Vol. VII: Vitrais 75 - ago 2014
A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers - ISSN 2317-0719
 
     
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VITRAIS
Vol. VII: Vitrais 75

                        ago 2014

 

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Artigo

 

Ser excessivamente crítico: obstruir a infância da criança

 

Augusto Cury

 

         Havia um pai preocupadíssimo com o futuro de seu filho. Queria que ele fosse ético, sério e responsável. A criança não podia cometer erros, nem excessos. Não podia brincar, se sujar e fazer peripécias como toda criança. Tinha muitos brinquedos, mas eles ficavam guardados, porque o pai, com o aval da mãe, não admitia bagunça.

         Cada falha, nota ruim ou atitude insensata do filho eram criticadas imediatamente pelo pai. Não era apenas uma crítica, mas uma sequência de críticas e, às vezes, na frente dos amigos do filho. Sua crítica era obsessiva e insuportável. Não bastasse isso, querendo pressionar o filho para que ele se corrigisse, o pai comparava seu comportamento com outros jovens. O menino se sentia o mais desprezado dos seres. Pensou em até desistir da vida, por achar que não era amado por seus pais.

         O resultado? O filho cresceu e se tornou um bom homem. Errava pouco, era sério, ético, mas infeliz, tímido e frágil. Entre ele e seus pais havia um abismo. Por quê? Porque não havia a mágica da alegria e da espontaneidade entre eles. Era uma família exemplar, mas triste e sem sabor. O filho não apenas se tornou tímido, mas frustrado. Tinha pavor da crítica dos outros. Tinha medo de errar, por isso enterrava seus sonhos, não queria correr riscos.

         Desejando acertar, o pai cometeu alguns pecados capitais da educação. Impôs autoridade, humilhou seu filho em público, criticou-o excessivamente e obstruiu sua infância. Este pai estava preparado para consertar computadores, e não para educar um ser humano. Cada um desses pecados capitais é universal, pois são um problema tanto numa sociedade moderna quanto numa tribo primitiva.

         Não critique excessivamente, Não compare seu filho com seus colegas. Cada jovem é um ser único no teatro da vida. A comparação só é educativa quando é estimulante e não depreciativa. Dê aos seus filhos liberdade para ter as suas próprias experiências, ainda que isso inclua certeza de riscos, fracassos, atitudes tolas e sofrimentos. Caso contrário, eles não encontrarão os seus caminhos.

         A pior maneira de preparar os jovens para a vida é colocá-los numa estufa e impedi-los de errar e sofrer. Estufas são boas para as plantas, mas para a inteligência humana são sufocantes.

         O Mestre dos mestres tem lições importantíssimas para nos dar nessa área. Suas atitudes educacionais encantam os mais lúcidos cientistas. Ele disse certa vez que Pedro o negaria. Pedro discordou veementemente. Jesus poderia criticá-lo, apontar seus defeitos, acusar sua fragilidade. Mas qual foi a sua atitude? Nenhuma.

         Ele não fez nada para mudar as idéias do amigo. Deixou o jovem apóstolo Pedro ter suas experiências. O resultado? Pedro errou drasticamente, derramou lágrimas incontidas, mas aprendeu lições inesquecíveis. Se não tivesse errado e reconhecido sua fragilidade, talvez jamais amadurecesse e se tornasse quem foi. Mas, como falhou, aprendeu a tolerar, a perdoar, a incluir.

         Estimados educadores, temos que ter em mente que os fracos julgam, os fortes perdoam. Mas não é possível ser forte sem perceber nossas limitações.

 

REFRÊNCIAS 

CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003, p.91.

 

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