Reflexão 1
Sair pela Porta das
Decisões
Alicia Fernandez |
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SAIR PELA PORTA DAS
DECISÕES
Alicia Fernandez
A realidade é mutável, pulsante, abre-se
e fecha-se. [...] abre-se como uma palavra, com um gesto,
com uma decisão, com um ato, e fecha-se com algo que se
perde, (J. D. Nasio)
Desejar, desiderare
De desidera, vem considerare,
Ou seja, examinar com cuidado,
Respeito e veneração;
Considerare é consultar o alto para nele
encontrar o sentido e guia seguro
de nossa vida.
Mas, de desidera, vem também desiderare, desejar
Que significa cessar de olhar (os astros);
É despojar-se desta referência,
Abandonar o alto ou ser por ele abandonado;
É decidir tomar o destino
Nas próprias mãos. (Vilmar F. de Souza)
SAIR PELA PORTA DAS
DECISÕES
Saramago, em um belíssimo livro,
O conto da ilha desconhecida, sussurra:
... A aldraba de bronze tronou a chamar a mulher da
limpeza, mas a mulher da limpeza não está, deu a volta e
saiu com o balde e a vassoura por outra porta, a das
decisões, que é raro ser usada, mas quando o é, é...
A porta das decisões é
difícil de ser usada; porém, quando o fazemos, o fazemos.
Escolher é apropriar-se do
desejar a partir de um trabalho de pensamento.
Silvina, uma das meninas
que nos introduziu neste livro, assinala a importância
de “eu tenho vontade de aprender”.
Escolher é um ato
privilegiado de articulação entre o desejar e o pensar.
Pensar não é uma atividade
cartesiana, que se faz fechada na casa da racionalidade.
Pensar, autorizar-se a pensar, supõe autorizar-se a
mudar a realidade cincundante, a questionar aquilo que
está, a transformá-la, a incluir modificações.
Silvina aprendeu a andar
de bicicleta, e o aprender a andar serviu-lhe como uma
aprendizagem de autoria. Se Silvina recorre a essa
experiência para explicar o que é aprender, é porque o
mais importante que aprendeu quando aprendeu a andar de
bicicleta foi a aprendizagem de autoria: que ela podia
fazer aquilo. Esse é o lugar de onde se obtém o prazer.
Se o pai de Silvina lhe
tivesse ensinado a andar de bicicleta para que pudesse
ir às compras com mais rapidez, com um objetivo de
eficiência, haveria perdido a eficácia. Provavelmente,
Silvina tivesse treinado para movimentar as
pernas, manter o equilíbrio e andar, mas talvez não
tivesse usado aquela situação para explicar o que é
aprender, porque não haveria sido aprender, seria
treinamento para alcançar um fim.
O principal do processo de
aprender é conectar-se com o prazer de ser autor, com a
experiência, a vivência de satisfação do prazer de
encontrar-se autor.
REFERÊNCIAS