Artigo 1
Entrelaçando afetos,
cognição e emoções
Angela Adriana Bandeira |
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Entrelaçando Afetos, Cognição e
Emoções
Angela Adriana Bandeira
Pedagoga. Graduanda em Psicologia
(10º Período).
Especialista em Psicopedagogia e
Neuropsicologia.
Sociopsicomotricista Ramain-Thiers
A finalidade deste
artigo é apresentar como a Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers pode ser
um recurso de intervenção no entrelaçamento dos afetos, do cognitivo e
do emocional em um grupo de adolescentes, que apresentavam dificuldades
de comunicação, de relacionamentos afetivos e de aceitação de regras e
limites.
A
fase da adolescência é marcada pelo momento de muitas
transformações. Para algumas famílias é algo perturbador,
um desafio diário, onde muitos pais não estão preparados
para lidar com todas essas mudanças. Para os jovens, é o
momento que se formam os círculos de amizades, começam a
sedesprendem das famílias e a procurar modelos para a
formação de sua identidade.
Segundo
Aberastury (1992) na correspondência das mudanças
corporais que ocorrem na puberdade, acontecem as
mudanças psicológicas que levam a novas relações dos
adolescentes com os pais e o social. Para a autora, há
uma alternância entre a dependência e a independência,
caracterizando um período de contradições, ambivalências
e conflitos que só podem ser solucionados quando se
elabora o "luto pelo corpo de criança, pela identidade
infantil e pela relação dos pais de infância" (p. 24).
Mas
isso acontece com todas as famílias? Todos os
adolescentes agem desta mesma maneira?Pode-se dizer que,
umas mais, outras menos. Por isso, o ideal, o mais
adequado, é educar o adolescente enquantoele ainda é
criança!
Esses
assuntos recorrentes na atualidade tem sido uma temática
bastante discutida entre pais/ responsáveis, educadores
e profissionais. Surgem então alguns questionamentos:
será a falta de limites, indisciplina, hiperatividade ou
apenas uma fase?
Hoje em dia, é
muito comum ouvirmos que pais e mães precisam ser amigos
de seus filhos. Aqui, igualmente, é preciso ter cuidado
com a inversão desta ordem.
Por
outro lado,
poderíamos levantar outras questões: “O que estará
acontecendo com nossos pais e mães que parecem estar
esquecidos de sua função de educadores desses jovens? ”.
THIERS (1998), afirma que nossa sociedade debate-se
contra a falta de autoridade, oriunda da não entrada da
função paterna. As pessoas não respeitam as Leis e estão
inseguras na forma de como agir.
Percebo diariamente, que alguns pais são permissivos com
seus filhos e quando “perdem o controle da situação”,
alguns procuram uma ajuda profissional, atribuindo a
este profissional a responsabilidade em “dar conta”,
outros se escondem da culpa atrás de um diagnóstico.
Em Ramain-Thiers os grupos são
heterogêneos, quanto ao tipo de comprometimento
apresentado pelos componentes do grupo terapêutico. A
sessão estrutura-se no entrelaçamento de três tipos de
atividades, sendo elas: trabalho corporal, atividades de
expressão motora fina denominada psicomotricidade
diferenciada e verbalização.
Para
esta apresentação, o grupo foi composto por três
meninos e uma menina. As sessões eram de duas horas, uma
vez por semana, totalizando 28 encontros. Apresento-lhes
os casos:
C.R. Sexo masculino, 12 anos.
Chegou à clínicapor indicação de baixo rendimento
escolar, pouco interesse pelas atividades acadêmicas,
sexualidade precoce e dificuldade em seguir regras e
limites. Pais separados, a mãe fala constantemente que
irá arrumar as malas e mandar para a casa do pai para
acabar com os problemas.
M.L., sexo masculino, 13 anos,
está na 6ª. Serie, sem reprovações, apresenta erros
ortográficos e dificuldades na matemática. Diagnosticado
TDAH.
L.L, sexo masculino, 13 anos,
apresenta queixas no seu comportamento, tais como:
dificuldade no relacionamento interpessoal, dependência
materna, dificuldade em aceitar e cumprir regras.Na
escola, prefere perder notas a ter que entregar algo que
não queira. Segundo a mãe por muitas vezes, o trabalho
está pronto na mochila e não entrega.
L.M, sexo feminino, 13 anos,
comunicativa, apresenta dificuldades de organização,
desmotivação associada à desatenção, imaturidade,
carência e dificuldade nas relações interpessoais e
principalmente com seu irmão mais velho, buscando
aceitação e reconhecimento, possui autoestima rebaixada.
Os primeiros sete atendimentos foram
lúdicos juntamente com o Trabalho Corporal (TC), as
sessões tinham como objetivo promover momentos de
socialização do grupo. Apenas L.L se negou em tirar o
tênis e ao perguntar o
motivo não respondeu.
A
exploração do mundo externo comentaThiers
(1998), na aquisição da segurança estendida à relação
materna, à relação paterna, e consequentemente
descoberta do mundo. A entrada do pai é muito importante
no processo de segurança interna e formulação de limites.
Quando as atividades do
Orientador Terapêutico
para Adolescentes - AD foram incluídas no
processo terapêutico as sessões “se transformaram” e
tornaram-se intensas e exaustivas para mim; os
adolescentes questionavam as atividades e se negavam na
realização de algumas que exigiam a correção e não
queriam fazer pela troca de lápis.
A execução da atividade, segundo
Thiers (1998),
desencadeia a projeção dos conteúdos emocionais do
sujeito em seu próprio ato psicomotor. Trabalha-se
também, a percepção visual, tátil, a memória, a atenção,
a capacidade de discriminação de elementos, o controle
motor, entre outros. Nas atividades que requerem o uso
do lápis, a borracha não é utilizada.
O progresso foi gradativo, a cada
nova descoberta surgiam motivos de conquistas. O
potencial desejado, pela escola e pelos pais, foi sendo
percebido e consequentemente foram elogiados, com isso
alguns comportamentos de rivalidade dos mesmos com a
família foram diminuindo. Perceberam que “aquele lugar”,
“àquela hora” era um espaço deles de escuta, que
tínhamos um sigilo e buscávamos melhorar a cada dia.
A leitura feita pelo socioterapeuta,
segundo
Thiers (1998),
com base nas verbalizações dos componentes do grupo ou a
partir da observação do modo de execução da atividade
pode ser: vertical, feita a cada componente do grupo,
especificamente; horizontal, que parte da percepção do
movimento psíquico grupal; a transversal, feita quando
situações da realidade atravessam as verbalizações
feitas pelos componentes do grupo terapêutico.
Esse processo de transição psíquica
que os adolescentes passam, acaba se transformando em
situações desconfortáveis, pois não há um entendimento e
caso a família não esteja tenha sido estruturada numa
educação por limites, baseada no diálogo e na confiança
ocasiona uma série de comprometimentos que levam a
desiquilíbrios emocionais.
Cabe confirmar que os atendimentos
baseados na metodologia Ramain-Thiers proporcionam
mudanças, os erros acabam sendo transformados em
aprendizagens que o individuo pode ver e rever sua vida
de maneira diferente, podendo com isso evoluir cada vez
mais.
Thiers (1998)
aponta que o erro é marcado para não ser
esquecido, não ser dissimulado. É a descoberta de que,
trocando as cores dos lápis, pode-se recomeçar e
encontrar novos caminhos e novas saídas.
A mesma autora ressalta que através
das atividades Ramain-Thiers o sujeito se possibilita a
trabalhar, enfrentar e resgatar a sua autoestima,
respeitando o ritmo e seus limites, permitindo
desabrochar sua autonomia.
REFERÊNCIAS
ABERASTURY, A. & KNOBEL, M. Adolescência normal. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1992.
THIERS, S., Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers:
uma leitura emocional, corporal e social. 2 ed. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
THIERS, Solange e Elaine (organizadoras). A Essência
dos Vínculos. Rio de Janeiro: Altos da Glória, 2001.
THIERS, Solange e Ana Cristina Geraldi (organizadoras).
Corpo e afeto: reflexões em Ramain-Thiers. Rio de
Janeiro: Walk Ed., 2009.
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