Reflexão
Sabedoria
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David E. Zimerman
Psiquiatra. Psicanalista (SPPA).
Psicoterapeuta de Grupo.
Na totalidade dos dicionários que consultei a palavra
“sabedoria” aparece com o significado de “grande conhecimento;
erudição; saber; doutrina; ciência; conhecimento da verdade; razão;
sensatez; retidão, justiça e, sobretudo, uma totalidade dos
conhecimentos adquiridos”. Já a palavra “sábio”, por redundância,
significa “aquele que tem muita sabedoria, sabe muito, que tem
extensos e profundos conhecimentos tanto em matérias de erudição
como de ciências”.
Não obstante essas significações estejam parcialmente
certas, em meu entendimento, elas não vão além do óbvio. Dessa
forma, partindo de um viés psicanalítico, acredito que essa ênfase
num acúmulo de conhecimentos e de erudição não deve ser entendido
como sendo sabedoria. Penso que a condição de alguém se tornar um
sábio exige o cumprimento de algumas condições mínimas, como:
1.
um autêntico amor às verdades;
2.
uma capacidade para ingressar na, assim chamada, posição
depressiva (isto é, reconhecer e assumir o seu quinhão de
responsabilidades nas vicissitudes de sua vida);
3.
a aquisição desse atributo possibilita a evolução a uma
melhor capacitação para pensar e para fazer reflexões, inclusive as
de natureza filosófica;
4.
uma fundamental capacidade para aprendercom as experiências
(as boas ou as más, especialmente estas últimas);
5.
uma renúncia a um exagerado narcisismo que conduz o sujeito
aosriscos de um exibicionismo de seus conhecimentos e de erudição, a
um mundo de veleidades;
6.
Antes de orbitar em torno dos princípios do prazer e o da
certeza o indivíduo sábio de harmoniza com o princípio da realidade
o da incerteza, de forma a se manter continuadamente curioso e com
uma atitude aberta para não se sentir o dono das verdades e adquirir
uma flexibilidade sadia para poder mudar de posição, de ideias,
saber escutar e respeitar as inevitáveis diferenças com as demais
pessoas;
7.
Por fim, o sábio tem a sabedoria de diferenciar o supérfluo
do profundo, a aparência da essência, aquilo que justifica uma
apreensão e preocupação e uma naturalidade para dar peso exato de
importância para os fatos que nos cercam no dia a dia de nossas
vidas. (ZIMERMAN, 2010, p. 181)
Referências:
ZIMERMAN, David E. Os quatro vínculos: amor,
ódio, conhecimento, reconhecimento na psicanálise e em nossas vidas.
Porto Alegre: Artmed, 2010.
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