Artigo   A Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers no atendimento de um adolescente com indicios de disgrafia

Benilde Farias

Benilde Ferreira de Assunção Farias: Psicopedagoga Clinica. Socioterapeuta Ramain Thiers.  Mediadora PEI. Terapeuta do Desenvolvimento e da Aprendizagem.

          O presente trabalho tem por objetivo apresentar a contribuição da sociopsicomotricidade Ramain Thiers no acompanhamento de criança e adolescente com dificuldades na sua interação consigo e com o outro, na vida diária e atribuições escolares. 

1  O CASO 

          Trata-se de um jovem com 17 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio de uma escola particular de grande porte em Teresina. Filho de pais separados. A mãe universitária com mestrado na área de educação e uma irmã cursando o último ano do curso superior. 

          Em junho/11, a mãe de P.A procurou o acompanhamento psicopedagógico devido seu baixo rendimento nas produções de texto. O drama da família era que se aproximavam as provas do ENEM e o garoto vinha tirando ZERO nas avaliações de Redação. 

          Após ouvir a descrição do histórico escolar de P.A, analisar as suas produções e, mais especificamente, a história de sua vida escolar, optei por aplicar os recursos avaliativos da Sociopsicomotricidade Ramain Thiers-AD, por acreditar que este material daria o suporte necessário que o caso exigia naquele momento. Na realidade estávamos diante de um quadro de Disgrafia, de origem emocional por conta das pressões de um vestibular. 

          Considerando o estado emocional da mãe, que de certa forma apresentava um profundo “não sei o que fazer” diante da situação do filho e aproximação da seleção para ingresso num curso superior, realizei um diagnóstico interventivo, isto é: à medida que aplicava os recursos avaliativos, introduzia propostas AD, semi-diretivas (lúdico, artes, construções, entre outras); como forma de conter a angústia e a ansiedade que naquele momento P.A apresentava. 

2  O ACOMPANHAMENTO 

          O acompanhamento terapêutico ocorreu de junho à primeira quinzena de outubro, com um encontro semanal, de aproximadamente sessenta minutos.  

          Durante as sessões foram desenvolvidas propostas: 

- corporais e de relaxamento visando a ressignificação da imagem corporal, bem como equilíbrio emocional necessário na sua integração pessoal. Através da expressão corporal o adolescente descobre maneiras alternativas de crescer e ser adulto e de conviver com as adversidades. 

- do orientador terapêutico AD como recurso projetivo de revivência das necessidades emocionais no contexto social grupal. Conforme Thiers (1997), esse material atualiza os conteúdos vividos e as necessidades emocionais verbalizadas tais como: 

Iniciamos o acompanhamento aplicando o programa de Avaliação Ramain hiers, de Ana Lucia Mandacaru Lobo e Beatriz P. M Mazzolini, na oportunidade o cliente escolheu o cachorro; realizou com muita dificuldade a proposta de entrelaçamento e da mandala.

�  Proposta de Avaliação Ramain Thiers das referidas autoras indicam que a escolha desta figura expressa os modos de organização interna do indivíduo, suas possibilidades de transformação e de aspectos regressivos vinculados às escolhas. 

    Em seguida, iniciamos a socioterapia, conforme apresentamos a seguir: 

1.    Traçados

•      Trabalhando a tonicidade, consciência do forte e do fraco, geralmente exteriorizado por sentimentos de insegurança, fragilidade.

•      Manter a sua estruturação psíquica, as diferentes maneiras de relacionar-se com o mundo. 

2.    Motivos Simétricos

•      Desenvolvendo a capacidade de integração, a atenção, elabora as defesas que em geral o AD utiliza para não entrar em contato com o doloroso que se esconde atrás de sua fala.

3.    Cópia

 •      Promove a revivência das perdas, do luto e da reparação.  

4.    Recorte

•      Mobiliza a organização do espaço, a constância e a percepção da figura fundo.

•      Possibilita o processo de individualização a sua estrutura super- egóica, a busca da identidade.

5.    Sinuosas e Ângulos

•      Promove a percepção tátil e sinestésica, alargando as representações mais complexas, como a atividade simbólica, necessárias nas diversas produções do inconsciente.

6.    Trabalhos de Grupo/ Individual.

•      Prepara o Adolescente para caminhar em direção ao mundo adulto, num momento de esperança no futuro, liberando a criatividade, a invenção.

•      Todos os aspectos psicomotores são mobilizados de forma global. 

  - semi- diretivas 

          Neste momento dava-se prioridade para falarmos das preferências de P.A tais como: tocar guitarra, fazer judô, ouvir músicas, principalmente as estrangeiras. Foi daí que combinamos que a cada dia ele traria a cópia de uma música e durante o encontro iríamos cantar e traduzir (o que conseguíssemos) as frases que mais chamassem atenção. Outra estratégia foi que ele trouxesse cópias de poemas de autores de sua preferência. Após leitura do poema fazíamos comentários. Ele era motivado a criar outro título, alterar ou acrescentar algum verso. Algumas vezes assistíamos vídeos (no youtube) e a partir daí eram feitas descrições, relatos sobre o que foi assistido.  

          A partir de setembro, quando se aproximava a data das provas do ENEM, ficou combinado que toda semana ele faria leitura das páginas amarelas da revista Veja e no encontro subsequente eram feitas discussões, reflexões, posteriormente em casa ele faria pequeno texto. 

          Sinteticamente foram estas as principais atividades, por mim chamadas de semi-diretivas que adicionadas às propostas de mesa (OT/ AD) e trabalhos corporais deram o suporte emocional necessário a P.A para cumprir as exigências que o momento estava a exigir. Ele já apresentava melhores pontuações nas Redações do pré-vestibular no colégio que frequentava 

3  CONLUSÃO 

          Início de novembro/2011, P.A viajou com a mãe para fazer o vestibular na Universidade Federal do R.G.N. Os dois, aliás, fariam seleção: a mãe para cursar Doutorado e o garoto para Biomedicina. Para minha surpresa P.A foi aprovado em sétimo lugar do curso escolhido e a mãe, também obteve aprovação na seleção de doutorado. Quem ajudou quem? 

          Acredito que a Sóciopsicomotricidade Ramain Thiers deu a sua contribuição aos dois. É claro que a mãe do garoto foi beneficiada indiretamente, pela evolução que seu filho, naquele momento, apresentava. 

          O garoto (P.A) dentro do seu sorriso contido, expressão de angústia, expressão corporal.

BIBLIOGRAFIA 

·         THIERS, Solange. Sociopsicomotricidade uma leitura emocional, social e corporal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.

·         --------------, Elaine (org). Compartilhar em Terapia, São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

·         --------------, Elaine (org). Essência dos Vínculos, Rio de Janeiro: Alto da Glória, 2001.

·         --------------, Solange. GERALDI, Ana C. Corpo e Afeto. Rio de Janeiro: Wak. Editora, 2009