A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers
 
     

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

O MEDO DA  SEMENTINHA

 

O MEDO DA SEMENTINHA

 

                                Rubem Alves


                          
Vou contar a história de uma sementinha.

Sua mãe era uma palmeira enorme, forte, de galhos compridos que entravam pelo céu.

Um dia, quando estava ferrada no sono, uma coisa estranha aconteceu.

Créec!

Um barulho, coisa que ela nunca ouvira antes.

De repente ela viu uma coisa que nunca havia visto antes.

Seu mundinho fechado e escuro, a barriga da sua mãe, se abriu. Começou a entrar uma luz.

Chegara a hora de nascer.

Ela ouviu uma voz suave e amiga: Sementinha! Sementinha! Não precisa ter medo. Sou eu, sua mãe...

Ela olhou para fora e viu aquela árvore enorme sorrindo para ela.

- Nada de ruim vai acontecer, sementinha.

O mundo aqui fora é mais gostoso que o mundo aí
dentro.

Olhe, vou apresentá- lá aos seus amigos.

Mamãe árvore balançou suas folhas, chamando, e veio o vento, e passaram as nuvens, e o sol brilhou...

Também a mãe de todos, a terra, que nos dá vida...

E a sementinha olhou para aquela terra maravilhosa, que se perdia de vista, nas montanhas do horizonte, cobertas de coisas verdes e coloridas, vivas e alegres, boas para comer, boas para cheirar, boa para ver...

A sementinha sorriu. Estava feliz.

A sementinha tinha uma amiga, alguém que gostava dela.

Assim ela viveu alegre e tranqüila, por vários dias.

Até que sua mãe lhe contou da grande viagem.

- Sementinha, dentro de pouco tempo o vento vai soprar para longe. Quando isto acontece, você vai para longe, numa longa viagem, flutuando.

A sementinha estremeceu, teve medo, muito medo.

A sementinha chorou.

Partir é sempre muito triste.

A velha árvore chorou também.

Ela gostava muito de sua filha. Mas continuou:

- É preciso partir, para continuar a viver.

Sementinha que não parte acaba morrendo...

A sementinha arregalou os olhos.

- Mamãe, por favor, me explique...

A mãe continuou...

- É preciso partir, para se transformar em mãe.

É preciso que a sementinha deixe o colo de sua mãe, para se transformar em árvore...

- Transformar em árvore?

Mas eu sou só uma sementinha, muito pequena.

As árvores têm de ser grandes...

- Dentro de uma sementinha está uma árvore adormecida.

O vento vai levá- lá para longe...

De repente ele vai parar.

Você cairá na terra.

Ali na terra, você vai deixar de ser semente e vai se transformar em árvore.

A sementinha teve medo.

Ele não entendeu aquilo que sua mãe lhe disse: você vai deixar de ser semente.

Será que ela iria sumir, desaparecer?

Isto é coisa de dar arrepios.

Ela se achava tão bonitinha, redondinha, lisa, ah!

Seria bom continuar a ser semente, sempre.

Mas sua mãe adivinhou o que se passava na sua cabecinha.

- Sementinha que continua sendo sementinha para sempre, termina seca, esturricada.

Por fim, morre.

O vento sobrou forte.

A sementinha foi arrancada do colo de sua mãe.

Teve de dizer adeus e foi voando, voando, cada vez mais Longe...

Passou por insetos, pássaros, folhas, alto, bem alto...

Até que o vento parou.

E ela foi descendo, até o chão.

O chão era úmido.

A terra era fofa e amiga.

E ela, mãe-terra, começou a cantar uma canção de ninar.

- Dorme, dorme, sementinha...

A terra quente a abraçou.

Caiu a chuva.

Lá dentro da terra, sem que ela percebesse como uma coisa nova começou a aparecer e a mexer.

Coisas novas, diferentes: um brotinho verde.

O brotinho foi crescendo, e quanto mais crescia, mais a sementinha diminuía.

A sementinha preta e redonda estava sumindo para que ela nascesse uma árvore verde e grande.

O brotinho se mexia dentro da barriga da mãe-terra, para sair...

Até que apareceu, bem pequeno, do lado de fora.

E foi então que a sementinha acordou, só que ela não era mais uma sementinha.

Era uma árvore nenê.

Todas diferentes, verdes com folhas bem pequenas.

Mas ela se parecia com sua mãe.

 E se lembrou do que ela lhe tinha dito:

- Dentro de cada sementinha está uma árvore adormecida.
E ela se sentiu muito feliz.

Ia crescendo, seria mãe também.

Olhou para baixo, viu a terra.

Olhou para cima, viu as nuvens, o sol.

Sentiu que o vento brincava com suas folhas, e deu uma gostosa risada...

A sementinha

Era uma vez uma sementinha.

Veio o vento e derrubou a sementinha na terra e cobriu ela.

A sementinha criou folhas pequenas.

A sementinha se reproduziu, cresceu e se transformou numa grande árvore.
 

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