THIERS, S. Sociopsicomotricidade
Ramain-Thiers: uma leitura emocional,
corporal e social. 2ª ed. rev. e atual. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
THIERS, S. Orientadores Terapêuticos: CR.
AD. E. Rio de Janeiro: Cesir – Núcleo
Ramain-Thiers, 1997. |