Artigo 2
PARA QUE A FILOSOFIA?
por
Marina
Aparecida Abelha Stremlow |
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PARA QUE A FILOSOFIA?
Marina Aparecida Abelha Stremlow
Através das
evidências do cotidiano, nos comunicamos afirmando, negando,
aceitando, recusando coisas, pessoas e situações. São comuns as
frases: ele está louco, ou tem sonhado demais. Além de considerações
do tipo: esse assunto é subjetivo quando se trata de sentimentos, ou
“você é legal” quando aprovamos alguém.
Um exemplo muito rotineiro é perguntarmos: que
horas são? Minha expectativa quando faço essa pergunta é de que
alguém tendo um relógio ou um calendário tenha uma resposta exata.
Em que acredito quando faço a pergunta e aceito à resposta? Acredito
que o tempo existe, que ele passa, pode ser medido em horas e dias,
que existe um passado que contém uma história presente ou não e um
futuro desejado ou temido.
Casa-Museu Salvador Dali
Em todas as
formas de expressão humana estão contidas muitas crenças silenciosas,
que jamais questionamos! Como seria mais complexo se ao invés de
perguntarmos que horas são se perguntássemos, mas o que é o tempo?
De que recurso se toma para julgar algo é provável ou improvável?
Acredito que sonhar é diferente de estar acordado, que no sonho o
impossível e o improvável se apresentam como possível e provável, o
sonho, portanto se relaciona com o irreal enquanto a vigília se
relaciona com o que existe realmente. A realidade pode ser percebida
fora de mim, tal como é e se diferencia da ilusão.
Salvador Dali
Quando afirmo “ficou maluco” acredito
silenciosamente que tomando a realidade, que é igual para todos,
embora eu não a aceite sempre, existe uma forma particular de criar
outra realidade só para si, que é a loucura.
Salvador Dali
Assim
nosso cotidiano é permeado por todo tipo de crenças:
* onde existe relação de causa e efeito, assim
a realidade é feita de causalidades, a ponto de serem previsíveis e
podermos controlar para o uso de nossas vidas.
* Comparando, quando dizemos que a casa da
Juliana é mais bonita que a do Roberto. Acreditamos que os fatos, a
realidade, as coisas, as pessoas, as situações podem ser avaliados,
julgados, comparados pela qualidade ou pela quantidade.
* Quando afirmamos “o sol é maior do que vemos”,
estamos acreditando que nossa percepção alcança as coisas de modo
diferente, ora como são em si mesmas, ora como parecem ser
dependendo das condições de visibilidade ou da localização e
movimento dos objetos. Assim acreditamos que o espaço existe que
possui qualidades e quantidades e pode ser medido. Apesar de
percebermos as coisas diferentemente de como elas “são”, nem por
isso estamos criando uma realidade à parte, ou seja, não estamos
ficando malucos ou sonhando.
* Sobre a afirmação do que seja a verdade:
quando alguém chama o outro de mentiroso é porque diferentemente do
sonho, da loucura na mentira não existe a ilusão involuntária. Há
diferença entre a verdade e a mentira. O erro é deliberado, volitivo
isto é, nasce de uma intenção.
Então filosofar é, segundo Scheller, amar o
ser das coisas. A filosofia sempre terá um caráter racional,
porém ele reconhece que o âmbito da realidade é mais amplo do que a
da razão. Nesse sentido, mesmo marcados pela circunscrição corporal,
assegurados de certa forma pelos automatismos, nosso inconsciente
permite irmos para além do imediato do que é dado, assim sendo a
técnica Ramain Thiers coloca-se como instrumento de quebra dos
controles e é sensível a exploração do que não é imediato, mas
subliminar, se pudéssemos usar de uma semântica seria o vislumbrar
das dobras de uma roupa.
Marina Aparecida Abelha Stremlow é MS em
Subjetividade e Contemporaneidade, Psicóloga e Sociopsicomotricista
Ramain-Thiers.
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