Não há caráter humano mais desprezível do
que o débil sentimentalista e sonhador, que
passa a vida num mar encapelado de
sensibilidade e emoção, mas que nunca
executa uma valorosa ação concreta.
Não são apenas as linhas particulares
de descarga, mas também suas formas
gerais que são entalhadas no cérebro a
partir do hábito. Por exemplo, se deixarmos
nossas emoções se evaporarem, elas se
acostumam a evaporar; assim, há razões para
supor que se nos esquivarmos com frequência
de fazer um dado esforço, antes que o
percebamos a capacidade de fazer esse
esforço terá desaparecido. E se nos
sujeitarmos a deixar vaguear a atenção, ela
ficará dispersa o tempo todo. Atenção e
esforço são... apenas dois nomes para o
mesmo fato psíquico. A que que processos
cerebrais correspondem, não sabemos. A razão
mais forte para crer que dependem, de alguma
forma, dos processos cerebrais, e não são
meros atos do espírito, é apenas esse fato –
em certo grau, parecem sujeitos à lei do
hábito, que é uma lei material. Uma máxima
prática conclusiva, relativa aos hábitos da
vontade, que podemos então aqui oferecer
seria: mantenha viva a faculdade do
esforço através de algum exercício gratuito,
todos os dias. Isso é, seja
sistematicamente ascético ou heroico em
pequenos aspectos irrelevantes; cada dia, ou
em dias alternados, faça algo pelo simples
motivo de que você preferiria não o
fazer. Assim, quando se aproximarem épocas
de tenebrosas exigências, você não será
surpreendido, fragilizadoou destreinadopara
enfrentar aprova. Esse tipo de ascetismo é
como um seguro que se paga pela casa e pelos
bens. Não é bom pagar a mensalidade, que
talvez nunca lhe dê retorno algum. Mas se o
incêndio realmente ocorrer, aqueles
pequenos esforços o salvarão da ruína. O
mesmo acontece com quem se disciplina
diariamente com hábitos de atenção
concentrada, vontade enérgica e autonegação
de coisas desnecessárias. Permanece firme
como uma torre, enquanto todo o resto se
abala, e seus companheiros mortais mais
frágeis voam como farelos na ventania.
Referências
BENNETT, William J. O livro das virtudes
II: o compasso moral: uma antologia de
William J. Bennett. Trad. SILVEIRA,
Ricardo. ANDRADE, Angela Lobo de. Seleção de
texto brasileiros MACHADO, Ana Maria.15º
impressão. RJ: Nova Fronteira, 1996. P.226.
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