Vol. XII: Vitrais 88 - dez 2018

A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers - ISSN 2317-0719

 

 

VITRAIS
Vol. XII: Vitrais 88

                        dez 2018

 

Editorial

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Artigos

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Artigo 1

Sociopsico-motricidade Ramain-Thiers

por

Valéria Salles Freire Ferrari

 

 

SOCIOPSICOMOTRICIDADE RAMAIN-THIERS

Valéria Salles Freire Ferrari.

                            Pedagoga


O presente trabalho tem por objetivo relatar o trabalho desenvolvido com a teoria e a técnica Ramain-Thiers, para a conclusão da Formação em Sociopsicomo-tricidade Ramain-Thiers, que contemplou o programa, as aulas, supervisão de estágio e os settings terapêuticos, realizado no período de 1999 a 2002 e obtenção do Certificado.

O processo de formação de Sociopsicomotricista Ramain-Thiers foi para mim, enquanto pessoa e profissional, fator essencial, uma vez que pude viver a experiência, transformando o conhecimento, entendendo como se dá o processo do trabalho analítico. Com relação ao estágio, pude experienciar e vivenciar toda a teoria e a técnica durante a formação, além de ter o “olhar do terapeuta”, pontuando o “material ”
que o paciente produzia nas sessões.

Conheci o Ramain-Thiers através de um amigo e achei interessante a maneira como o emocional do sujeito é trabalhado. Sou professora de adolescentes e adultos e observo como as questões emocionais interferem no sujeito como um todo, ou seja, em seu comportamento, em suas condutas, em seu processo de ensino-aprendizagem. É objetivo da técnica trabalhar o indivíduo de maneira global: corpo-mente-afetos-social.

Meu estágio foi realizado com uma paciente adulta, com sessões de um período aproximado de 02 a 03 horas cada e 02 vezes por semana.

Nas primeiras sessões, aconteceu a Entrevista ou Anamnese onde se fez um registro do depoimento da paciente, bem como a primeira interação Paciente e Terapeuta, com o objetivo de mapear as questões vinculadas às suas necessidades, desejos e frustrações. Comecei por uma reflexão registrando a maior quantidade de informações possíveis: individual, familiar, social e profissional.

Procurei criar um ambiente de liberdade, informal, transparente e seguro, destacando que há dois pilares na nossa vida que, se compreendidos, nos ajudarão a nos ajustar às constantes mutações emocionais e que este seria uma oportunidade importante com as sessões terapêuticas que adviriam.

O primeiro pilar se refere à transitoriedade, lembra que tudo na vida é um processo, um eterno fluir, que não se pode aceitar atitudes definitivas ou intocáveis.

Já o segundo, se refere ao equilíbrio que é o nome do jogo social, ou a arte para ajustar o homem à natureza.
Depois aconteceu a aplicação do desenho livre, principalmente da família. O desenho permite ao sujeito uma via de comunicação direta com o mundo. É através do desenho da figura humana que o sócio terapeuta pode melhor acompanhar a formação de espaço e organização do esquema corporal e estruturação psíquica do indivíduo e sua relação com o mundo, através do corpo como mediador.

É importante lembrar que as sessões eram iniciadas com o momento da Atividade Corporal, que era realizada através do uso de diversos materiais, como música, bolas, fitas, bambolê, exercícios respiratórios, etc.

Nas demais sessões, foi iniciado o trabalho com o Orientador Terapêutico para Adultos “E”, que teve como primeira sessão a proposta de Caleidoscópio, que em nível das questões básicas, vai mobilizar a atenção, seleção, abstração. No plano psicomotor, desenvolve percepção visual, a criatividade.

No plano emocional, suscita questões parentais como a renúncia e a vivência do luto e outros que surjam.

Paciente relata o seu conflito com a mãe. Desde os 14 anos, passou a morar com avó. Fala de um medo, principalmente em não ser aceita pelas pessoas.

Uma outra proposta do Orientador aplicada foi O Gogó da Ema, do conjunto E-06, desenho E 1000/3.

Lembrando que o conjunto Recorte no viés psicomotor mobiliza a orientação espacial. Já no sentido emocional, favorece a retorno das questões vinculadas à fase fálica, como por exemplo, a revivência da angústia de castração, questões de separação que acontecem com a saída do bebê do útero na relação mãe e filho. Esse conjunto traz à tona também pulsões de morte.

Em relação à realização da proposta, a paciente reclamou da dificuldade na execução da mesma. Continuou a verbalizar sobre sua relação conflituosa com a mãe. Chorou muito na sessão.

No decorrer das sessões seguintes, a paciente falava em uma segurança, que já era sentida por ela. Já sabia que não tinha que fazer algo para agradar os outros. Já associava o recortar às dificuldades do dia a dia, as subidas, as descidas, os erros, ou seja, enfrentando a vida. Nesse momento foi dito a ela, que tudo na vida gira de maneira circular.

Uma outra proposta trabalhada foi “A árvore decorada”. A paciente ao final do trabalho disse que essa árvore representava ela mesma e o excelente momento que está atravessando. Era perceptível seu crescimento.

Ao longo desse trabalho de estágio, posso falar em mudança de atitude, de transformação e fortalecimento do caráter desse ser humano, que criava vínculos muito profundos em relação ao outro.

O caminho da maturidade e da mudança de atitude é sofrido, mas ao mesmo tempo, sem medida, enriquecedor.

Como Sociopsicomotricista Ramain-Thiers acredito na força desse trabalho terapêutico, através de um novo olhar, um investimento, primeiro sobre mim, enquanto profissional, depois em meu paciente, que também acreditou e investiu no trabalho.

Dessa experiência, com relação ao papel de terapeuta, tenho a convicção de ter tido a compreensão e a oportunidade do aprendizado pessoal, o domínio da técnica Ramain-Thiers, o afetivo e o emocional trabalhados. Participei diretamente da formação, crescimento e amadurecimento da minha paciente.

Aproveito o momento para destacar a importante contribuição que a paciente tem nesse estágio, sem a qual seria impossível realizar esse relatório de estági
o.


REFERÊNCIAS

DECHERF, G. Édipo em grupo: psicanálise e grupos de crianças. Trad. REIS, C. E. Porto Alegre: Artes Médicas,1986.

MARCELLI, D. e BRACONNIER, A. Manual de psicopatologia do adolescente. Trad. FILMAN, A. E. Porto Alegre: Artes Médicas. São Paulo: Masson, 1989.

OSÓRIO, L. C. Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

THIERS, S. Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers: uma leitura emocional, corporal e social. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

THIERS, S. Orientadores Terapêuticos: CR. AD. E. Rio de Janeiro: Cesir – Núcleo Ramain-Thiers, 1997.

COLEÇÃO
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Volume I
Ramain-Thiers: a vida, os contornos
A re-significação para o re (nascer)
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Volume II
A potencialidade de cada um:
Do complexo de édipo a terapia de casais
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Volume III
A dimensão afetiva do corpo:
Uma leitura em Ramain-Thiers

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Volume IV
As interfaces de Ramain-Thiers

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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