Reflexão 1
TECENDO
A MANHÃ
por
João
Cabral de Melo Neto |
|
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que
apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro
galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Uma
homenagem de Vitrais à Recife - PE
|