Artigo 1
BRINCAR,
O QUE É?
por
Thereza
Sampaio
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BRINCAR,
O QUE É?
REFLEXÕES
SOBRE O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃO INFANTIS E NA CLÍNICA
PSICOPEDAGÓGICA
Thereza Sampaio
Eu faço mar. você barco
vamos brincar de
viagem.
Eu sou remo, você
âncora
no mar precisa coragem.
Eu sou vela, você
mastro
vamos correr pra
outra margem.
Eu faço mar, você
barco
vamos brincar de
viagem
(Belô Velloso)
Brincar, o que é?
Penso que brincar está associado à infância, é algo que as crianças
fazem. Mas por que o fazem?
O Dicionário Houaiss (2001, p. 513-14) define
o brincar, entre outras acepções como:
Distrair-se com
jogos infantis, representando papéis fictícios; menear, tamborilar,
mexer em algo distraidamente por compulsão ou para passar o tempo;
não falar a sério; não demonstrar interesse, não dar importância;
não levar (algo) a sério; agir com leviandade ou imprudência; tirar
gozo, distração ou proveito, desfrutar...
As acepções acima me levam a refletir sobre o
que pensa o senso comum adulto a respeito do brincar: não é para ser
levado a sério; é só brincadeira. Talvez essas concepções ainda
estejam muito carregadas das idéias de um passado, que acredito
ainda presente, quando crianças não tinham vez nem voz; crianças não
tinham querer.
Contudo, se
dermos vez, voz e querer a uma criança, como o fizeram Aberastury,
A. (1992), Dolto, F. (1999), Fernández, A. (1991, 2001, 2005),
Rodulfo, R. (1990), Vigotski, L. (2008), Wallon, H. (2007) e
Winnicott, D. (1975, 1979) entre muitos outros, talvez possamos
entender o brincar sob um outro prisma. É sobre esse brincar que
quero refletir.
O
BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Crianças brincam e brincar é importante. E
sério.
O corpo e o brincar proporcionam as primeiras
aprendizagens do ser humano. Segundo Rodulfo, R. (1990, p. 91) não
há atividade significativa no desenvolvimento da simbolização
infantil que não passe ― vertebralmente pelo brincar. Chama ainda a
nossa atenção para a importância em diferenciar brincar e brinquedo,
já que este ―remete ao produto de certa atividade, a um produto com
determinados conteúdos, a atividade em si deve ser marcada pelo
verbo no infinitivo, que indica seu caráter de produção.
Wallon, H. (2007,
p. 54) afirma que o brincar é a atividade própria da criança e que
se confunde com toda a sua atividade enquanto esta permanecer
espontânea, sem influência das disciplinas educativas. O autor
divide o brincar em: brincadeiras funcionais, de ficção, de
aquisição e de fabricação.
As brincadeiras funcionais encontram-se no
primeiro estágio do bebê e são movimentos simples: estender e
encolher os braços, produzir ruídos. São atividades que buscam um
efeito e são importantes para o aprendizado do uso calculado e
adequado dos nossos gestos.
As brincadeiras de ficção, ou faz-de-conta,
como o brincar de boneca ou ser super-herói, permitem à criança
vivenciar no simbólico aquilo que não pode viver na realidade.
As brincadeiras de aquisição parecem captar
toda a atenção da criança, que se esforça para tudo ver, entender e
ouvir. Já nas brincadeiras de fabricação, ela junta e combina
objetos, modifica-os, cria novos.
Freud, S. (1976), no seu texto Além do
Princípio do Prazer, relata uma seqüência lúdica que observou
durante semanas em um menino de 18 meses, seu neto. A atividade
consistia em jogar fora e para longe de si os objetos que lhe caiam
nas mãos, pronunciando com ar de júbilo um som que a mãe e o
observador interpretaram como sendo a palavra fort, (longe). Este
era o primeiro jogo desta criança, que revela prazer em pedir ao
adulto que lhe devolva o que jogou longe. O menino é descrito como
tranqüilo; respeita a ordem dos adultos e não toca nos objetos que
lhe são proibidos. Possuía apenas rudimentos de linguagem e de modo
algum era precoce no seu desenvolvimento intelectual. Também não
reclamava durante as ausências da mãe. Esta atividade torna-se ainda
mais claramente lúdica quando ele começa a usar um carretel amarrado
a um cordão que retém em sua mão. Lança o carretel dizendo fort e
satisfaz-se, sobretudo quando o puxa, fazendo voltar para si o
carretel, pronunciando a palavra da (aqui).
O estudo desta seqüência é um exemplo de como,
por meio do brincar e do jogo simbólico, a criança utiliza o
comportamento ativo que obriga a mãe a voltar, ao invés de sofrer
passivamente com a sua ausência. Também se pode dizer que, ao jogar
o objeto, a criança atrai a atenção da mãe e demonstra a sua
agressividade, como se lhe dissesse: ―eu jogo você fora, já que me
abandona. Com o carretel pode-se observar que o jogo de fazer
desaparecer um objeto, sabendo que ele pode reaparecer, é uma
atividade simbólica e a criança já não necessita da presença do
adulto para que se satisfaça com o jogo.
Trago o relato desta observação pela ênfase
dada ao estudo do brincar espontâneo na infância, à sua riqueza e
importância para o desenvolvimento da inteligência e manipulação do
pensamento simbólico.
Winnicott, D. (1979, p. 162) aponta diversos
motivos para o brincar infantil, tais como: prazer, dominar
angústias, adquirir experiência.
Crianças gostam de brincar; têm prazer nas
experiências físicas e emocionais proporcionadas pela brincadeira e
criam brincadeiras com facilidade. No entanto, é mais difícil
perceber que também podem, pelo brincar, tentar dominar angústias ou
controlar idéias e impulsos que as provoquem.
A criança adquire experiência na brincadeira e
na fantasia. As personalidades das crianças ―evoluem por intermédio
de suas próprias brincadeiras e das invenções de brincadeiras feitas
por outras crianças e por adultos. (WINNICOTT, 1979, p. 163).
Para este autor, em sua obra O Brincar e a
Realidade (1975), o brincar tem um lugar e um tempo, localiza-se no
espaço transicional, no espaço potencial entre o individuo e o meio
ambiente (originalmente o objeto). O uso desse espaço é determinado
pelas experiências de vida vivenciadas desde os estágios primitivos
de existência do sujeito, que une mãe e bebê. Inicialmente fundido
ao objeto, o bebê desenvolve-se, se encontra um relacionamento de
confiança, no interjogo entre a realidade psíquica e experiência de
controle de objetos reais, presente no brincar. O uso de um objeto
transicional seria, portanto, o primeiro uso de um símbolo pela
criança como também a primeira experiência da brincadeira. Para
Rosa, S (2002, p. 31) a principal função dos objetos e fenômenos
transacionais é ―dar forma a um território que será sempre
importante para o ser humano, um território de ‗descanso‘, uma área
não contestada da experiência onde terá lugar o brincar e, mais
tarde, a experiência cultural.
― Brincar é fazer. (Winnicott, 1975, p. 63). A
experiência criativa começa com o viver criativo, manifestado
primeiramente na brincadeira. E, para o bebê,
--- todo e qualquer pormenor de sua vida
constitui exemplo do viver criativo.
Dada a oportunidade, o bebê começa a viver
criativamente e a utilizar objetos reais para neles e com eles ser
criativo. Se o bebê não receber essa oportunidade, então não
existirá área em que possa brincar, ou ter experiência cultural,
disso decorrendo que não existirão vínculos com a herança cultural,
nem contribuição para o fundo cultural. (WINNICOTT, 1975, p. 141).
Uma criança, a quem não foi dada a
oportunidade de descobrir e viver criativamente, seria uma criança
incapaz de brincar e com pouca capacidade de experiência cultural.
Winnicott afirma que:
É a brincadeira que é universal e que é a
própria saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde;
o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma
forma de comunicação na psicoterapia; (...) (WINNICOTT, 1975, p. 63)
Segundo Dolto, F. (1999) o brincar sadio do ser humano, desde suas
primeiras atividades lúdicas, é sempre inventivo e criativo, nunca
estereotipado.
Dolto, F. (1999, p.112) também faz referência
a jogos associados a etapas do desenvolvimento. Aos jogos de
perceber e explorar seguem-se os jogos que lidam com o ter e o
guardar e, depois, os jogos de fazer. Com a descoberta das
características sexuais, os jogos se diferenciam entre meninos e
meninas. Meninos gostam de construir para depois destruir. Se
brincam em grupos, a brincadeira é ruidosa; brincam de guerra, são
todos generais. As meninas querem brincar na casa construída,
brincam de bonecas; querem se fazer bonitas e são todas princesas. ―Todo
jogo é mediador de desejo, traz consigo uma satisfação e permite
expressar seu desejo aos outros, em jogos compartilhados. (DOLTO,
1999, p. 113).
Para Dolto, F. (1999, p. 110) uma criança
saudável é uma criança que brinca. ―Privar uma criança de brincar é
privá-la do prazer de viver.
Para Vigotski, L. (2008, p. 108) o brincar
infantil é de grande importância na análise do processo de
constituição do sujeito. Apresenta o brincar como uma atividade pela
qual os significados são construídos social e historicamente e que
também permite o surgimento de outros significados e sentidos. O
brincar e o jogo de faz-de-conta são considerados espaços de
construção de conhecimentos pelas crianças que se apropriam, de
maneira específica, dos significados que permeiam essas atividades,
dando-lhes sentido singular.
Ainda segundo Vigotski, L. (2008), o
desenvolvimento humano é um processo social, necessariamente mediado
por um outro social, no contexto da própria cultura. A criança nasce,
portanto, em um meio cultural imerso em significações social e
historicamente produzidas, definidas e codificadas, que são
constantemente ressignificadas e apropriadas pelos sujeitos em
relação com outros sujeitos. O brincar é importante para o
desenvolvimento infantil na medida em que contribui para a mudança
na relação da criança com os objetos. É na brincadeira que a criança
pode transformar e produzir novos significados. Ela pode dar outros
sentidos aos objetos e jogos a partir de sua própria imaginação ou
na trama de relações com os amigos com os quais produz novos
sentidos e os compartilha.
Ainda Vigotski, L. (2008, p. 112) afirma que a
criação de situações imaginárias na brincadeira surge da tensão
entre a criança e a sociedade e o brincar liberta o individuo das
restrições impostas pela realidade imediata ao tempo em que lhe
oferece oportunidade para controlar uma situação existente. A
brincadeira é a realização de algo que não pode ser imediatamente
satisfeito. Neste sentido, a brincadeira pode representar
freqüentemente a zona de desenvolvimento proximal e promove
desenvolvimento.
Finalmente, nesta tentativa de abordar
diversas contribuições que consideram a importância do brincar como
instrumento da prática psicopedagógica e da elaboração de conceitos
à formulação desta prática, não posso deixar de me reportar às
conseqüências que resultam da introdução da teoria do significante,
elemento essencial da conceituação lacaniana em sua incidência na
investigação da constituição subjetiva. (LACAN, 1966). O homem é um
ser que fala, mas já é falado antes de nascer. A aquisição da
linguagem e o uso que dela pode fazer estruturam o sujeito, que se
define como um efeito do significante. Resulta daí que não se pode
entender uma criança, um adolescente ou um mesmo adulto, sem
retroceder até onde ela ainda não estava. E isto significa buscar as
suas relações com o discurso do grande outro, com o qual, desde
sempre a criança, ainda bebê, brinca jogando com os fonemas, como
seus primeiros brinquedos, em seus gorjeios e lalações.
Nesta perspectiva, o brincar — seja com os
fonemas ou as palavras, seja com elementos do seu próprio corpo ou
do corpo da mãe, seja com qualquer objeto, empregado em sua
atividade lúdica —deve ser tomado, mais além de sua dimensão
simbólica, como elemento significante (LEFORT, R. e LEFORT, R., 1984
e RODULFO, R., 1990), de um discurso que o sujeito não sabe, ou
ainda não sabe, ou não pode articular.
Atribuindo ao brinquedo sua dimensão de
significante, o brincar permite uma avaliação muito sensível do
estado de desenvolvimento simbólico de uma criança, pois o discurso
é um encadeamento de significantes e o brincar, que implica o espaço
das distâncias abolidas, o desaparecimento simbolizado e a
transicionalidade, abre uma rica possibilidade para a abordagem de
discursos sem palavras, daqueles que não falam, mas articulam
significantes ao brincar.
Sozinhas ou acompanhadas, seja na brincadeira
egocêntrica ou não, em jogos de regras ou simbólicos, as crianças
brincam. E ao brincar constroem um mundo segundo o seu olhar, suas
vivências e seus sentimentos, estabelecendo relações com as pessoas,
os objetos, com o saber e o não-saber.
O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Não há forma possível de se tornar adulto sem
passar pela infância. Também não há forma de pensar sobre
desenvolvimento e educação infantil sem levar em consideração o
lúdico e o brincar, atividades que ajudam à criança a se constituir
sujeito e a moldar sua visão de mundo.
Se ao brincar a criança coloca em ação seus
sentimentos e emoções; se é brincando e jogando que ela ordena sua
maneira de enxergar o mundo, assimila experiências e informações,
incorpora atividades e valores, será imprescindível brincar também
na escola.
Fernández, A.
(2005, p. 99) relata a conversa de duas meninas acerca do aprender.
Ao final da conversa a menor delas chega à conclusão do que vem a
ser aprender: ―aprender é quase tão lindo quanto brincar. Esta é,
para mim, uma das melhores definições de aprender. Penso que a
diferença ou a distância marcada pelo ―quase‖ pode estar no quantum
de alegria de quem brinca e aprende. E de quem ensina. O desafio de
quem ensina é abrir espaço para o brincar e promover saber no espaço
de trabalho, deslocando para este lugar o prazer e a criatividade.
―Um bom ensinante é um bom aprendente. (FERNÁNDEZ, A., 2001, p.36).
Ensinante não é
apenas o professor; é todo aquele que ensina. Aprendente não é
apenas o aluno; é todo aquele que aprende. Aprendente e ensinante
são papéis complementares, intercambiáveis, dialéticos. Aprendente e
ensinante têm a responsabilidade compartilhada do processo de
aprender; estão juntos nesse terreno de risco, no desafio de
aprender e ensinar. (FERNÁNDEZ. A., 2001, p. 33).
Mais do que
ensinar (mostrar) conteúdos de conhecimentos, ser ensinante
significa abrir um espaço para aprender. Espaço objetivo-subjetivo
em que se realizam dois trabalhos simultâneos:
a) construção de conhecimentos;
b) construção de si mesmo, como sujeito
criativo e pensante. (FERNÁNDEZ, A., 2001, p. 30).
Ser ensinante é poder fazer o trabalho
subjetivo de aceitar que, tal como um objeto transicional, a prova
de que fomos úteis está em que o aprendente não necessita mais de
nós. (FERNÁNDEZ, A., 2001, p. 35).
Ser aprendente é aprender ao mesmo tempo em
que se constrói como sujeito. Processos de aprendizagem são
construtores de autoria.
Qual o plus que o
aprender outorga? Algo mais profundo, subjetivante (além do
esquecimento do conteúdo aprendido) permanece e transporta-se para
todo o acionar do sujeito aprendente: é prazer de dominar... a
bicicleta, instrumento – lápis – escrita - conhecimento. Prazer de
dirigir, de ter autonomia, prazer de superar os limites de
velocidade que o organismo permite, prazer de transcender o tempo e
o espaço. Prazer de mover-se sobre a terra sem pisá-la. Prazer de
apropriar-se de sua autoria produtiva. (FERNÁNDEZ, A., 2001, p. 31)
Apesar de
relacionados, brincar não é o mesmo que aprender. Ocorrem no mesmo
espaço, o espaço transicional como descrito por Winnicott, D.
(1975), espaço também da criatividade e da experiência cultural. No
que diferem, então? Aprender implica no reconhecimento de certa
legalidade que não é necessária no brincar. ―Uma das diferenças
entre jogar e aprender é que aprender se situa entre o ‗desejo‘ de
conseguir algo e consegui-lo, ainda que o jogar seja um modo
consegui-lo em outro espaço. (FERNÁNDEZ, A., 2005, p. 99). Será
preciso combinar o desejo com a possibilidade de realizá-lo para que
o aprender ocorra.
A escola é o lugar onde crianças encontram
adultos investidos do poder de ensinar. Possibilitar a potência
criativa do brincar e do aprender dependerá de encontrarmos
ensinantes que ―desfrutem o aprender, o brincar com as idéias e as
palavras, com o sentido do humor, com as perguntas de seus alunos. (FERNÁNDEZ,
A., 2001, p. 36).
Aprender é apropriar-se da linguagem; é historiar-se, recordar o
passado para despertar-se ao futuro; é deixar-se surpreender pelo já
conhecido. Aprender é reconhecer-se, admitir-se. Crer e criar.
Arriscar-se a fazer dos sonhos textos visíveis e possíveis. Só será
possível que os professores possam gerar espaços de brincar-aprender
para seus alunos quando eles simultaneamente os construírem para si
mesmos.
Brincando
descobre-se a riqueza da linguagem, aprendendo vamos apropriando-nos
dela. (FERNÁNDEZ, A., 2001, p. 36)
Será necessário
que, também na escola, a criança tenha alegria em aventurar-se na
fantasia e no imaginário, transite livremente entre o que é
apresentado como objeto do conhecimento e a subjetividade para que
possa estabelecer conexões entre o saber e o não saber, o novo e o
velho, e formule hipóteses.
E como se brinca na escola?
É a esse brincar subjetivante e criativo,
capaz de promover autonomia e autoria de pensamento que a escola
geralmente se refere? Penso que não.
Pude observar uma
criança de três anos brincando sozinha, completamente entretida num
faz-de-conta. Brincava de escolinha; era a professora e os bonecos
eram seus alunos. Pediu que todos ficassem sentados e quietos para
lhes contar uma estória. De repente reclama com alguns dos alunos
que lhe desobedecem. ―João fique quieto! O que é isso Júlia? JOÃO!
Assim não vai ganhar pirulito depois da estória. Micael, você vai
ficar de castigo! Eu estou falando sério, não estou brincando!
O que faz essa criança no jogo simbólico?
Reproduz, no brincar, o modelo ensinante/aprendente vivenciado na
escola? Se assim o for, como ela elabora, pelo brincar, as ameaças
de castigo e represálias que sofre na escola? O que pensa essa
escola a respeito do brincar e do aprender? Que lugar ele ocupa no
dia-a-dia da escola? Do que brinca essa criança nessa escola? Que
estórias ouve? Quem as conta? Quem as escolhe? Por que ouvir
estórias? Por que ouvir estórias quietos e sentados? Não haveria uma
forma de brincar com a estória, vivê-la, seja imitando gestos,
fazendo sons, representando-a? Como controlar quietos e sentados,
por exemplo, todo o medo e angústia que o Lobo Mau provoca?
O jogo simbólico e o brincar, contudo, não são
as únicas atividades lúdicas presentes na escola. Há também os jogos
com regras. Macedo, L. (2005, p.14) diferencia o brincar e o jogar.
Para ele, o jogo é um dos mais importantes substitutos do brincar.
O jogar é o brincar em um contexto de regras e
com um objetivo predefinido. Jogar certo, segundo certas regras e
objetivos, diferencia-se de jogar bem, ou seja, da qualidade e do
efeito das decisões e riscos. O brincar é um jogar com idéias,
sentimentos, pessoas, situações e objetos em que as regulações e os
objetivos não estão necessariamente predeterminados. No jogo, ganha-se
ou perde-se. Nas brincadeiras, diverte-se, passa-se um tempo, faz-se
de conta. No jogo, as delimitações (tabuleiro, peças, objetivos,
regras, alternância entre jogadores, tempo, etc.) são condições
fundamentais para sua realização. Nas brincadeiras, tais condições
não são necessárias. O jogar é uma brincadeira organizada,
convencional, com papéis e posições demarcadas. O que surpreende no
jogar é seu resultado ou certas reações dos jogadores. O que
surpreende nas brincadeiras é sua própria composição ou realização.
O jogo é uma brincadeira que evoluiu. A brincadeira é o que será do
jogo, é sua antecipação, é sua condição primordial. A brincadeira é
uma necessidade da criança; o jogo, uma de suas possibilidades à
medida que nos tornamos mais velhos. Quem brinca sobreviveu (simbolicamente);
quem joga jurou (regras, propósitos, responsabilidades, comparações).
(MACEDO, L., 2005, p. 14)
Ainda segundo
esse autor (2005, p. 16) valorizar o lúdico na aprendizagem pode ser
uma forma de aproximá-la da criança, já que para ela apenas o lúdico
faz sentido. Dizer que ―a escola é fundamental para o bem das
crianças é um discurso e uma exigência dos mais velhos.
É fato que o ciclo de escolarização básica é
obrigatório. Crianças são obrigadas a freqüentarem a escola até 15
ou 18 anos. Essa obrigatoriedade garante, também, o desejo de
aprender?
Escola
obrigatória que não é lúdica não segura alunos, pois eles não sabem
nem têm recursos cognitivos para, em sua perspectiva, pensar na
escola como algo que lhes será bom em um futuro remoto, aplicada a
profissões que eles nem sabem o que significam. As crianças vivem
seu momento. Daí o interesse despertado por certas atividades como
jogos e brincadeiras. (MACEDO, L., 2005, p. 17)
Como avaliar a dimensão lúdica das atividades
escolares? Como envolver as crianças nas tarefas escolares? Como
ensinar àquelas que não encontram sentido nessas tarefas? Por que
aprender se os professores não desejam ensinar ou parecem não saber
o sentido daquilo que ensinam?
(...) quantas crianças em idade escolar
estudam por prazer ou por interesse, e não controladas por nota?
Quanto da motivação caracteristicamente humana pela busca de
conhecimento sobrevive às nossas escolas – das piores às melhores?
Quanto dessa motivação sobrevive até em nós, professores, sob as
pressões de produção e avaliação? Será que vamos cometer a proeza de
conseguir um dia que as crianças brinquem só porque, como, onde e
quando se espera que elas brinquem? (LORDELO, E. e CARVALHO, A. M.,
2003)
Macedo, L. (2005,
p. 16) alerta-nos para o fato de que jogar pressupõe um convite:
vamos jogar? Cabe ao convidado decidir se quer ou não fazer parte da
trama do jogo.
No tabuleiro chamado escola, as crianças só
podem ser peças de nosso jogo, ainda que justificado para o bem
delas, ou também pode ser jogadores que decidem se querem ou não
jogar e, mais que isso, como querem jogar? (MACEDO, L., 2005, p. 16)
Fernández, A.
(2001, p. 33) chama a nossa atenção para o uso de jogos de
competição na aprendizagem. O aprender é mesclado com o perigo de
perder ou ficar de fora da então chamada ―brincadeira‖. Numa
competição alguém tem que chegar em primeiro, e alguém tem que
perder. Será disso que trata a aprendizagem? ―A escola, transformada
em centro de treinamento e competição, é produtora de neurose.
A escola — diz Mannoni —, depois da família,
converteu-se hoje no lugar escolhido para fabricar neuroses — que
são ‗tratadas‘ posteriormente em escolas paralelas chamadas de
hospitais de dia. É necessário dizer que a adaptação escolar —
escreve F. Dolto — é agora, salvo raras exceções, um sintoma
importante de neurose. Os analistas encontram-se com uma forma nova
de enfermidade que não precisa ser ‗tratada‘. Consiste na negativa
de adaptar-se, sinal de saúde na criança que rechaça esta mentira
mutiladora em que a escola o aprisiona. (FERNÁNDEZ, A., 1991, p.
88).
Penso que é
observável, na maioria de nossas escolas atualmente, a urgência de
trabalhar com as crianças os conteúdos formais da aprendizagem cada
vez mais cedo, muitas vezes em detrimento da dimensão lúdica, até
mesmo na educação infantil.
Rapidamente lhes
impomos aquilo que constitui nossa principal ferramenta de
conhecimento e domínio do mundo: os conceitos científicos, a
linguagem das convenções e os signos arbitrários, com seus poderes
de generalidade e abstração. (MACEDO, L., 2005, p. 20)
Faz-se necessário
garantir o lugar do brincar na escola, estabelecer uma parceria
entre aprendente e ensinante e construir a história de quem está no
lugar de quem ensina e de quem aprende. Brincando, podemos trocar de
lugar sem comprometer a aprendizagem significativa, sem perder a
alegria, interligando brincar, criar, fazer, jogar, aprender.
O BRINCAR NA CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA
Aberastury, A
(1992) pontua que as formas de brincar são características de etapas
do desenvolvimento infantil e que há razões para um brinquedo
aparecer em determinada idade e não em outra. E afirma que
o não brincar no momento com o brinquedo
correspondente acarreta perturbações, e o fato de não surgir em
determinado modo de brincar pode ser um sinal de mau desenvolvimento.
(ABERASTURY, 1992, p. 12)
Essas formas
características do brincar em cada idade oferecem à criança
experiências que correspondem às necessidades específicas de cada
etapa do desenvolvimento.
Petot, J-M.
(1987, p. 88) relata que Melanie Klein foi a iniciadora da técnica
psicanalítica com crianças, fazendo uma psicanálise baseada no
lúdico. Para ela o jogo infantil espelha os conflitos e as fantasias
inconscientes e devem ser interpretadas da mesma forma que os sonhos
e as associações livres do adulto. A psicanálise com criança torna-se
possível porque Klein soube manejar e interpretar o brincar. O
recurso simbólico de Melanie Klein foi a linguagem lúdica. O brincar
é simbólico, senão não há jogo. O Jogo supõe a capacidade de dizer:
―isto não é real; é jogo.
Ao longo de toda
obra Kleiniana fica claramente indicado que o jogo não é apenas
satisfação de desejo, mas também triunfo e domínio da realidade
desagradável. Para Klein a inibição no jogo tem o mesmo valor da
inibição intelectual do adulto.
Em geral a
psicanálise infantil de origem kleiniana centra-se no jogo, tomando-o,
porém, como um processo defensivo e como um possibilitador de
elaboração de situações traumáticas, sem considerá-lo quanto às
possibilidades criativas, de aprendizagem, de identidade e de
domínio. Winnicott vai ensinar-nos também como a criança joga, para
expressar agressão, para adquirir experiência, para controlar
ansiedade, para estabelecer contatos sociais como integração da
personalidade e por prazer. (FERNÁNDEZ, A., 1991, p. 166).
Winnicott, D. (1975) acredita que o sucesso da
psicoterapia depende da capacidade de brincar, tanto do terapeuta
como do paciente:
A psicoterapia se efetua na sobreposição de
duas áreas do brincar, a do paciente e a do terapeuta. A
psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas. Em
conseqüência, onde o brincar não é possível, o trabalho efetuado
pelo terapeuta é dirigido então no sentido de trazer o paciente de
um estado em que não é capaz de brincar para um estado em que o é. (WINNICOTT,
1975, p. 59).
E o que dizer do brincar na clínica
psicopedagógica?
O objeto da psicopedagogia é o ser
cognoscente, o sujeito que aprende. Ao psicopedagogo importa saber a
forma como cada sujeito aprende. Penso que existe uma interseção
entre o brincar e o aprender. É pelo brincar que as primeiras
aprendizagens ocorrem, que o sujeito se mostra e se constrói. A
forma como brinca influi na forma como aprende e dá significado a
sua realidade. Se a forma como o sujeito brinca influi na forma como
aprende, algum déficit na aprendizagem pode estar vinculado a um
possível déficit no brincar. Assim, acredito que também a clínica
psicopedagógica seja um espaço onde duas pessoas, psicopedagogo e
criança (adolescente ou adulto), brincam juntas. E, ao criar um
espaço onde seja possível brincar, também se cria a possibilidade do
aprender.
Nossos pacientes apresentam um déficit no
jogar, em correlação com seu déficit de aprendizagem. A prática
clínica nos demonstrou, por outro lado, como ao instrumentar o
brincar no tratamento, criando esse espaço compartilhado de
confiança, pode-se ir modificando a rigidez ou a estereotipia das
modalidades das aprendizagens sintomáticas. Dizemos que o objetivo
do trabalho psicopedagógico dirige-se a ajudar a recuperar o prazer
perdido de aprender e a autonomia do exercício da inteligência, esta
conquista vem de um outro, e um espaço de confiança. (FERNÁNDEZ,
1991, p. 166-7).
Luzuriaga, I. (2008, p. 14) faz um alerta para
o quanto de ignorância e preconceito ainda existe no que diz
respeito às neuroses infantis. Para ela, uma grande porcentagem das
crianças diagnosticadas pela escola como débeis mentais é capaz de
aprender. Se acreditam nesse diagnóstico, essas crianças assumem sua
―doença‖, tornam-se desesperançosas, deixam de lutar e de lançar
sinais de alerta. E sofrem.
Para esta autora (2008, p. 17), toda neurose
implica também em um ataque contra a capacidade intelectual do
sujeito, já que ―é um sistema estruturado de tentativas de auto-engano
que tem como fim impedir que ela funcione ‗normalmente‘ tanto ao
dirigir-se para fora, ao mundo dos objetos, como para dentro, ao
mundo interior‖.
A maioria das neuroses infantis é
diagnosticada em idade escolar, seja porque elas se tornam mais
evidentes, seja porque os pais já não podem mais suportar. A escola
seria, então, um teste obrigatório de adaptação da criança à
realidade, ao tempo em que também teria a função de detectar
problemas neuróticos na infância. Tal função poderia ser muito mais
eficaz se o sistema de educação vigente valorizasse mais a
capacidade intelectual criativa e dinâmica, ao invés de condutas
intelectuais obsessivas e uma desmedida busca por informação. (LUZURIAGA,
I., 2008, p. 18). Sintoma só é sintoma porque incomoda, atrapalha,
alerta. Não aprender é sintoma. Ser desatento é sintoma. Hiperativo
também. E o que dizer do caderno compulsivamente organizado? É
sintoma? E o mero repetir do que foi visto em aula, sem questionar
nem se apropriar de um saber, é sintoma? Penso que sim. Contudo,
estes são sintomas mais difíceis de chegar à clínica psicopedagógica,
já que não incomodam o viver na escola, como o não aprender, a
desatenção, a indisciplina. Os alertas que lançam parecem
impossíveis de serem decodificados pela escola.
Incomodando seu entorno ou não, o sintoma
neurótico na infância interfere na capacidade intelectual. Luzuriaga,
I. (2008, p. 19-20) defende que se coloque ênfase não na ausência ou
mal funcionamento da inteligência, mas sim num funcionar ativo da
inteligência contra si mesma, ―algo como a existência de uma
contrainteligências orgânica e fértil em recursos, que atua sem
cessar, deixando, às vezes, a criança exausta.
Em certo sentido,
ainda que nem sempre, é outro nome que damos ao instinto de morte,
tal como ele se manifesta no plano intelectual. De fato, a
inteligência é vida: sua essência é vida. (...)
O instinto de vida é movimento, impulso para o
outro, para conhecer-lhe e fundir-se a ele em diferentes graus.
A contrainteligência, ao contrário, é
geralmente tanática Sua essência é a negação, a não compreensão, a
desconexão de vínculos significativos. É separação e, portanto,
morte. (LUZIRIAGA, I., 2008, p. 19)
Para Fernández, A. (1991, p. 86) a
especificidade do sintoma na aprendizagem consiste em bloquear a
inteligência e, mas precisamente, a capacidade de aprender, que não
é parte do corpo nem uma função corporal. ―A estrutura inteligente
forma parte do inconsciente, e a aprendizagem é uma função em que
participam tanto a estrutura inteligente como a estrutura desejante,
ambas inconscientes, É possível encontrar uma inteligência detida ou
transformada em diferentes níveis de desorganização, produto de um
sintoma instalado no momento de seu desenvolvimento. ―O sintoma de
aprendizagem é a inteligência detida, construindo de forma constante
seu aprisionamento‖. O sintoma de aprendizagem é a
contrainteligência. A criança, que vivencia ansiedades e conflitos
que não consegue suportar, pode fazer voltar contra si própria a
inteligência e, assim, evitar qualquer união ou combinação que
coloque em movimento a capacidade de criar novas formas vitais,
sejam elas biológicas ou mentais. Ainda que pareça paradoxal, ―deve
possuir uma boa dose de inteligência para conseguir não ser
inteligente‖. (LUZIRIAGA, I., 2008, p. 21).
E o que fazer para que a inteligência volte a
atuar a favor de si mesma, do instinto de vida, do próprio sujeito e
do aprender?
Talvez brincar.
Pelo brincar a criança expressa sentimentos, desejos, medos e
conflitos. Se estivermos atentos a esse brincar, como brinca, o que
escolhe para brincar, o que evita, com que tipo de material brinca,
como organiza o seu brincar, quem sabe poderemos intervir e ajudá-la
a superar bloqueios e retomar o seu aprender. Será preciso ser capaz
de brincar com a criança para possibilitar espaços de significação
na clínica. Será igualmente preciso conquistar a confiança a cada
atendimento, a cada palavra e a cada brincadeira.
Fernández, A.
(2005, p. 17) afirma ser necessário jogar-brincar ―para pensar com
autoria, para poder manter nossos sonhos, para recordar o esquecido,
para suportar, e, até mesmo, superar muitos de nossos sofrimentos‖.
Essa autora diz que o ―psicodrama é jogar-brincar‖ e defende seu uso
em psicopedagogia, pois o aprender situa-se no mesmo espaço do jogar,
que descreve como espaço entre. ―Entre a ciência e a poesia, entre o
conhecimento e o saber, entre a subjetividade e a objetividade‖. (FERNÁNDEZ,
A., 2005, p. 69)
O jogar da criança não só é produtor do
sujeito enquanto sujeito desejante, mas também enquanto pensante. A
inteligência se constrói a partir do jogar-brincar. Um ato
inteligente é um ato de desadaptação criativa com a realidade.
Precisamos dar conta do que se nos oferece, para poder transformá-lo.
(...) Jogar é tomar e não tomar a legalidade
das coisas, jogar é tomar e não tomar a realidade das coisas. Jogar
é fazer experiências de ser autor. É fazer a experiência profunda,
trágica e maravilhosa de ser absolutamente diferente de todos os
outros e, por sua vez, semelhante a todos os outros. O jogar abre as
portas do pensar e do fazer. (FERNÁNDEZ, A., 2005, p. 71)
Crianças com
problemas de aprendizagem podem ter fraturas no brincar, o que
dificultaria a realização de psicodrama desde o início. Fernández,
A. (2005, p. 148) propõe que a arte do psicopedagogo esteja em ―propiciar
que o paciente transforme a atuação ou a ação em um jogo simbólico.
A partir daí se poderá passar ao jogo dramático e depois a um
psicodrama.
Ao incluir o brincar, brincadeiras e jogos
como formas de atuar na clínica psicopedagógica abre-se um espaço
para a criatividade e a fantasia. O lúdico envolve a imaginação, os
sonhos, as emoções e a fantasia. Ao jogar a criança expressa o que
lhe é mais subjetivo, de forma desinteressada e livre. Jogar é criar
uma possibilidade de reorganização daquele que joga, a partir do
reconhecimento de suas capacidades, sentimentos e conflitos que
emergem no jogo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando criança, andava de bicicleta pelo bairro onde morava, tinha
autonomia para ir sozinha para a casa de minhas avós ou de alguns
amigos. Meus bonecos tudo e nada podiam fazer. Meus bonecos faziam
aquilo que eu imaginava possível.
A forma de viver da atualidade faz com que a
mesma tecnologia colocada à serviço do homem, do aprender e do
brincar, seja geradora de estresse e depressão em adultos e crianças.
Apesar de ser de grande valia, a máquina não pode substituir o homem
enquanto sujeito desejante, pensante, criativo.
Diante da ameaça,
contudo, torna-se imperioso garantir espaço para o brincar, para a
criatividade e para a experiência cultural.
É inquestionável que novas tecnologias e
condições de vida são fenômenos que produzem mudanças no nível de
representação do corpo, do espaço e do tempo. Muitas das crianças
que conheço moram em apartamentos, não podem sair sozinhas, às vezes
brincam no playground. Jogam videogames, assistem televisão.
Crianças em ―gaiolas
jogando jogos que oferecem pouco ou nenhum espaço para a criação de
soluções novas, já que nos videogames as resoluções são previamente
programadas. Crianças muitas vezes com pouco contato com outras
crianças na maior parte do tempo. Crianças agitadas na escola,
diagnosticadas, rotuladas: é um TDAH. E medicadas.
E o que fazer? Viver de lembranças, presos a
uma nostalgia do passado? Queixarmo-nos do progresso? Penso que nem
uma coisa nem outra. Diante da irreversibilidade das mudanças que o
progresso traz, acredito que o melhor a fazer é encontrar uma forma
produtiva e criativa de integrá-las à escola e ao brincar infantil e
adulto.
Muito ainda há de ser pesquisado sobre essas
mudanças e suas conseqüências no corpo, no brincar, no aprender e no
viver dessas crianças e no futuro.
Entretanto, também penso que, enquanto se
pesquisa, é imprescindível garantir espaços onde o brincar, inerente
a toda e qualquer criança, possa ocorrer.
― Assim como jogar permite-nos fazer visíveis
nossos sonhos, aprender, enquanto nos constitui como autores,
permite-nos fazê-los possíveis. (FERNÁNDEZ, 2001, p. 74)
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Thereza Sampaio é Psicóloga, Psicopedagoga e
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