Tem gente que tem cheiro das estrelas que
Deus acendeu no céu e daquelas que
conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é
possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um
lugar feito de alegria. Recebendo um buquê
de carinhos. Abraçando um filhote de urso
panda. Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque
suave que sua presença sopra no nosso
coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem
pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a
sensualidade é um perfume que vem de dentro
e que a atração que realmente nos move não
passa só pelo corpo. Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no
instante em que rimos Deus está dançando
conosco de rostinho colado. E a gente ri
grande que nem menino arteiro.
Costumo dizer que algumas almas são
perfumadas, porque acredito que os
sentimentos também têm cheiro e tocam todas
as coisas com os seus dedos de energia.
Minha avó era alguém assim. Ela perfumou
muitas vidas com sua luz e suas cores. A
minha, foi uma delas. E o perfume era tão
gostoso, tão branco, tão delicado, que ela
mudou de frasco, mas ele continua vivo no
coração de tudo o que ela amou.
E tudo o que eu amar vai encontrar, de
alguma forma, os vestígios desse perfume de
Deus, que, numa temporada, se vestiu de
Edith, para me falar de amor.
Colaboração: Virgínia Chamusca
Nota: A autoria do texto é muitas vezes
atribuída erroneamente a Carlos Drummond de
Andrade.
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