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Artigo 1
A Minha Rosa
Solange
Thiers |
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A
MINHA ROSA
Solange
Thiers
“Foi o
tempo que perdeste com a tua rosa o que fez tua rosa ser tão
importante assim ...”
Saint Exupery
A tua rosa...
o que pode ser a rosa de cada um? Sinto que o simbólico da rosa
é algo muito precioso, algo que mobilizou amor, dedicação,
paciência na espera do tempo de florescer.
Como o
jardineiro que cuida da delicada flor, nós somos jardineiros da
vida: escolhemos o local do plantio com características próprias
para a rosa florescer: muita claridade, terra preta, fértil,
adubada, sol para garantir o colorido das pétalas, umidade
adequada. E depois... o enxerto... o transplante... cuidados de
quem sabe e quem ama o que faz. Pouco a pouco o botão se
transforma naquela que é lembrada como referência de Beleza e
Amor.
A nossa rosa
sempre faz com que usemos o tempo como aliado de luta, dedicação.
E por quê
Exupery escolhe a rosa como exemplo? A rosa seria apenas uma
flor entre tantas como o cravo, a margarida, a dália, a orquídea,
mas Exupery escolhe; escolhe porque sabe discriminar.
É redundante
reafirmar que a escolha só é possível porque já houve
discriminação.
O
Ramain-Thiers é a minha rosa!!!
Durante
muito tempo, desde 1992, quando apresentado ao mundo científico
venho percebendo a dificuldade das pessoas assumirem a
designação correta: Ramain-Thiers. Ouço-as dizendo “O
Ramain isto...” “O Ramain aquilo” “Depois que fiz Ramain”
“Faço a formação Ramain”.
Vivi vários
e diferentes momentos emocionais em relação ao fato, cuidando de
não contratransferenciar, mas procurando por o limite necessário.
E aos poucos
deixei-me acompanhar o movimento e é a minha conclusão que
apresento neste artigo.
Sendo único
na sua singularidade de fazer a leitura emocional do ato
psicomotor, Ramain-Thiers é mais Thiers que Ramain. Sem negar em
nenhum momento a gratidão que sinto por Simonne, usei a
designação Ramain como homenagem à quem me confiou a sua obra.
Ramain-Thiers não é Ramain, é preciso discriminar para ser fiel
às origens.
Ramain-Thiers tem material próprio, usa de leitura psicanalítica,
trabalha corporalmente reconstruindo a maternagem, promovendo o
limite, favorecendo a reedição edipiana em busca da identidade.
E com todo o meu respeito afirmo que Ramain trabalha só a
psicocinética.
E afinal o
que os dois tem em comum?
Algo não
verbal, sutil, introjetado por mim, sentido, vivido, projetado
na criação... concretamente os lápis coloridos, papéis
quadriculados, materiais comuns de toda a Psicomotricidade.
Entretanto mais do que apresentar diferenças pude elaborar e
concluir que as diferenças são muitas, mas aceitas as diferenças
é difícil porque não é uma questão cognitiva, é uma questão
emocional de não discriminação. Percebo também que não
diferenciar Ramain-Thiers de Ramain é o não poder separar-se do
outro, funciona como projeção do seu próprio processo emocional
de não poder aprofundar-se na própria ferida narcísica.
O que parece
não ter importância para alguns é uma questão séria que envolve
Ética, Legalidade, Justiça, Honestidade. É preciso reflexão ...
sobre o transgredir... Não desisto de reivindicar meus direitos,
mas tenho a certeza que só discrimina quem amadureceu
psiquicamente para perceber diferenças e retomando à questões do
desenvolvimento encontramos a diferença básica que é a anatomia
dos sexos. Como atingir a genitalidade sem discriminar?
“Foi o
tempo que perdeste com a tua rosa o que fez tua rosa ser tão
importante assim ...”
que frase
sábia a de Exupery. Espero que o tempo presente que se move como
uma sombra separando o tempo passado do tempo futuro seja um
marco de esperança, isto leva-me a escrever este artigo.
Calar-me...
Aceitar... Não posso. Não seria coerente comigo ser permissiva.
O tempo que
perdi com minha rosa - Ramain-Thiers - dá-me este direito:
o de reivindicar ética e respeito profissional ao meu trabalho.
Continuemos
jardineiros zelosos na vida!
Solange
Thiers
nov/96