Literatura
Compromisso
James C.
Hunter
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COMPROMISSO
Há uma
grande diferença entre
estar
envolvido e comprometer-se com algo.
Da próxima
vez que estiver comendo bacon com ovos,
Pense nisto:
a galinha se envolveu,
Mas o porco
comprometeu-se com o prato.
UM FAZENDEIRO SÁBIO
SIMEÃO OLHOU PARA A TREINADORA E, captando a deixa,
Chris ofereceu sua segunda contribuição:
- Em meus muitos anos no ensino superior e no cargo de
treinadora, trabalhei com alguns líderes excepcionais.
E, acreditem, tive minha quota de líderes pavorosos.
Para mim, uma qualidade que se destacou nos grandes
líderes foi que eles eram pessoas com muito senso de
compromisso.
Simeão foi direto para o quadro:
Liderança = Compromisso
Mas o professor queria mais:
- Chris, continue, por favor, e seja mais clara que
puder. Creio que, o que você está apontando é crucial
para a liderança.
Fiquei encantado com a capacidade de Simeão de tirar o
melhor das pessoas.
Dois anos antes, ele havia comentado comigo que nós
todos, juntos, éramos mais inteligentes do que qualquer
um de nós separadamente. Observá-lo em ação provou que
ele de fato acreditava nisso.
Ou seja, ali estava um verdadeiro astro dos executivos
da sua geração, que recebi um salário anual de mais um
milhão de dólares, o que era considerado um escândalo na
sua época. No entanto, depois da morte de sua mulher,
ele abandonara tudo para viver nesse mosteiro. Era
dotado de uma humildade verdadeira, e de um espírito
curioso e receptivo ao ensino que era contagiante, e
criava em cada um de nós o desejo de contribuir, cavar
mais fundo e crescer com ele.
A treinadora piscou para Simeão e disse:
- Achei que iria pedir isso, e por isso pensei um pouco
no assunto, para poder ser mais explícita. Os grandes
líderes que conheci eram totalmente comprometidos com
duas coisas específicas: aprimoramento contínuo e
excelência. Demonstravam esse compromisso através de sua
própria excelência e de sua disposição permanente de
mudar, crescer e se aprimorar. Com seu exemplo,
inspirávamos outros a crescer e a dar o melhor de si à
equipe e à missão.
- Grande colocação, Chris – disse a diretora – penso que
todos concordam que o aprimoramento contínuo é
importante, mas o problema é que não podemos nos
aprimorar se não mudarmos.
Concordei:
- Mas mudar é difícil – lamentou-se a enfermeira. –
Vamos ser francos: afora um bebê com a fralda molhada,
quem gosta de trocar alguma coisa?
O sargento riu.
- Meu avô era agricultor e costumava nos dizer que ou a
pessoa estava verde e crescendo, ou madura e apodrecendo.
É preciso escolher, porque nenhum ser vivo permanece o
mesmo. Ainda que você pense que é igual ao que era há um
ano, a vida passa numa velocidade tão grande que, se não
crescermos, andamos para trás.
Simeão assentiu com a cabeça e disse:
- Sim, estou convencido de que os grandes líderes
compreendem que o compromisso com o aprimoramento
contínuo e com o crescimento é essencial para as pessoas
saudáveis que irão compor organizações saudáveis.
A enfermeira nos instigou a prosseguir:
- Certo. É muito claro que não podemos nos aprimorar, a
menos que mudemos. Também é verdade que nem toda mudança
é progresso, como é igualmente verdadeiro que não pode
haver progresso sem mudança. Portanto, a questão não é
mudar por mudar. Chris disse que havia dois lados nessa
moeda do compromisso. Aprimoramento contínuo e
excelência.
- É isso aí. Obrigada, Kim! – exclamou a treinadora. – O
meu treinador favorito de todos os tempos é Vince
Lombardi, que dizia com frequência a seus times:
“Senhores, vamos buscar a perfeição, e vamos buscá-la de
forma incessante, sempre sabendo que jamais poderemos
atingi-la. No caminho, porém, alcançaremos a excelência.
”
Simeão gostou e completou:
- Essa questão de excelência é crucial meus amigos.
Minha experiência mostrou-me que estar perto da
excelência inspira e motiva pessoas! Levei anos no mundo
empresarial para perceber que a melhor maneira de o
líder destruir o moral de qualquer grupo de pessoas é
tolerar mediocridade.
- Estou absolutamente de acordo, Simeão – declarou o
sargento. – Creio que a vasta maioria das pessoas quer
fazer parte de algo especial, algo excelente. Quem é que
acorda de manhã querendo levar uma vida medíocre? Porque
a vida não é um ensaio geral. É o que acontece e o que
fazemos a cada dia.
A professora estava rindo, enquanto pegava o celular.
- Deixem-me ler uma coisa para vocês, se eu conseguir
achá-la.
Ela teve de fuçar um pouco em seus arquivos até
encontrar: - Um sábio general da Segunda Guerra observou:
“O Moral elevado sempre existirá, enquanto o soldado
achar que seu exército é o melhor do mundo, seu
regimento o melhor do exército, sua companhia a melhor
do regimento, seu pelotão, o melhor da companhia, e que
ele próprio é o melhor soldado nisso tudo. ” Vocês não
adoraram isso?
- Sim – afirmou o sargento. – Outro general comentou que
não existem pelotões fracos, apenas líderes fracos.
Descobri que isso também é verdade.
O professor mostrou-se entusiasmado:
- Deixem-me repetir: a mediocridade destrói o moral! Não
pensem que estão fazendo nenhum favor a alguém se
aceitarem um desempenho medíocre de um membro da equipe.
- Exatamente, Simeão – concordou o sargento. –Quando
toleramos a mediocridade, quando deixamos de exigir a
excelência, as únicas pessoas a quem servimos somos nós
mesmos. Evitamos a chateação e o esforço necessários
para liderar.
A treinadora acrescentou:
- Algum de vocês já teve um filho participando de uma
equipe acadêmica ou um time esportivo, num campeonato
estadual? Já teve de brigar com ele para que fosse aos
treinos ou aos eventos? É claro que não, porque ele
queria estar lá! Não queria perder nada. A excelência é
motivadora por si só.
- É! – Exclamou a enfermeira, quase se levantando da
cadeira outra vez. – Quando as pessoas fazem parte de
alguma coisa realmente excelente, elas ficam inspiradas,
querem contribuir, vasculhar mais fundo, e nunca
pensariam em decepcionar sua equipe. Agora eu entendo! A
excelência inspira e motiva as pessoas a serem as
melhores possíveis.
- Isso mesmo, Kim – anuiu o sargento. – E a mediocridade,
ao invés disso, promove a apatia e derruba o moral da
equipe.
Teresa, nossa máquina de citações saiu-se com esta:
- Há dois mil e trezentos anos, Aristóteles disse aos
seus seguidores: “A excelência é um hábito. ” Hoje,
vocês estão me lembrando quão verdadeira é essa
afirmação. E também reconheço a mediocridade como um mau
hábito que os líderes devem evitar.
A enfermeira continuava empolgada:
- Agora que estou pensando nisso, creio que, como
líderes, temos a obrigação moral de pressionar a equipe
a aprimorar-se continuamente em buscada excelência. Não
foi isso que nos comprometemos a fazer, não é para isso
que nossa organização nos paga? A maioria das pessoas
cresce ou se acomoda conforme as expectativas do líder.
Quando as expectativas são baixas, as pessoas reagem de
acordo com isso. Caso contrário, não navegam.
- Simeão observou:
- Eu gostaria de somar a essa discussão sobre a
excelência a importância de execução, porque compromisso
exige que eu leve as coisas à sua conclusão. No entanto,
muitos líderes pulam deum projeto para outro, sem
assumirem o firme compromisso de levar as coisas até i
fim.
- Apoiado – resmungou a enfermeira. – No hospital em que
trabalho, a cada dois meses a direção toma uma nova
iniciativa e contrata mais um consultor metido a besta.
A maioria dessas ideias temporariamente populares tem
algum valor, mas nunca ficamos com uma delas por tempo
suficiente para ver sua conclusão. Parece que nunca
tingimos a excelência em coisas alguma.
O professor fez as observações finais:
- Temos um compromisso ou estamos apenas envolvidos?
Estamos comprometidos com a excelência e o aprimoramento
contínuo, ou isso são apenas palavras sem conteúdo que
repetimos? Podem ter certeza disto: são nosso aosatos
cotidianos que deixam transparecer para todos aqueles
que lideramos aquilo que acreditamos de verdade.
Enquanto eu refletia sobre a sabedoria dessas palavras,
ouvi um grunhido, vindo do canto da sala em que o pastor
estava assentado. Então me dei conta de que fazia algum
tempo que ele não dizia uma palavra, e olhei de relance
para o lugar da sua cadeira. Ela estava virada para a
janela, e Lee olhava para fora, com o ar entediado e
irritado.
Resmunguei uma rápida oração, pedindo forças para não
lhe dar uns tabefes, ou coisa pior, antes que o fim de
semana acabasse.
Referências
HUNTER, James. De volta ao mosteiro:
o monge e o executivo falam de liderança e trabalho em
equipe. Trad. RIBEIRO, Vera. Rio de Janeiro: Sextante,
2014. P. 98 a 103.