REFLEXÃO
A Subjetividade na
Contemporaneidade |
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A SUBJETIVIDADE NA CONTEMPORANEIDADE
Elisabete Cerqueira
O que é o sujeito nos tempos de hoje?
Subjetivo?
Sendo subjetivo um atributo ao sujeito ou atributo ao seu espírito.
Contemporâneo?
Sendo contemporâneo do mesmo tempo ou do nosso tempo.
O sujeito está no mundo e interage de acordo com as mudanças do
mundo onde se encontra com outros sujeitos.
É o sujeito da transformação que pensa, logo é.
Na simbologia bíblica, Moisés pergunta quando Deus aparece: Quem és?
E Deus responde: Eu sou quem sou. Eu sou o que sou. Eu sou.
Na cultura ocidental, o sujeito quando aparece para o outro, costuma
dizer: É uma boa pessoa ou não é uma boa pessoa. O sujeito se
reflete e se espelha no outro.
Descartes viu que havia dois mundos: um mundo que era relevante ao
conhecimento objetivo, científico - mundo dos objetos e outro mundo
de conhecimento subjetivo, intuitivo, reflexivo – mundo dos sujeitos.
De um lado, as ciências, as técnicas, a matemática e de outro, a
alma, o espírito, a sensibilidade, a filosofia e a literatura.
E ainda declara: Se duvido não posso duvidar do que duvido, portanto
penso. É o eu quem pensa.
O sujeito então é o Eu reconhecido e conhecido na sua autonomia, na
própria organização, no seu ritmo, no ambiente, na sua história, na
família que nasce, na sociedade que vive, na cultura que pertence,
na sua constituição biológica, na sua linguagem, no seu
desenvolvimento emocional e cognitivo, na sua identidade, diferença
e equivalência.
O Eu se refere ao sujeito pertencente a si mesmo, subjetivado e
objetivo.
No processo da Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers se observa e
experimenta uma ambivalência constante e inerente no sujeito
conforme as condições de inclusão e exclusão apresentadas e
interligadas subjetivamente entre si.
Quando ocorrem as invasões, sejam elas nos organismos ou entre os
sujeitos, imediatamente se reconhece os inimigos. Se o sistema está
forte o erro é reconhecido. Se o sistema é fraco o erro não é
reconhecido.
No setting, nos trabalhos de grupo, os confrontos do sujeito, na
transferência com as suas imagos infantis provocam uma tomada de
consciência de si mesmo e novamente aparece o movimento de inclusão
e exclusão, objetivando na linguagem, na língua, nos sonhos, nas
fantasias e no corpo a sua própria tradução, interpretação através
da verbalização.
No contato com os desenhos o sujeito se remete aos seus desejos –
condição interna e aos seus limites – condição externa,
decodificando e construindo a sua subjetividade.
Quando Descartes disse: “Penso logo Sou”, na realidade descobriu que
existia como sujeito, ou seja, reconhece e conhece a própria vida.
Observa-se que nos trabalhos de grupo, nas falas, nas incertezas,
que o Eu- sujeito existe e se reflete nos outros, condição para a
existência e reconhecimento.
Se falo, sou eu quem falo ou ele fala por mim quando creio falar -
então o Ele dá lugar ao Eu.
Também o sujeito oscila entre o tudo e o nada.
Para si mesmo é o centro do mundo, mas para o universo é nada.
O sujeito é muito mais lógico do que afeto.
Estas organizações fundamentais fundam e provocam as associações
constantes de inclusão e exclusão.
A subjetividade na contemporaneidade estabelece a interação entre a
ciência, a cultura e a psicoterapia buscando uma aproximação entre a
afetividade e a consciência do sujeito.
Lendo e traduzindo o sujeito na verticalidade, horizontalidade e
transversalidade viés protagonizado por Ramain-Thiers, propõe a
emergência do próprio pensamento, ou seja, do existir, facilitando
assim a interrogação e questionamentos na construção e atualização
do pensar e repensar, nas diferenças e semelhanças, continuidade e
descontinuidade.
A abertura das possibilidades e potencialidades pela oportunidade de
construção através da criatividade, da restauração e da reparação é
indiscutível e indubitavelmente abre a participação neste projeto,
por existência, por pensar e logo SER.
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