Vol. IX: Vitrais 81 - out 2016
A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers - ISSN 2317-0719
 
     
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VITRAIS
Vol. IX: Vitrais 81

                        out 2016

 

Editorial

Notícias

Literatura

James C. Hunter


Artigos

Angela Adriana Bandeira

Neuza Soares Caramori

 

Reflexão

Rudolf Steiner

Elisabete Coimbra Cerqueira

 


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Literatura

 

 

Compromisso

 

James C. Hunter

 

 

COMPROMISSO

 

Há uma grande diferença entre

estar envolvido e comprometer-se com algo.

Da próxima vez que estiver comendo bacon com ovos,

Pense nisto: a galinha se envolveu,

Mas o porco comprometeu-se com o prato.

                                                                       UM FAZENDEIRO SÁBIO

 

SIMEÃO OLHOU PARA A TREINADORA E, captando a deixa, Chris ofereceu sua segunda contribuição:

- Em meus muitos anos no ensino superior e no cargo de treinadora, trabalhei com alguns líderes excepcionais. E, acreditem, tive minha quota de líderes pavorosos. Para mim, uma qualidade que se destacou nos grandes líderes foi que eles eram pessoas com muito senso de compromisso.

           Simeão foi direto para o quadro:

           Liderança = Compromisso

           Mas o professor queria mais:

- Chris, continue, por favor, e seja mais clara que puder. Creio que, o que você está apontando é crucial para a liderança.

Fiquei encantado com a capacidade de Simeão de tirar o melhor das pessoas.

Dois anos antes, ele havia comentado comigo que nós todos, juntos, éramos mais inteligentes do que qualquer um de nós separadamente. Observá-lo em ação provou que ele de fato acreditava nisso.

Ou seja, ali estava um verdadeiro astro dos executivos da sua geração, que recebi um salário anual de mais um milhão de dólares, o que era considerado um escândalo na sua época. No entanto, depois da morte de sua mulher, ele abandonara tudo para viver nesse mosteiro. Era dotado de uma humildade verdadeira, e de um espírito curioso e receptivo ao ensino que era contagiante, e criava em cada um de nós o desejo de contribuir, cavar mais fundo e crescer com ele.

A treinadora piscou para Simeão e disse:

- Achei que iria pedir isso, e por isso pensei um pouco no assunto, para poder ser mais explícita. Os grandes líderes que conheci eram totalmente comprometidos com duas coisas específicas: aprimoramento contínuo e excelência. Demonstravam esse compromisso através de sua própria excelência e de sua disposição permanente de mudar, crescer e se aprimorar. Com seu exemplo, inspirávamos outros a crescer e a dar o melhor de si à equipe e à missão.

- Grande colocação, Chris – disse a diretora – penso que todos concordam que o aprimoramento contínuo é importante, mas o problema é que não podemos nos aprimorar se não mudarmos.

Concordei:

- Mas mudar é difícil – lamentou-se a enfermeira. – Vamos ser francos: afora um bebê com a fralda molhada, quem gosta de trocar alguma coisa?

O sargento riu.

- Meu avô era agricultor e costumava nos dizer que ou a pessoa estava verde e crescendo, ou madura e apodrecendo. É preciso escolher, porque nenhum ser vivo permanece o mesmo. Ainda que você pense que é igual ao que era há um ano, a vida passa numa velocidade tão grande que, se não crescermos, andamos para trás.

Simeão assentiu com a cabeça e disse:

- Sim, estou convencido de que os grandes líderes compreendem que o compromisso com o aprimoramento contínuo e com o crescimento é essencial para as pessoas saudáveis que irão compor organizações saudáveis.

A enfermeira nos instigou a prosseguir:

- Certo. É muito claro que não podemos nos aprimorar, a menos que mudemos. Também é verdade que nem toda mudança é progresso, como é igualmente verdadeiro que não pode haver progresso sem mudança. Portanto, a questão não é mudar por mudar. Chris disse que havia dois lados nessa moeda do compromisso. Aprimoramento contínuo e excelência.

- É isso aí. Obrigada, Kim! – exclamou a treinadora. – O meu treinador favorito de todos os tempos é Vince Lombardi, que dizia com frequência a seus times:

“Senhores, vamos buscar a perfeição, e vamos buscá-la de forma incessante, sempre sabendo que jamais poderemos atingi-la. No caminho, porém, alcançaremos a excelência. ”

Simeão gostou e completou:

- Essa questão de excelência é crucial meus amigos. Minha experiência mostrou-me que estar perto da excelência inspira e motiva pessoas! Levei anos no mundo empresarial para perceber que a melhor maneira de o líder destruir o moral de qualquer grupo de pessoas é tolerar mediocridade.

- Estou absolutamente de acordo, Simeão – declarou o sargento. – Creio que a vasta maioria das pessoas quer fazer parte de algo especial, algo excelente. Quem é que acorda de manhã querendo levar uma vida medíocre? Porque a vida não é um ensaio geral. É o que acontece e o que fazemos a cada dia.

A professora estava rindo, enquanto pegava o celular.

- Deixem-me ler uma coisa para vocês, se eu conseguir achá-la.

Ela teve de fuçar um pouco em seus arquivos até encontrar: - Um sábio general da Segunda Guerra observou: “O Moral elevado sempre existirá, enquanto o soldado achar que seu exército é o melhor do mundo, seu regimento o melhor do exército, sua companhia a melhor do regimento, seu pelotão, o melhor da companhia, e que ele próprio é o melhor soldado nisso tudo. ”  Vocês não adoraram isso?

- Sim – afirmou o sargento. – Outro general comentou que não existem pelotões fracos, apenas líderes fracos. Descobri que isso também é verdade.

O professor mostrou-se entusiasmado:

- Deixem-me repetir: a mediocridade destrói o moral! Não pensem que estão fazendo nenhum favor a alguém se aceitarem um desempenho medíocre de um membro da equipe.

- Exatamente, Simeão – concordou o sargento. –Quando toleramos a mediocridade, quando deixamos de exigir a excelência, as únicas pessoas a quem servimos somos nós mesmos. Evitamos a chateação e o esforço necessários para liderar.

 A treinadora acrescentou:

- Algum de vocês já teve um filho participando de uma equipe acadêmica ou um time esportivo, num campeonato estadual? Já teve de brigar com ele para que fosse aos treinos ou aos eventos? É claro que não, porque ele queria estar lá! Não queria perder nada. A excelência é motivadora por si só.

- É! – Exclamou a enfermeira, quase se levantando da cadeira outra vez. – Quando as pessoas fazem parte de alguma coisa realmente excelente, elas ficam inspiradas, querem contribuir, vasculhar mais fundo, e nunca pensariam em decepcionar sua equipe. Agora eu entendo! A excelência inspira e motiva as pessoas a serem as melhores possíveis.

- Isso mesmo, Kim – anuiu o sargento. – E a mediocridade, ao invés disso, promove a apatia e derruba o moral da equipe.

Teresa, nossa máquina de citações saiu-se com esta:

- Há dois mil e trezentos anos, Aristóteles disse aos seus seguidores: “A excelência é um hábito. ” Hoje, vocês estão me lembrando quão verdadeira é essa afirmação. E também reconheço a mediocridade como um mau hábito que os líderes devem evitar.

A enfermeira continuava empolgada:

- Agora que estou pensando nisso, creio que, como líderes, temos a obrigação moral de pressionar a equipe a aprimorar-se continuamente em buscada excelência. Não foi isso que nos comprometemos a fazer, não é para isso que nossa organização nos paga? A maioria das pessoas cresce ou se acomoda conforme as expectativas do líder. Quando as expectativas são baixas, as pessoas reagem de acordo com isso. Caso contrário, não navegam.

- Simeão observou:

- Eu gostaria de somar a essa discussão sobre a excelência a importância de execução, porque compromisso exige que eu leve as coisas à sua conclusão. No entanto, muitos líderes pulam deum projeto para outro, sem assumirem o firme compromisso de levar as coisas até i fim.

- Apoiado – resmungou a enfermeira. – No hospital em que trabalho, a cada dois meses a direção toma uma nova iniciativa e contrata mais um consultor metido a besta. A maioria dessas ideias temporariamente populares tem algum valor, mas nunca ficamos com uma delas por tempo suficiente para ver sua conclusão. Parece que nunca tingimos a excelência em coisas alguma.

O professor fez as observações finais:

- Temos um compromisso ou estamos apenas envolvidos? Estamos comprometidos com a excelência e o aprimoramento contínuo, ou isso são apenas palavras sem conteúdo que repetimos? Podem ter certeza disto: são nosso aosatos cotidianos que deixam transparecer para todos aqueles que lideramos aquilo que acreditamos de verdade.

Enquanto eu refletia sobre a sabedoria dessas palavras, ouvi um grunhido, vindo do canto da sala em que o pastor estava assentado. Então me dei conta de que fazia algum tempo que ele não dizia uma palavra, e olhei de relance para o lugar da sua cadeira. Ela estava virada para a janela, e Lee olhava para fora, com o ar entediado e irritado.

Resmunguei uma rápida oração, pedindo forças para não lhe dar uns tabefes, ou coisa pior, antes que o fim de semana acabasse.

 

Referências

HUNTER, James. De volta ao mosteiro: o monge e o executivo falam de liderança e trabalho em equipe. Trad. RIBEIRO, Vera. Rio de Janeiro: Sextante, 2014. P. 98 a 103.

 

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