Vol. VI: Vitrais 72 - out 2013
A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers - ISSN 2317-0719
 
     
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VITRAIS
Vol. VI: Vitrais 72

                        out 2013

 

Editorial

Notícias

Entrevista
Leila Maggio T. de Mello


Artigos

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Karin Hilel

 

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Thereza Cristina Marinho

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Artigo

 

Os Adolescentes em conflito com a Lei

e a Castração Simbólica numa visão Ramain-Thiers

 

Karin Hilel

Psicóloga.

Sociopsicomotricista Ramain-Thiers

 

Este trabalho traz uma reflexão sobre como a falência da função paterna e suas implicações na elaboração edípica pode influenciar a entrada dos adolescentes em conflito com a lei no mundo da criminalidade. Visando compreender melhor este processo, foi realizado atendimento de terapia de grupo, utilizando a metodologia Ramain-Thiers, com os adolescentes e jovens em cumprimento de Medidas Socioeducativas da Casa Marista de Semiliberdade, na cidade de Vila Velha/ ES. Neste projeto, participaram 16 adolescentes, em momentos diferenciados, entre 10/02/2010 a 24/03/2011. O material utilizado foi o Orientador Terapêutico Thiers para Adolescentes – AD, em uma sessão semanal de 1 hora e meia. Os atos infracionais cometidos vão desde assalto à mão armada, furto, roubo, uso e tráfico de drogas, até latrocínio e homicídio.

O regime de semiliberdade está descrito no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sob a Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990, no Art. 120, e vem suprir a dificuldade das famílias em impor limites a estes adolescentes, numa tentativa de resgatá-los da marginalidade, inseri-los na sociedade e evitar futuras medidas mais restritivas.

Segundo Freud, a estruturação psíquica do ser humano tem seu momento crítico na entrada da Lei do pai, função exercida por este ou seu representante, e culmina com a castração simbólica, que fazo corte da simbiose mãe / criança. O sujeito então é introduzido na dimensão da realidade e impulsionado a buscar nos ideais na cultura, “ideal de ego”, preencher a falta produzida pela fenda narcísica, e assim, avança na direção de sua individuação enquanto sujeito de desejo. Uma falha neste processo acarreta dificuldades na internalização de limites e pode predispor o indivíduo a conflitos quando confrontado com as leis estabelecidas pela sociedade.  

Durante o desenvolvimento das atividades propostas com os adolescentes da Casa Marista pode-se observar diversas características que apontam dificuldades na elaboração edípica:

-        Grande apego à figura materna /relação simbiotizada- mãe como figura central;

-        Mães fálicas e pais complacentes/ ausentes- pais não participantes, omissos ou desconhecidos;

-        Traços de estrutura perversa – constantes desafios às leis e ameaças aos educadores e colegas;

-        Dificuldades escolares – problemas recorrentes em praticamente todos os casos;

-        Narcisismo/ criatividade embotada – a libido está presa ao “ego ideal” e não é liberada para sua pulsão na direção de novos ideais;

-        Baixa autoestima – o sujeito como objeto de desejo materno não desenvolve a autoestima, pois desconhece seus próprios desejos;

-        Baixa resistência à frustação – não há adiamento do prazer imediato, a libido não está investida num ideal, qualquer situação pode eclodir em sérios conflitos;

-        Dificuldade de integração de conteúdos internos – não conseguem enxergar pontos positivos em si mesmos, o bem e o mau não podem coexistir;

-        Baixo nível de atenção interiorizada – o assujeitamento leva a um desconhecimento de si, os adolescentes não sabem expressar seus sentimentos e apresentam grande resistência nos trabalhos corporais, em tocar e sentir o próprio corpo.

-        Fixação na fase anal/fálica - criatividade pobre, atividades realizadas sem cuidado, comportamentos de controle e oposição, rivalidade, ilusão narcísica, dificuldade de respeitar limites, de socialização, entre outras.

Todas as características supracitadas estão direta ou indiretamente associadas à problemática edipiana, a uma fenda narcísica não instaurada, pelo menos parcialmente, pelo corte da simbiose mãe/ filho. Estas constatações levam a crer que a falência da função paterna no contexto familiar destes jovens pode ter comprometido o desenvolvimento psíquico/ afetivo, sobretudo no que diz respeito ao enfrentamento da realidade. As falhas na resolução edípica e suas subsequentes interferências na individuação do sujeito enquanto sujeito de desejo, provocam significativos transtornos na economia libidinal, ativam mecanismos de defesa regressivos do ego e, assim, predispõem o ingresso destes jovens na delinquência.

Um fator importante a ser considerado ao se trabalhar com este público, com a técnica Ramain-Thiers, diz respeito à possibilidade de substituir, inicialmente, o Orientador Terapêutico AD pelo CR, devido ao nível de regressão apresentado pelos adolescentes.

Outra observação relevante refere-se à grande rotatividade dos menores infratores numa casa de semiliberdade, que ora têm atividades externas, ora evadem ou recebem alvará de soltura. Portanto, frente a esta realidade, sessões de sensibilizações ou livres seriam mais adequadas neste tipo de atendimento, observando-se, entretanto, as sequências das fases sexuais.

Diante deste contexto, é interessante a criação de projetos de orientação e assistência às famílias, crianças em situação de risco e grávidas (especialmente adolescentes) para atuar na prevenção da delinquência juvenil.

E, finalmente, enfatiza-se a carência afetiva observada em quase todos os adolescentes da casa que, ao perceberem o real interesse do terapeuta em propiciar ajuda, mostraram-se extremamente receptivos e colaborativos, dentro de suas possibilidades. Klein (1934, p. 299, apud, Nogueira, 2006, p. 69), relata que “... O amor não está ausente nos criminosos, mas sim escondido e enterrado de tal maneira que apenas a análise poderá trazê-lo à tona.”Desta forma, deixa aos terapeutas interessados a trabalhar com adolescentes infratores o desafio de resgatar, através da transferência, este amor endurecido pelas asperezas da vida.

 

Referências 

CORDIÉ, A. (1993). Os atrasados não existem: Psicanálise de crianças com fracasso escolar. Traduçãode Sônia Flach e Marta D’agord. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 27-28.

DOR, J. (1991). Estruturas e clínica psicanalítica. Tradução de Jorge Bastos e Andre Telles. 4ª. ed. Rio deJaneiro: Taurus Editora. 1997. p. 33-61. 

______. (1989). O pai e sua função em psicanálise. Tradução de Dulce Duque Estrada. 5ª. Edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1997. P. 57-62. 

______. (1994). Clínica Psicanalítica. Tradução de Maria Lúcia Homem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 81-91. 

NOGUEIRA, C. S. P. A questão do pai para o adolescente infrator e os impasses na transmissão dodesejo. 2006. 164 p. Dissertação de mestrado em Psicologia. Faculdade de Filosofia e CiênciasHumanas. Belo Horizonte.Universidade Federal Minas Gerais, 2006. Disponível em:

www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/VCSA-7WSNL2/documento__nico_p_s_defesa_11_ago.pdf;jsessionid=2BCDF465E392463362C237EE65D8CD98?sequence=1 Acessado em: 07/ 2012.     Acessado em: 07/ 2012.

TANIGUTI, J.  H. A Formação dos Ideais: Perspectiva Clínica. Disponível em:

http://pt.scribd.com/doc/16372658/Ideal-de-Ego-e-Ego-Ideal Acessado em: 07/ 2012.

 

THIERS, E. (Org.). Compartilhar em terapia. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1998. p.187-198.

 

THIERS, S., Garritano, E. J. (Org.). Ser terapeuta : Metodologia Ramain-Thiers. Rio de Janeiro: CESIR, 1999. p.12.

 

WINNICOTT, D. W. (1971). O brincar e a realidade. Tradução de José Otávio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1975. p. 95-103.

 

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