nª 68 - Agosto 2012
A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers - ISSN 2317-0719
 
     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Artigo 2

TECENDO ALGUNS DETALHES SOBRE A FOBIA

por

Ana Rosa Baldotto da Rocha

 

As fobias são medos irracionais que se originam no inconsciente. O medo faz parte da sobrevivência humana, animal e consiste num “mecanismo de adaptação” que pode salvar a vida em algumas situações. Normalmente se tem medo de muitas coisas, como, por exemplo, do escuro, de locais fechados, de animais, enfim do que é novo. Freud coloca que as fobias são básicas e que convergem para o medo da solidão. Esta atitude vincula-se às primeiras situações fóbicas de uma criança, ligadas ao abandono, à carência da função materna. Quando esse medo toma proporções irracionais, associado a ataques de pânico chega-se ao estado da fobia.

Quando se fala em medo remete-se à infância. Medo do escuro, do bicho papão, do homem do saco, enfim dos alarmes anunciando o desconhecido. Normalmente, os pais usam esses artifícios para amedrontar os filhos, fazê-los comer, dormir cedo, tomar banho, entre outras coisas. Assim surgem as fobias, pois a maioria das pessoas cresce envolta em algum tipo de receio, como: chuva, trovões, altura, fogo e multidão. Esses medos se transformam em algo mais sério para a saúde, gerando assim, uma ansiedade crônica, depressão e angústia. O sujeito fóbico alcança, então, o estado na organização genital, anal- fálico, gerando o medo da castração que, geralmente, é vinculado ao medo da morte.

Segundo Freud, “a ausência da mãe deixa a criança num estado de excitação que não pode ser descarregada pela carência do objeto, e então acumula e se transforma em angústia. A carência de objeto reativa vivências dolorosas e fazem surgir os fantasmas persecutórios”.

O fóbico não vivencia a solidão por estar realmente só, mas porque estar só é preencher o espaço por lembranças e objetos maus persecutórios. A fobia é o medo irracional e excessivo de determinados objetos ou situações, que passam a ser evitados, impedindo o indivíduo de se comportar de maneira normal, positiva, sociável. Ela tem origem no inconsciente, naquilo que já passou e que ficou marcado por algum trauma. Em determinados momentos, a pessoa chega a tal ponto que perde a noção da realidade, tendo reações físicas como sudorese, tremores, desmaios, vertigens e surtos.

O que diferencia, em grande parte, alguém que tenha fobia de outro que tenha apenas medo é que a pessoa fóbica vivencia uma carência de experiências gratificantes porque sempre cria situações de esquiva ou afastamento quando se depara com situações que possam desencadear as crises, mesmo que para isso tenha que alterar sua rotina. Há casos em que indivíduos, até mesmo, evitam sair de casa.

“Conceitualmente, uma fobia faz referência ao pavor irracional que um sujeito demonstra perante um objeto, um ser vivo ou alguma situação, os quais, por si mesmo, não apresentam nenhum perigo real”.

A estrutura fóbica varia de um indivíduo para outro, tanto em intensidade, quanto em quantidade. Existem as mais simples e facilmente contornáveis, como as mais completas a ponto de paralisar a pessoa. Os principais sintomas são vertigens, palpitações, dispnéias, náuseas, síncope, sudorese, transtornos gastrintestinais, tremores e até desmaios.

As pessoas fóbicas, em geral, são competentes, detalhistas, inteligentes, organizadas, responsáveis, humanas, porém não gostam de críticas e ainda sofrem de ansiedade antecipatória. Têm como principal característica a “ansiedade em alto grau”. Apresentam-se também, firmes bases de relação com o concreto, a fim de saciar contínua gratificação de suas necessidades emocionais, até mesmo básicas e ainda, uma ligação maior com o mundo externo que com o mundo interno, não sendo um sujeito fácil de ser trabalhado, porque costuma guardar segredos para com o terapeuta. Geralmente o sujeito fóbico costuma criar intrigas, que são exatamente a mesclagem do seu desejo com o seu medo. A configuração do mundo externo é limitado pelas restrições de vincular-se afetivamente. “Sente-se assustado, isto é chamado de ‘temperamento fóbico’”.  

MECANISMOS DE DEFESA 

Os mecanismos de defesa apresentados na fobia são o deslocamento, a simbolização, a projeção, a negação, a evitação.

Deslocamento – é empregado para que a evitação seja eficaz, o conflito precisa ser deslocado do interior para o mundo externo. O que acontece é ser deslocado para o meio ambiente, para um objeto. Um exemplo é o caso de Hans que tinha medo de cavalos. Com a análise do caso ficou evidenciado que o cavalo usava antolhos, que o pai usava óculos; que o cavalo era um animal poderoso, que o pai era autoritário, enfim ficou constatado que Hans deslocava para o cavalo o medo que tinha do pai.

Simbolização - Representação de um conflito, de um desejo inconsciente com participação de outras defesas aliadas como o deslocamento, a condensação. Como, por exemplo, o medo de um metrô, pois é um veículo poderoso que viaja através de um túnel e vibra na escuridão. O percurso pode também recordar experiências excitantes de viagens anteriores e as respostas emocionais do paciente a estas.

Projeção – O sujeito fóbico tem núcleos de base paranóide. Ao mesmo tempo em que desloca sua ansiedade para o meio, projeta seus impulsos sobre os outros. O núcleo paranóide, oculta um desejo latente homossexual.

Negação - Processo pelo qual o indivíduo suprime representações que podem trazer à consciência o recalcado. Pela presença da negação o indivíduo não entra em contato com o material recalcado.

Evitação – É a característica principal do indivíduo fóbico. As defesas auxiliares de simbolização, deslocamento e racionalização servem para possibilitar a evitação.  O paciente sempre evita a situação ou o objeto que simboliza o seu medo. 

O PEQUENO HANS 

Hans foi levado ao consultório de Freud, pois sofria de fobia a cavalos quando tinha cinco anos. Para aquela época ter fobia era muito complicado porque o único meio de transporte eram os cavalos. A fobia surge como uma defesa possível contra a angústia de castração. Ela é efeito de um conflito insuportável para o sujeito; é libido transformada em ansiedade e projetada para um objeto externo. O pai de Hans procurou Freud porque seu filho se recusava a sair de casa, pois tinha medo de ser mordido por um cavalo.

Hans tinha ciúmes em relação ao pai, que ele amava muito. Um conflito: um amor e um ódio dirigidos à mesma pessoa. A fobia deve ter sido uma tentativa de solucionar este conflito.

Ele viu um cavalo cair e também viu um colega, com quem brincava de cavalo, cair e se machucar. Teve um impulso pleno de desejo de que o pai devia cair e ferir-se. Ao ver alguém partir, deseja que o pai também partisse, não atrapalhasse sua relação com sua mãe. Esta intenção de desvencilhar-se do pai equivale ao impulso assassino do complexo de Édipo.

O deslocamento do pai para o cavalo foi possível porque ainda nessa idade as crianças ainda não reconhecem, nem dão importância e nem separam os seres humanos do mundo animal. O pai costumava brincar de cavalo com ele, o que sem dúvida determinou a escolha de um cavalo como um animal causador da ansiedade. O impulso de agressividade contra o pai deu lugar a uma agressividade, sob a forma de vingança, por parte do pai, insinuada no medo de Hans de ser mordido pelo cavalo, ou melhor, o pai.

 

“Sua fobia eliminou os dois principais impulsos do complexo edipiano – sua agressividade para com o pai e seu excesso de afeição pela mãe. O pequeno Hans desistiu de sua agressividade para com o pai temendo ser castrado. O medo de que um cavalo o mordesse pode receber o pleno sentido do temor de que um cavalo arrancasse fora com os dentes seus órgãos genitais – o órgão que o distinguiria de uma fêmea. A força motriz da repressão era o medo da castração. A idéia contida na ansiedade dele – a de ser mordido por um cavalo – era um substituto, por distorção, da idéia de ser castrado pelo pai. Esta foi a idéia que sofreu repressão. Foi a ansiedade que produziu a repressão”.

 

E ainda:

 

“A ansiedade sentida em fobias a animais é o medo de castração do ego; enquanto a ansiedade sentida na agorafobia parece ser seu medo de tentação sexual – um medo que, afinal de contas, deve estar vinculado em suas origens ao medo de castração. É sempre a atitude de ansiedade do ego que é a coisa primária e que põe em movimento a repressão. A ansiedade jamais surge da libido reprimida”.

 

Por meio de técnicas psicanalíticas que ainda estavam em seus primórdios, Freud descobriu que a fobia de cavalos de Hans se relacionava ao receio inconsciente de ser castrado pelo pai por causa do amor que sentia pela mãe. Uma manifestação do complexo de Édipo. Freud diz com convicção que toda e qualquer fobia é manifestação de uma angústia mais profunda, muitas vezes sem relação aparente com o objeto do medo. 

REFERÊNCIAS: 

FREUD, Sigmund. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: X Volume: Duas Histórias Clínicas (o "Pequeno Hans" E O "Homem dos ratos") (1909). Rio de Janeiro: IMAGO, 1996.

 OLIVEIRA, Suely Bischoff Machado de. Fobias - Como elas se formam? Um breve olhar Disponível em: http://www.atibaia.com.br/noticias/noticia.asp?numero=2318

 MASCI, Cyro. Fobias Disponível em: http://www.cerebromente.org.br/n05/doencas/fobias.htm

 

Ana Rosa Baldotto da Rocha é Analista de Sistema, Pedagoga e Sociopsicomotricista Ramain-Thiers em Guarapari, ES.

 

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