ENTREVISTA
com
JUSSARA TEIXEIRA
ORLANDO
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Entrevista
com
Jussara Teixeira
Orlando
Psicóloga Clinica. Especialista em Psicologia Clínica e
Psicomotricidade. Psicanalista e Especialista em Psicanálise.
Supervisora.
Terapeuta Familiar Sistêmica.
Sociopsicomotricista Ramain-Thiers.
Jussara é um enorme prazer
entrevistar você nesta edição de Vitrais. Agradecemos a sua
participação, atenção e colaboração.
Jussara, como foi o seu
percurso profissional desde o seu início até a atualidade?
Acredito que as características
da personalidade do psicoterapeuta são as responsáveis conscientes e
inconscientemente pela escolha da sua escola psicoterápica.
Alguns optam por linhas verbais,
outros por enfoques corporais, outros ainda, por abordagens de ação.
Sabe-se que um fator que define as preferências teóricas de um
psicoterapeuta são as influências profissionais recebidas
anteriormente. De forma psicodramática podemos dizer que a matriz de
identidade profissional determina o percurso do psicoterapeuta.
Ninguém pode negar suas raízes, seja aceitando-as ou fugindo delas.
Sempre achei fascinante ouvir as pessoas, procurar entendê-las e
ajudá-las.
Para mim, não é difícil
retornar, a esta altura, os motivos e a comnpreensão que há anos eu
tinha da psicologia.
Como estudante tinha noções de
como os psicólogos tratavam das pessoas, além das fantasias que eu
fazia a respeito de que eles possuiam palavras mágicas. Pode até ser
que eu desejasse ser mágica.
Meu primeiro contato com a
psicanálise foi muito anterior a minha formação como psicóloga.
Aconteceu no final do ano de 1968. Nessa época iniciava o meu namoro
com ORLANDO, que mais tarde veio a ser o meu objeto de escolha de
parceria amorosa e que falava com carinho da grande admiração que
tinha pelo seu analista. Eu ficava deslumbrada com tais comentários.
Algum tempo depois, quando
terminava o segundo grau, fui submetida ao teste vocacional, onde
acreditava que o mesmo viria apenas confirmar a escolha que já havia
sido feita por mim, que era medicina. Parasurpresa dos meus
familiares e minha própria, a psicologia despontou como a favorita.
Não hesitei da revelação e, no
ano seguinte, comecei a cursar a Faculdade de Psicologia, onde,
desde o início, demosntrei interesse e amor pelo curso.
Tão logo pude concluí-lo, já me
vi ingressando no meu primeiro curso de Especialização em Abordagem
Psicanalítica – Especialização em Psicologia, Psiquiatria e
Psicoterapia da Infância e Adolescência - ministrado pelo renomado
médico e psicanalista Oswaldo di Loreto.
Como jovem profissional, eu
valorizava toda a segurança dada pela teoria psiicanalítica que me
oferecia um psicologia bem desenvolvida da mente e dos distúrbios
emocionais, além de contar com as sábias orientações daquele
supervisor.
Com o tempo, descobri o quanto
meus conhecimentos psicanalíticos estavam sendo usados por mim em
minha prática clínica, com crianças e adolescentes. Sabia também que
exercia uma abordagem mais humanista, pois já fazia algumas críticas
e questionamentos à psicanalise ortodoxa.
Jussara como encontrou a
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers?
Um dia recebi em meu
consultório um convite por parte de um colega, para fazer um curso
de especialização em terapia psicomotora. Achei genial a ideia, uma
vez que a minha clientela era basicamente constituída de crianças em
sua maioria e, que traziam como sintomas, distúrbios de aprendizagem,
distúrbios do comportamento, patologias da fala, acompanhados por
problemas emocionais e problemas psicopatológicos.
Quando entrei em maiores
detalhes a respeito do curso, achei o conteúdo muito interessante e
parecia vir de encontro àquilo que me faltava.Assim foi com um misto
de ansiedade, curiosidade e excitação, que acabei participando do
primeiro curso de Formação Ramain em Brasília. Aqueles foram os dez
dias vividos com medo e curiosidade pelo desconhecido, mas issonão
me impediu de expor as minhas próprias experiências diante do grupo.
Era
como um grande voo coletivo, o grupo se familiarizando com o setting
terapêutico, além de clarificar, para muitos que não conheciam o
trabalho de grupo e, que tinham o interesse por fazê-lo. As outras
etapas foram acontecendo acompanhadas paralelamente por supervisões
pedagógicas e as coisas foram se tornando mais claras para cada
participante do grupo de formação. Conquistamos nossa identidade,
crescemos emocionalmente, mudamos e expressamos isto até com nossa
expressão corporal, além de, profissionalmente, percebermos a
eficácia da terapia de grupo.
Jussara, como foi passar pela
abordagem Ramain e caminhar para a metodologia da
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers?
A trajetória dessa brilhante
profissional, Solange Thiers, como muito trabalho, estudo, pesquisa
e muita dedicação estava dando um novo rumo, àquele método trazido
da França por Simonne Ramain. As evidências trazidas pelas
experiências levaram os dirigentes do Ramain no Brasil, a constatar
a dimensão do psiquismo atuando na manifestação motora. Diante das
necessidades que surgiam buscou-se recursos teóricos em outras
ciências como a Sociologia, a Psicologia e a Psicanálise. A
Psicomotricidade deixa de ser somente uma práxis e entra noplano
científico. Foi compreendendo o sujeito como um todo: corpo, mente,
afeto, ação e sociedade, que permitiu a Solange e sua equipe a
abrangência de um trabalho mais integrado. Sem dúvida o
Ramain-Thiers está inserido no momento histórico da Psicomotricidade
e da Psicoterapia de Grupo.
Sinto-me lisonjeada e orgulhosa
por ter participado na co-criação e co-resconstrução do método, como
cliente, como Ramanista e Sociopsicomotricista Ramain-Thiers, junto
a tantos outros que, confiando nossas histórias de vida, fomos
agentes desencadeantes de transformação.
Jussara, qual a importância
desta Formação para você?
Sou apaixonada pela metodologia.
É bem verdade que a grande influência psicanalítica que possuo e a
possibilidade de um trabalho junto a crianças, adolescentes e
adultos, através do recurso da Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers,
cuja leitura é feita à luz do saber psicanalítico, me fascina.
Atualmente, minha clientela é
de adultos, com atendimento individual e de grupo, atendimento a
casais e famílias, onde lanço mão de propostas da
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers.
Recebo, em meu consultório,
vários psicólogos, psicanalistas, com as mais diversas formações e,
quando se deparam com propostas Ramain-Thiers, impressionam com a
riqueza da metodologia.
Jussara, em que você tem
prestado a sua colaboração profissional?
Atualmente, sou aposentada da
secretaria de Educação do Distrito Federal, onde tive a oportunidade
de desenvolver um projeto de relações Humanas, durante um ano,
utilizando Ramain-Thiers e Psicodrama na escola de Aperfeiçoamento
ao professor, que foi um sucesso.
Trabalhei com o mesmo projeto
no SAMO-Serviços de Assistência Médica e Odontológica, da FEDF, na
época, com profissionais da área da saúde: médicos, psicólogos,
assistentes sociais, dentistas e funcionários de Brasília e das
cidades satélites, Sobradinho, Taguatinga e Gama. O resultado foi
expressivo de mudanças nas relações interpessoais.
Participei da criação da
Clínica de psicologia e Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers. Essa
clínica foi fruto de um sonho da equipe de supervisores de Brasília,
em parceria com a Caixa de Assistência da OAB / DF, da qual fazia
parte, uma sede em que pudéssemos dar aulas de Formação Técnica, bem
como propiciar aos supervisandos, o local de atendimento a seus
clientes, com estágio supervisionado. A jornada foi árdua. A equipe
de supervisores com espírito de cooperação e integração uniu forças,
para enfrentar adversidades, que acabaram despertando sentimentos
diversos, mas foi um tempo muito rico para todos nós, supervisores,
supervisandos e clientes.
Fui escolhida por Solange para
ser supervisora em Brasília, primeiramentepara dar Trabalho Corporal
e mais tarde, percebendo o meu encantamento pela psicanálise, me
indicou para essa disciplina em Brasília e em Goiânia.
Como Psicóloga Clínica, atuando
com crianças, adolescentes e adultos tive o prazer de ter grupos de
atendimento na abordagem Ramain-Thiers por longo tempo.
Minha contribuição com
trabalhos começa no primeiro livro da Sociopsicomotricidade
Ramain-Thiers: uma leitura emocional, corporal e social, com artigos
voltados para Trabalho Corporal e no livro Compartilhar em Terapia:
seleções em Ramain-Thiers, com Caso Clínico. Participação em
Congressos como: Palestrante, Moderadora, Mesa Redonda e Vivências.
Atuo em Brasília, em
consultório, com adultos, casal e famílias, como Psicóloga Clinica,
Terapeuta Familiar Sistêmica, Mediadora de Famílias. Sou
Especialista em Psicologia e Psicomotricidade reconhecida pelo
Conselho de Psicologia. Supervisiono Psicólogose
Sociopsicomotricista Ramain-Thiers.
Gostaria de acrescentar nesta
entrevista, um trecho de uma carta que recebi de Solange quando me
indicou para ser supervisora...
“Sua carta foi muito
gratificante para mim, reconheço que não preciso trocar a cor dos
lápis; a escolha de supervisor não é tão simples como parece... é
preciso ter algo que nem sempre é comum de se encontrar e você tem.”
Obrigada Solange! E você não
precisou mesmo trocar a cor dos lápis!
E 2015 vem ai! Caminhar é
preciso... e o caminho se torna mais fácil, quando na vida podemos
contar com a ajuda de pessoas maravilhosas como você querida Solange
e sua equipe.
Jussara agradecemos pela sua
disponibilidade e gentileza sempre presente nas propostas e eventos
da Sociopsicomotricidade, como também, nesta entrevista.
Esperamos contar sempre com a
sua coragem e determinação nas construções científicas e em todas as
suas participações na Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers.
Elisabete
Cerqueira
Diretora
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