ARTIGO
de
Sonia Loreto
de Miranda |
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O TRABALHO CORPORAL NAS PROPOSTAS DA SOCIOPSICOMOTRICIDADE
RAMAIN-THIERS.
Sonia Loreto de
Miranda.
Mestre
em Psicologia, Fonoaudióloga e Sociopsicomotricista Ramain-Thiers. Professora
da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda
O tema trabalho corporal é de bastante relevância para compreender
sua importância na organização neuropsicomotora do sujeito humano.
Em terapias da Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers, o trabalho
corporal (TC) é básico para promover a consciência de Si e de seus
comportamentos. A prática da Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers
consta de sessões com três momentos importantes: o TC, o trabalho de
mesa com a psicomotricidade diferenciada, através do uso de
orientadores, e verbalização. As propostas Ramain-Thiers são
permeadas de instruções, que instaura a Lei Social (Miranda, 2004).
A presente explanação enfoca o trabalho corporal (TC) objetivando
contribuir com descrições de práticas corporais necessárias a
possibilitar a integração do corpo, mente e emoções, na vivência dos
movimentos.
O TC consiste em favorecer vivências acionadoras da energia inerente
ao corpo que ativa o estado de atenção para poder apreender (sentir,
selecionar e captar) pela experiência vivida, possibilitando
percepções de Si, dos outros e dos objetos, no espaço e tempo.
Nessas vivências, o corpo se experiencia numa globalidade, cuja base
para toda atividade motora é a função tônica (Thiers, 1998).
O tônus realiza ações neuromusculares de contração e descontração,
proporcionando sensações táteis e cinestésicas de prazer versus
desprazer, consequentemente experiências de bem estar e mal estar.
Nisso, os gestos se organizam na busca do bem estar, despertado pela
motivação do agir, ajustando o tônus muscular.
O TC segue uma progressão terapêutica embasada no desenvolvimento
psicossexual de acordo com a concepção psicanalítica: fase oral,
anal, fálica e genital (na adolescência). As propostas são expressas
por partes pelo terapeuta, com uso de frases impessoais e
afirmativas, com voz clara e segura. A seguir, são descritas
atividades de cada fase, vivenciadas não em sequência, mas de acordo
com a análise dos momentos emocionais e os progressos gradativos na
terapia, cuja base teórica fundamenta-se em Thiers (1998) e a
experiência clínica pessoal.
A Fase Oral representa em Ramain-Thiers a reconstrução da maternagem
e egóica, período de relação dual, simbiótica com a mãe, quando a
boca assume espaço privilegiado de prazer para agir, interagir e
perceber a realidade externa. As atividades corporais devem ativar a
função tônica, na promoção do relaxamento, tornando o corpo
disponível a interagir. Exemplos de atividades são:
- Com edredon (coberta), realizar o enrolar x desenrolar,
desaparecer x aparecer, puxar o corpo no pano, movimentar o corpo
com o pano para um lado e o outro, levantar as pernas e soltá-las,
levantar o tronco e baixar. Vivenciar o olhar distante e próximo, o
ouvir o nome chamado, o toque e o invólucro.
- Com bolas de tamanhos e espessuras diversas, vivenciar o jogo dual
de dar e receber, como também jogar livremente para criar
movimentações; e finalizar com massagens, contornando as partes do
corpo, bem como colocar bola no abdômen e sentir a inspiração e a
expiração (o preencher e esvaziar).
- Através de brincadeiras infantis, como rodopio (um segurar o outro
pelas mãos e rodar), rodar com a criança, segurando-a por trás na
altura das axilas, com os braços dela abertos (imagem de avião), a
criança em pé se deixa cair para trás, sendo segurada pelas axilas (vivência
de relação de segurança).
Na fase anal, caracteriza-se pela a entrada do limite, quando se
vivenciam as exigências de controle dos esfíncteres, a noção de
posse, por isso o foco principal é a agressividade. As propostas
devem ser diretivas, marcadas pela organização espacial e temporal:
- Com instrumentos musicais (tambor, triângulo e paus), produzir
estruturas rítmicas para serem reproduzidas; realizar deslocamentos
no ritmo devagar, rápido e parar. Movimentar-se de acordo com as
cadências livremente. Pode-se também, propor estas atividades
andando em cima de sacos de areias, de esponjas retangulares e de
hemi bolas.
- Com jornais, lixas ou hemi bolas, trabalhar o equilíbrio dinâmico,
propondo deslocamentos, através do arrastar com os pés esses
materiais, andando para frente, para trás, de lado, e girar em torno
de si mesmo. Pode também, andar em dupla.
- Com o próprio corpo, vivenciar o boneco de pau (duro, contraído) e
movimentar-se, e o boneco de pano (mole, descontraído), movimentar-se,
acompanhado por música. Em dupla, um contornar o corpo do outro no
papel, depois cada um pintar o interior do corpo, ou desenhar e
colori-lo.
A fase fálica marca a elaboração edípica, quanto à Lei do Incesto, à
identificação sexual e à tríade familiar. As propostas mobilizam a
consciência de imagem corporal, o uso do corpo de maneira autônoma e
ajustada às exigências sociais e culturais. Trabalha-se a noção de
eixo corporal, quanto à definição dos lados de direita e esquerda em
si e no outro, bem como em relação aos objetos no espaço, através de
vivências em trios:
- Vivenciar a postura ereta, inspirar e expirar, sentir bem o seu
peso nos pés, em seguida, deslocar o peso do corpo para o lado
direito, e levantar o pé esquerdo, equilibrar-se, depois repetir
para o lado esquerdo. Realizar a mesma vivência, movimentando-se
pela sala, mudando os pés: ao colocar um, tira e eleva o outro do
chão, acompanhado por música bem marcada para o andar. Vivenciar os
mesmos movimentos em trios, com mãos dadas, revezando a pessoa do
meio.
- Com cordas, vivenciar o enrolar-se e desenrolar, em volta do braço
direito, e o mesmo com o esquerdo; depois fazer o mesmo nas pernas
direita e esquerda. Segurar a corda só com a mão direita e criar
movimentos acompanhando a música; depois com a esquerda. Em trios,
dar um nó nas cordas para criar movimentos seguindo música, só com a
mão direita e depois esquerda. No final, realizar o contorno do
corpo com as cordas.
- Sentir, acompanhando uma música bem marcada, os movimentos das
articulações do corpo, separadamente, depois todas juntas, criando
movimentos. Em trio, uma pessoa no meio fica imóvel enquanto os dois
colegas criam movimentos livres, com música. Cada um vivencia estar
no meio.
A fase Genital marca o momento emocional de consciência de Ser
singular, disponível a compartilhar e criar no seu grupo social, que
investe na busca do parceiro sexual. As atividades corporais devem
ser vividas em duplas e grupo, numa dinâmica de entrelaçamentos:
- Cada indivíduo andar pelo espaço, sentindo seus pés, no ritmo da
música sozinho. De acordo com as instruções, andar em duplas, trios
e até grupo de seis, seguindo as solicitações de: andar para frente,
para trás e de lado (direito e esquerdo).
- Ficar de pé com os pés afastados na distância dos ombros, sentir o
corpo inclinar para frente, para trás, sem tirar os pés do chão;
depois o mesmo movimento para o lado direito e esquerdo. Em duplas,
com mãos dadas, as pessoas uma de frente para outra, inclinar o
corpo para trás, uma segurando a outra numa leve tensão, em
equilíbrio. Com uma música suave, vivenciarem um leve balanço,
quando solicitado, mudar as duplas; depois as duplas formam um único
grupo, um segurando o outro, realizando movimentos com a música.
Referências Bibliográficas:
Miranda, S. L. Caso clínico de terapia da linguagem escrita. IX
Congresso Brasileiro de Psicomotricidade. Anais. Olinda:
Sociedade Brasileira de Psicomotricidade,2004.
Thiers, S. Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers: uma leitura
emocional, corporal e social. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1998.
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