Artigo 2
TECENDO
ALGUNS DETALHES SOBRE A FOBIA
por
Ana Rosa Baldotto
da Rocha |
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As fobias são medos irracionais que se originam no inconsciente. O
medo faz parte da sobrevivência humana, animal e consiste num
“mecanismo de adaptação” que pode salvar a vida em algumas situações.
Normalmente se tem medo de muitas coisas, como, por exemplo, do
escuro, de locais fechados, de animais, enfim do que é novo. Freud
coloca que as fobias são básicas e que convergem para o medo da
solidão. Esta atitude vincula-se às primeiras situações fóbicas de
uma criança, ligadas ao abandono, à carência da função materna.
Quando esse medo toma proporções irracionais, associado a ataques de
pânico chega-se ao estado da fobia.
Quando se fala em medo remete-se à infância. Medo do escuro, do
bicho papão, do homem do saco, enfim dos alarmes anunciando o
desconhecido. Normalmente, os pais usam esses artifícios para
amedrontar os filhos, fazê-los comer, dormir cedo, tomar banho,
entre outras coisas. Assim surgem as fobias, pois a maioria das
pessoas cresce envolta em algum tipo de receio, como: chuva, trovões,
altura, fogo e multidão. Esses medos se transformam em algo mais
sério para a saúde, gerando assim, uma ansiedade crônica, depressão
e angústia. O sujeito fóbico alcança, então, o estado na organização
genital, anal- fálico, gerando o medo da castração que, geralmente,
é vinculado ao medo da morte.
Segundo Freud, “a ausência da mãe deixa a criança num estado de
excitação que não pode ser descarregada pela carência do objeto, e
então acumula e se transforma em angústia. A carência de objeto
reativa vivências dolorosas e fazem surgir os fantasmas
persecutórios”.
O
fóbico não vivencia a solidão por estar realmente só, mas porque
estar só é preencher o espaço por lembranças e objetos maus
persecutórios. A fobia é o medo irracional e excessivo de
determinados objetos ou situações, que passam a ser evitados,
impedindo o indivíduo de se comportar de maneira normal, positiva,
sociável. Ela tem origem no inconsciente, naquilo que já passou e
que ficou marcado por algum trauma. Em determinados momentos, a
pessoa chega a tal ponto que perde a noção da realidade, tendo
reações físicas como sudorese, tremores, desmaios, vertigens e
surtos.
O
que diferencia, em grande parte, alguém que tenha fobia de outro que
tenha apenas medo é que a pessoa fóbica vivencia uma carência de
experiências gratificantes porque sempre cria situações de esquiva
ou afastamento quando se depara com situações que possam desencadear
as crises, mesmo que para isso tenha que alterar sua rotina. Há
casos em que indivíduos, até mesmo, evitam sair de casa.
“Conceitualmente, uma fobia faz referência ao pavor irracional que
um sujeito demonstra perante um objeto, um ser vivo ou alguma
situação, os quais, por si mesmo, não apresentam nenhum perigo
real”.
A
estrutura fóbica varia de um indivíduo para outro, tanto em
intensidade, quanto em quantidade. Existem as mais simples e
facilmente contornáveis, como as mais completas a ponto de paralisar
a pessoa. Os principais sintomas são vertigens, palpitações,
dispnéias, náuseas, síncope, sudorese, transtornos gastrintestinais,
tremores e até desmaios.
As pessoas fóbicas, em geral, são competentes, detalhistas,
inteligentes, organizadas, responsáveis, humanas, porém não gostam
de críticas e ainda sofrem de ansiedade antecipatória. Têm como
principal característica a “ansiedade em alto grau”. Apresentam-se
também, firmes bases de relação com o concreto, a fim de saciar
contínua gratificação de suas necessidades emocionais, até mesmo
básicas e ainda, uma ligação maior com o mundo externo que com o
mundo interno, não sendo um sujeito fácil de ser trabalhado, porque
costuma guardar segredos para com o terapeuta. Geralmente o sujeito
fóbico costuma criar intrigas, que são exatamente a mesclagem do seu
desejo com o seu medo. A configuração do mundo externo é limitado
pelas restrições de vincular-se afetivamente. “Sente-se assustado,
isto é chamado de ‘temperamento fóbico’”.
MECANISMOS DE DEFESA
Os mecanismos de defesa apresentados na fobia são o deslocamento, a
simbolização, a projeção, a negação, a evitação.
Deslocamento –
é
empregado para que a evitação seja eficaz, o conflito precisa ser
deslocado do interior para o mundo externo. O que acontece é ser
deslocado para o meio ambiente, para um objeto. Um exemplo é o caso
de Hans que tinha medo de cavalos. Com a análise do caso ficou
evidenciado que o cavalo usava antolhos, que o pai usava óculos; que
o cavalo era um animal poderoso, que o pai era autoritário, enfim
ficou constatado que Hans deslocava para o cavalo o medo que tinha
do pai.
Simbolização -
Representação de um conflito, de um desejo inconsciente com
participação de outras defesas aliadas como o deslocamento, a
condensação. Como, por exemplo, o medo de um metrô, pois é um
veículo poderoso que viaja através de um túnel e vibra na escuridão.
O percurso pode também recordar experiências excitantes de viagens
anteriores e as respostas emocionais do paciente a estas.
Projeção –
O sujeito fóbico tem núcleos de base paranóide. Ao mesmo tempo em
que desloca sua ansiedade para o meio, projeta seus impulsos sobre
os outros. O núcleo paranóide, oculta um desejo latente homossexual.
Negação -
Processo pelo qual o indivíduo suprime representações que podem
trazer à consciência o recalcado. Pela presença da negação o
indivíduo não entra em contato com o material recalcado.
Evitação –
É a característica principal do indivíduo fóbico. As defesas
auxiliares de simbolização, deslocamento e racionalização servem
para possibilitar a evitação. O paciente sempre evita a situação ou
o objeto que simboliza o seu medo.
O
PEQUENO HANS
Hans foi levado ao consultório de Freud, pois sofria de fobia a
cavalos quando tinha cinco anos. Para aquela época ter fobia era
muito complicado porque o único meio de transporte eram os cavalos.
A fobia surge como uma defesa possível contra a angústia de
castração. Ela é efeito de um conflito insuportável para o sujeito;
é libido transformada em ansiedade e projetada para um objeto
externo. O pai de Hans procurou Freud porque seu filho se recusava a
sair de casa, pois tinha medo de ser mordido por um cavalo.
Hans tinha ciúmes em relação ao pai, que ele amava muito. Um
conflito: um amor e um ódio dirigidos à mesma pessoa. A fobia deve
ter sido uma tentativa de solucionar este conflito.
Ele viu um cavalo cair e também viu um colega, com quem brincava de
cavalo, cair e se machucar. Teve um impulso pleno de desejo de que o
pai devia cair e ferir-se. Ao ver alguém partir, deseja que o pai
também partisse, não atrapalhasse sua relação com sua mãe. Esta
intenção de desvencilhar-se do pai equivale ao impulso assassino do
complexo de Édipo.
O
deslocamento do pai para o cavalo foi possível porque ainda nessa
idade as crianças ainda não reconhecem, nem dão importância e nem
separam os seres humanos do mundo animal. O pai costumava brincar de
cavalo com ele, o que sem dúvida determinou a escolha de um cavalo
como um animal causador da ansiedade. O impulso de agressividade
contra o pai deu lugar a uma agressividade, sob a forma de vingança,
por parte do pai, insinuada no medo de Hans de ser mordido pelo
cavalo, ou melhor, o pai.
“Sua fobia eliminou os dois principais impulsos do complexo edipiano
– sua agressividade para com o pai e seu excesso de afeição pela mãe.
O pequeno Hans desistiu de sua agressividade para com o pai temendo
ser castrado. O medo de que um cavalo o mordesse pode receber o
pleno sentido do temor de que um cavalo arrancasse fora com os
dentes seus órgãos genitais – o órgão que o distinguiria de uma
fêmea. A força motriz da repressão era o medo da castração. A idéia
contida na ansiedade dele – a de ser mordido por um cavalo – era um
substituto, por distorção, da idéia de ser castrado pelo pai. Esta
foi a idéia que sofreu repressão. Foi a ansiedade que produziu a
repressão”.
E
ainda:
“A ansiedade sentida em fobias a animais é o medo de castração do
ego; enquanto a ansiedade sentida na agorafobia parece ser seu medo
de tentação sexual – um medo que, afinal de contas, deve estar
vinculado em suas origens ao medo de castração. É sempre a atitude
de ansiedade do ego que é a coisa primária e que põe em movimento a
repressão. A ansiedade jamais surge da libido reprimida”.
Por meio de técnicas psicanalíticas que ainda estavam em seus
primórdios, Freud descobriu que a fobia de cavalos de Hans se
relacionava ao receio inconsciente de ser castrado pelo pai por
causa do amor que sentia pela mãe. Uma manifestação do complexo de
Édipo. Freud diz com convicção que toda e qualquer fobia é
manifestação de uma angústia mais profunda, muitas vezes sem relação
aparente com o objeto do medo.
REFERÊNCIAS:
FREUD, Sigmund. Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud:
X Volume: Duas Histórias Clínicas (o "Pequeno Hans" E O "Homem dos
ratos") (1909). Rio
de Janeiro: IMAGO, 1996.
OLIVEIRA,
Suely Bischoff Machado de. Fobias - Como elas se formam?
Um breve olhar Disponível em:
http://www.atibaia.com.br/noticias/noticia.asp?numero=2318
MASCI, Cyro. Fobias Disponível em:
http://www.cerebromente.org.br/n05/doencas/fobias.htm
Ana Rosa Baldotto da Rocha é Analista de Sistema, Pedagoga e
Sociopsicomotricista Ramain-Thiers em Guarapari, ES.
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