ARTIGO
de
Luiz Carlos Moreno |
|
FILOSOFIA: VIDA E TRABALHO
Luiz Carlos Moreno
Pedagogo
especializado em Andragogia
O que a
filosofia tem a ver com seu trabalho?
Esse texto,
nascido de uma questão colocada em sala de aula, tem como objetivos:
1) Relacionar e
discutir co-relações da filosofia com vida pessoal e profissional.
2) Explicar como
a filosofia influência a vida nas organizações humanas hoje, a
partir das exigências que são feitas aos trabalhadores.
Filha da filosofia, a ética renasceu
no vocabulário da mídia e ganhou contornos de modernidade. Nesta
medida, é atualíssimo discutir (e praticar?) os princípios éticos
nas relações pessoais, profissionais e nos negócios. Nesse contexto,
algumas expressões confundem-se: cidadania, ética, transparência,
responsabilidade social e sustentabilidade.
Filosofia, aqui é abordada a partir de
uma definição de Platão (427-347 a.C): "A filosofia começa com a
perplexidade", o que, segundo nossa percepção é muito apropriado
para os dias de hoje e "filosofia" é o uso do saber em proveito do
homem".
Ética aqui é abordada como área da
filosofia que estuda o comportamento humano. A palavra ética origina-se
do termo grego ethos, que significa "modo de ser", "caráter",
"costume", "comportamento". De fato, a ética é o estudo desses
aspectos do ser humano: por um lado, procurando descobrir o que está
por trás do nosso modo de ser e de agir. Por outro, procurando
estabelecer as maneiras mais convenientes de sermos e agirmos. Assim,
pode-se dizer que a ética trata do que é "bom" e do que é "mau" para
nós.
Bom e mau, ou melhor, bem e mal,
entretanto, são valores que não apresentam, para o ser humano, um
caráter absoluto. Ao longo dos tempos, nas mais diversas
civilizações, várias interpretações serão dadas a essas duas noções.
A ética acompanha esse desenvolvimento histórico, para que isso
sirva de base para uma reflexão sobre como ser ético no tempo
presente.
O que chama a
atenção é a fundamentação dos por quês, iniciada há mais de três mil
anos com Confúcio, Lao Tzé e Sun Tzu (se considerarmos a filosofia
oriental) ou 2.500 anos, se considerarmos a filosofia ocidental,
iniciada com Sócrates (470-399 a.C), cujo pensamento nos chegou
através de Platão. Esse período de 500 anos, historicamente é curto,
em termos de evolução.
As ciências hoje
conhecidas e praticadas têm sua origem na filosofia. No princípio,
não havia separação formal e algumas mentes privilegiadas começaram
a perceber o universo, o ar, a água, o fogo, a terra, os átomos, a
energia, a mente, o corpo e o coração, a vida, os homens, as
mulheres, a vida em sociedade, as crenças, a organização social, as
práticas e os costumes da vida em sociedade.
Cabe perguntar: o que aconteceu que
fica em nós a percepção de que aparentemente o mundo perdeu o rumo?
Uma resposta simples, mas possível: deixamos de pensar.
Segundo o
pensador peregrino contemporâneo Bstam-dzin-rgya-mtsho (1935),
mundialmente conhecido como Dalai Lama XIV, "Apesar de todo o
progresso material ocorrido no século passado e no atual, ainda
experimentamos sofrimento, especialmente no que se refere ao
bem-estar mental. Na verdade, o complexo meio de vida criado pela
modernização e globalização está gerando novos problemas e novas
causas de perturbação mental".
Esse mesmo pensador refere-se aos
ensinamentos sobre as quatro Nobres Verdades, descritas por
Xaquiamuni Buda (cerca do séc.VII a.C.)
1ª - A vida envolve sofrimento.
2ª - O sofrimento é causado, não acontece por acaso.
3ª - Podemos descobrir a causa e romper a cadeia causal para
impedir o sofrimento.
4ª - Devemos praticar para alcançar o fim explicado na terceira
verdade.
Nesse contexto explica-se o sofrimento
como: "o apego que leva ao renascimento, conectado à alegria e à
ganância, continuamente encontrando deleite e prazer ora aqui ora
ali. É o apego por satisfações sensuais, apego à existência e apego
à não-existência".
Finalmente, "para podermos
verdadeiramente entender a cessação do sofrimento, precisamos
primeiro reconhecer ao que origina nossas aflições mentais e
emocionais e, então, aprender a discernir que estados mentais agem
como antídotos diretos sobre elas".
Antonio Carlos
Olivieri, escritor e jornalista escreveu que para Aristóteles
(384-322 a.C), todas as atividades humanas aspiram a algum bem,
dentre os quais o maior é a felicidade. Segundo esse filósofo,
entretanto, a felicidade não consiste em prazeres ou riquezas.
Aristóteles considerava que o pensar é aquilo que mais caracteriza o
homem, concluindo daí que a felicidade consiste numa atividade da
alma que esteja de acordo com a razão.
Depois disso, vem os filósofos
hedonistas (do grego "hedoné" = "prazer"), segundo os quais, que
acreditavam que o bem se encontra no prazer. No entanto, convém
esclarecer que o principal representante do hedonismo grego, no
século três a.C., o filósofo Epicuro, considerava que os prazeres do
corpo são causa de ansiedade e sofrimento. Segundo ele, para a alma
permanecer imperturbável, é preciso desprezar os prazeres materiais
privilegiando-se os prazeres espirituais.
Genericamente, pode-se dizer que a
nossa civilização contemporânea é hedonista, pois identifica a
felicidade com o prazer, obtido principalmente pela aquisição de
bens de consumo: ter uma bela casa, carro, boas roupas, boa comida,
múltiplas experiências sexuais sem compromisso etc. E, também, na
dificuldade de suportar qualquer desconforto: doenças, problemas nos
relacionamentos pessoais, o fato de a morte ser inevitável etc.
Aparentemente, os apressados e os
incautos podem concluir que nos encontramos "num beco sem saída".
Não é bem assim. Não há nada de errado na aparente contradição
dentre mente e corpo. A dinâmica do mundo material é resultante de
forças e energias contrárias, assim, o desejo básico por felicidade,
paz e prazer, e o desejo igualmente básico de superar a dor e
sofrimento existem naturalmente em todos nós. Tendo em mente que nos
realizamos através do trabalho, cada um de nós quer, pode, tem como
objetivo e direito levar uma vida feliz e tranqüila e viver num
mundo feliz.
Precisamos nos relacionar com as
contradições e aprendermos a utilizá-las positiva e construtivamente,
não nascemos sabendo isso. A filosofia, desde que incorporada ao
patrimônio humano, ao longo desses 3 mil anos está nos ajudando a
aprender.
Para concluir,
cito uma passagem da obra, "Iluminando o Caminho" do Dalai Lama, ed.
Fundamento: "É importante compreender com clareza e convencer-se de
que emoções como ódio e ganância são forças interiores destrutivas
que podemos reduzir e superar. E que pontos de vista basicamente
saudáveis e éticos evitam o surgimento de muitas emoções e
pensamentos negativos".
Num contexto
amplo, todas as partes do mundo efetivamente tornaram-se parte de
nós mesmos.
|