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Reflexão 3
O universo é música
Rubem Alves |
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O UNIVERSO É MÚSICA
Rubem Alves
Eu
ia guiando o meu carro pelos caminhos de Minas Gerais
enquanto ouvia o Messias, de Haendel. Percebi
então, repentinamente (as revelações sempre acontecem de
repente), as razões por que amo tanto aqueles lugares. É
que lá eu retorno, ainda que por um curto espaço de
tempo, ao mundo barroco, e experimento a felicidade da
alienação... Tudo é harmonia. Os beija-flores flutuam.
No campo verde, as vacas pastam tranquilamente. Ao lado
direito o rio escorre entre as pedras. O vento balança
as árvores. As flores floresceram como sempre
floresceram. No céu azul, as nuvens navegam sem saber
para onde vão. “As nuvens são dos rios claros
pensamentos que um dia serão rios...”, assim viu Heládio
Brito. Será que as flores são o pensamento da terra?
Tudo gira, tudo volta ao início. O belo quer voltar,
repetir-se, eternamente. Todos os seres são belos. Cada
um deles é uma nota do coral de Bach que o universo
entoa. Todos os seres são o que deviam ser. O universo é
uma catedral. O céu é uma abóboda esférica onde o Sol, a
Lua e as estrelas giram seu giro eterno à nossa volta.
Do céu, Deus, que tudo vê, garante que as coisas serão
sempre assim. Ah! Giordano Bruno! Você quis destruir
esse mundo esférico dizendo que o universo era infinito...
Mas o infinito é aquilo que não tem forma. Não tendo
forma, não pode ser belo! Você não compreendeu que ao
afirmar que o universo era infinito, estava roubando dos
homens a sua perfeição estética? Ouço Haendel. O
universo é música.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. São
Paulo: Planeta,2008.
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