Vol. VIII: Vitrais 77 - jun 2015
A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers - ISSN 2317-0719
 
     
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VITRAIS
Vol. VIII: Vitrais 77

                        jun 2015

 

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Maria Paula Costa Raphael

 

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Artigo 2

 

 

Maria Paula Costa Raphael

 

 

PSICOMOTRICIDADE - O CORPO É A NOSSA

CASA FACILITADORA DA APRENDIZAGEM

Maria Paula Costa Raphael

                                            Fonoaudióloga. Sociopsicomotricista Ramain-Thiers

 

Desde nossos primeiros meses de vida, registramos em nosso corpo, toda nossa história de vida. Tanto as vivências, quanto as sensações, boas e ruins, ficam “guardadas” no corpo; e as chaves estão em nossas próprias mãos. Assim como arrumamos a nossa casa, também podemos organizar e limpar o nosso corpo, a nossa casa interna; e podemos fazer uma “limpeza, uma faxina interna”, reorganizar e colocar nossas coisas em seus devidos lugares. E o corpo (se) representa...

Quando iniciei meu curso de Fonoaudiologia, fui surpreendida pela disciplina PSICOMOTRICIDADE. Desde então eu comecei a me inspirar e me apaixonar pelo trabalho corporal. A linguagem sempre me despertou maior atração e estudos; daí aumentou minha curiosidade e procura de conhecimento sobre a linguagem do corpo e suas razões. Eu tinha muita curiosidade em tentar descobrir como seria viver o CORPO em harmonia. Eu entendi que o CORPO era/é a casa onde habitamos e muitas vezes a desconhecemos ou o tratamos mal, mesmo quando nos tornamos adultos e pensamos ter total controle de tudo.

Enquanto estudava e depois como profissional da área, comparei por diversas vezes, inclusive em oportunidades de estágios ou no convívio diário com minha família, sobrinhos (ainda era solteira), o comportamento das crianças, livres, sem pudor ou regras de comportamentos, e a diferença demonstrada pelas crianças exigidas por regras e comportamentos severos de disciplina.

Esse conjunto de observações e percepções começou a despertar as minhas primeiras descobertas sobre o corpo e observá-lo realmente como uma CASA; grande ou  pequena, de um ou dois andares, com poucos ou muitos compartimentos, com uma estrutura externa de pedra ou apenas uma “casinha de sapé. Lembrei também das histórias contadas em nossas infâncias, por exemplo, sobre a casa “dos três porquinhos" em cujo final, descobríamos que a única casa que resistira fora a daquele porquinho que construíra sua casa com a estrutura mais forte: a casa de tijolos. Ou seja, sua estrutura forte se devia ao seu processo de construção em que o porquinho teve mais persistência, mais paciência, menos pressa.

Enfim, pensemos, onde os outros porquinhos, supostamente fracassaram? Ou o que os levou ao fracasso? Ou mesmo, houve mesmo fracasso? Essas são perguntas como tantas outras contidas em histórias de contos de fadas de nossas infâncias, em cujos enredos não discernimos entre verdades ou mentiras? Alegrias ou tristezas? Verdades ou fantasias? Enfim.

Enquanto isso realizava estágios em diferentes hospitais de uma mesma instituição, trabalhava no campo da fonoaudiologia hospitalar em CTIs com pacientes com sequelas de AVCs, AVEs, afásicos, disártricos, ou com disfagias etc. Nós recebíamos a supervisão de minha querida mestra, e hoje amiga e madrinha de casamento, Profª Célia Regina Maia. E ela, por diversas vezes, aplicava técnicas psicomotoras que mantinham desperta minha curiosidade.

Ao término delas, havia a sensação de bem estar quanto ao aprendizado, uma vez que lidávamos com situações que nos envolviam demais com nossos pacientes, logo precisávamos também aprender a nos “separar” destas situações para que o envolvimento emocional não prejudicasse ou afetasse nosso trabalho, em nosso dia a dia e em nossa vida.

Minha admiração pela Profª Célia era tanta, que tratei de me informar sobre qual formação ela havia feito e onde havia aprendido as diferentes técnicas utilizadas em diversos momentos pessoais com nosso grupo. E descobri. Ela me apresentou sua formação: o “Ramain-Thiers A Sociopsicomotricidade”.

Imediatamente ao me formar, me inscrevi para o processo de seleção da formação, aguardando ansiosamente para ter uma resposta e iniciar assim que possível.E assim aconteceu. Iniciei a formação em 1992 no grupo U-RIO/RJ. Estava muito feliz por poder fazer parte de um grupo seleto, que faria parte da minha vida e me acompanharia por três anos.Grandes e verdadeiras amizades foram construídas nesse processo.

Neste período, também conheci a Profª Fátima Alves e essa amizade,  construída na formação, se fortaleceu ainda mais quando finalizamos nosso trabalho de conclusão e tivemos a felicidade de receber o convite para nos apresentarmos no I CONGRESSO BRASILEIRO RAMAIN-THIERS, cujo trabalho, mais tarde, transformou-se em um capítulo do livro Compartilhar em terapia Ramain-Thiers, organizado por Elaine Thiers.

Enquanto em formação, tive o imenso prazer de ter como terapeuta a própria Solange Thiers, idealizadora da metodologia, acompanhada por Elisabete Cerqueira e uma equipe maravilhosa de supervisores como Eliana Julia, Elaine Thiers e tantas outras que compartilharam conhecimentos com tanta sabedoria e clareza ao longo dos anos.

A formação e especialização em Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers nos proporciona momentos inesquecíveis e muito marcantes. Em uma das diversas propostas vivenciadas, especialmente uma, marcou bastante minha formação; “construir" simbolicamente a nossa “própria casa interior e exterior”: isso não foi fácil.

Após três anos de intenso trabalho e formação pessoal, fui capaz de construir essa casa com tanta dedicação que, recordo-me, entrei em profundo contato comigo mesmo, vivi cada momento, cada pedacinho, cada compartimento, cada detalhe e ao finalizar, fiquei encantada com o resultado.

Hoje tenho o imenso prazer de fazer parte da equipe de supervisores de formação dos grupos do Rio de Janeiro, em Ramain-Thiers a Sociopsicomotricidade; tendo ao meu lado minhas antigas mestras e, agora amigas, que, com a mesma simplicidade, continuam compartilhando conhecimentos e opiniões em nossas reuniões. Penso o quanto se tornou importante esta minha especialização de três anos. Percebo que acima de tudo foi uma educação, um ensino e uma aprendizagem que levei e ainda levo para minha vida, em todos os momentos, profissional, pessoal, como mãe, esposa e etc.

Enfim, eu percebi que fui capaz de me libertar da programação do meu corpo do passado ou simplesmente mostrar os “registros” marcados em minha mais tenra infância, naquele material que tanto significou e que me fez aprofundar e descobrir a “MINHA VERDADEIRA CASA INTERNA”. Confirmando: 

Nesse instante, esteja onde você estiver, há uma casa com o seu nome. Você é o único proprietário, mas faz tempo que perdeu as chaves. Por isso, fica de fora, só vendo a fachada e não chega a morar nela. Essa casa, teto que abriga suas mais recônditas e reprimidas lembranças, é o seu corpo.

(BERTHERAT, 1987, p.11).

Mesmo que, em algum passado bem distante, esses ‘guardados’ (marcas e registros) tenham ficado em lugares “errados", é possível reorganizar, desde a criança até a constituição da vida adulta. Só depende de nós, de nosso desejo, de nossas descobertas e das possibilidades que nos são oferecidas facilitando e tornando essa atitude mais rápida ou não. Nosso corpo somos nós. Ou, como afirma Shakespeare, 1584/1616, “O meu corpo é um jardim, a minha vontade o seu jardineiro.”

Muitas vezes quando pensamos em CORPO associamos ao CORPO humano; aquele que sempre foi valorizado, desde a Antiguidade e na cultura grega, onde havia o culto excessivo do seu esplendor físico e eram conferidos lugares de destaque, em estátuas na história antiga. Mas ainda, que esse pensamento de dualismo corpo-alma fosse discutido por muitos filósofos como Platão, Descartes, entre outros, o movimento já era motivo de estudos e, relativamente, as emoções passaram a não ser mais negadas, adquirindo cunho próprio; mas a força do homem estava justamente em poder controlar suas emoções, ou seja, evitar que essas emoções aparecessem e, hoje, sabemos que isso é impossível dissociar as emoções do nosso corpo como forma de expressão. Sabemos que ”O CORPO FALA E TEM SUAS RAZÕES”.

E por ser tão complexo e fundamental a existência do mesmo, e a existência do homem, vários foram os poetas, filósofos e estudiosos que se dedicaram a desvendar e conhecer seus prazeres e mistérios.

Nós precisamos nos conhecer bem, entender quem somos e conhecer o nosso CORPO, para assim poder lidar com o outro e com o CORPO do outro, buscando uma melhor proposta terapêutica corporal, levando ao conhecimento das diferenças entre as pessoas.

Cada pessoa que passa por nossa vida, nos traz novos ensinamentos, novas buscas, novas descobertas, enfim somos eternos aprendizes. O CORPO se movimenta e acompanha esta jornada e por isso precisamos sempre "faxiná-lo". Como também precisamos cuidar para que estejamos sempre preparados para receber, de portas abertas, novas pessoas, novas visitas, aquelas que nos trarão informações e mensagens as quais precisaremos saber o que fazer ou como lidar com elas.

As escolhas e as “chaves” das portas estarão em nossas próprias mãos, caberá a nós escolher o que entra, o que fica e o que sai.

 

Referências 

BERTHERAT, Thérèse. ; BERNSTEIN, Carol. O corpo tem suas razões. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1987.
 

COLEÇÃO
RAMAIN-THIERS

Leia o livro digital que você deseja
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Volume I
Ramain-Thiers: a vida, os contornos
A re-significação para o re (nascer)
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Volume II
A potencialidade de cada um:
Do complexo de édipo a terapia de casais
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Volume III
A dimensão afetiva do corpo:
Uma leitura em Ramain-Thiers

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Volume IV
As interfaces de Ramain-Thiers

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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