Artigo
Ser excessivamente
crítico: obstruir a infância da criança
Augusto Cury |
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Havia um pai preocupadíssimo com o futuro de seu filho.
Queria que ele fosse ético, sério e responsável. A criança não podia
cometer erros, nem excessos. Não podia brincar, se sujar e fazer
peripécias como toda criança. Tinha muitos brinquedos, mas eles
ficavam guardados, porque o pai, com o aval da mãe, não admitia
bagunça.
Cada falha, nota ruim ou atitude insensata do filho eram
criticadas imediatamente pelo pai. Não era apenas uma crítica, mas
uma sequência de críticas e, às vezes, na frente dos amigos do filho.
Sua crítica era obsessiva e insuportável. Não bastasse isso,
querendo pressionar o filho para que ele se corrigisse, o pai
comparava seu comportamento com outros jovens. O menino se sentia o
mais desprezado dos seres. Pensou em até desistir da vida, por achar
que não era amado por seus pais.
O resultado? O filho cresceu e se tornou um bom homem.
Errava pouco, era sério, ético, mas infeliz, tímido e frágil. Entre
ele e seus pais havia um abismo. Por quê? Porque não havia a mágica
da alegria e da espontaneidade entre eles. Era uma família exemplar,
mas triste e sem sabor. O filho não apenas se tornou tímido, mas
frustrado. Tinha pavor da crítica dos outros. Tinha medo de errar,
por isso enterrava seus sonhos, não queria correr riscos.
Desejando acertar, o pai cometeu alguns pecados capitais da
educação. Impôs autoridade, humilhou seu filho em público, criticou-o
excessivamente e obstruiu sua infância. Este pai estava preparado
para consertar computadores, e não para educar um ser humano. Cada
um desses pecados capitais é universal, pois são um problema tanto
numa sociedade moderna quanto numa tribo primitiva.
Não critique excessivamente, Não compare seu filho
com seus colegas. Cada jovem é um ser único no teatro da vida.
A comparação só é educativa quando é estimulante e não depreciativa.
Dê aos seus filhos liberdade para ter as suas próprias experiências,
ainda que isso inclua certeza de riscos, fracassos, atitudes tolas e
sofrimentos. Caso contrário, eles não encontrarão os seus caminhos.
A pior maneira de preparar os jovens para a vida é
colocá-los numa estufa e impedi-los de errar e sofrer.
Estufas são boas para as plantas, mas para a inteligência humana são
sufocantes.
O Mestre dos mestres tem lições importantíssimas para nos
dar nessa área. Suas atitudes educacionais encantam os mais lúcidos
cientistas. Ele disse certa vez que Pedro o negaria. Pedro discordou
veementemente. Jesus poderia criticá-lo, apontar seus defeitos,
acusar sua fragilidade. Mas qual foi a sua atitude? Nenhuma.
Ele não fez nada para mudar as idéias do amigo. Deixou o
jovem apóstolo Pedro ter suas experiências. O resultado? Pedro errou
drasticamente, derramou lágrimas incontidas, mas aprendeu lições
inesquecíveis. Se não tivesse errado e reconhecido sua fragilidade,
talvez jamais amadurecesse e se tornasse quem foi. Mas, como falhou,
aprendeu a tolerar, a perdoar, a incluir.
Estimados educadores, temos que ter em mente que os fracos
julgam, os fortes perdoam. Mas não é possível ser forte sem
perceber nossas limitações.
REFRÊNCIAS
CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores
fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003, p.91.
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