A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers
 
VITRAIS
vol 56 - jun 2007
 

Editorial

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Entrevista
com Elisabete Mancebo

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Uma reflexão sobre os grupos
III Encontro Interativo de Empresas
Márcio e Ramain-Thiers, um encontro legal!

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MÁRCIO E O
RAMAIN-THIERS,
UM ENCONTRO LEGAL!
 

Kathleen Cardoso

Conheci-o em março de 2003, eu acabava de entrar para o grupo de colaboradores do Infa – Instituto da Família - como psicóloga clínica. Ele morava numa instituição que recebia crianças órfãs, abandonadas ou retiradas dos pais por negligência e/ou maus tratos. Esta instituição, mantida por uma ong estrangeira, consistia de diversas casas e, em cada uma delas, havia uma “mãe social” que tomava conta de oito a dez crianças, com idades variando entre um a catorze anos.

Ele chegou para o serviço de psicologia trazido por sua “mãe social”, que chamaremos de Leila, com queixa de agressividade exacerbada, principalmente para com seus “irmãos sociais”. Leila temia que ele levasse esta agressividade para fora de casa, para o colégio ou outros lugares que freqüentasse.

Márcio (nome fictício), na época estava com doze anos, e não escondia seu desinteresse pela terapia.

Na anamnese, feita com Leila, pude colher fragmentos da sua infância. Márcio era o segundo de quatro filhos. Seus pais biológicos eram moradores de rua e até os quatro anos, todos moravam debaixo de uma marquise de um prédio comercial no centro do Rio de Janeiro. Não se sabe o que aconteceu com seus pais, que sumiram deixando as quatro crianças abandonadas. Uma mulher, que era funcionária de algum escritório do referido prédio, percebendo que eles estavam sós, acionou o conselho tutelar que os colocou nesta instituição onde Márcio está até hoje. Seus dois irmãos caçulas foram adotados por uma família estrangeira, e deles não se têm mais notícias. Seu irmão mais velho mora na mesma casa que Márcio.

A mulher que os encaminhou para o conselho tutelar é “madrinha social” de Márcio, paga uma escola particular para ele, dá roupas e o leva, quinzenalmente, juntamente com seu irmão, para passar o final de semana com ela e sua família (marido e dois filhos).

Este primeiro ano de terapia foi uma batalha. Márcio relutava a entrar no processo terapêutico, pouco falava, respondia monossilabicamente às minhas perguntas, não dando chance para começarmos uma conversa. Não trazia nenhum conteúdo para que pudéssemos trabalhar e praticamente usávamos o nosso tempo jogando. Sabia que o trabalho com adolescentes, por suas características próprias, era muito difícil, mas Márcio superava em muito esta dificuldade. Ele não queria entrar num processo de transferência comigo, um mecanismo de defesa que o protegia de outro “abandono”. 

Em julho de 2003 iniciei o meu curso de especialização em Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers.

Em dezembro de 2003 chamei Leila para consulta, com a concordância de Marcio, que não quis participar, e falei com ela sobre o não envolvimento dele no processo terapêutico, sobre a sua recusa em se tratar. Leila, porém, manteve seu desejo, independente do desejo de Marcio, de que prosseguisse a terapia no ano seguinte.

Começamos o ano de 2004 com as mesmas dificuldades. No entanto, no decorrer do ano, Marcio começou a baixar a guarda e iniciou-se uma tímida transferência.

Durante o ano de 2004, no curso de especialização Ramain-Thiers começamos a ter contato com os orientadores terapêuticos, e conforme íamos estudando, percebia que com o método Ramain-Thiers eu poderia trabalhar melhor com os meus adolescentes, principalmente com Márcio, uma vez que o material estimulava-os a falarem sobre suas emoções.

Em julho de 2004 pedi a Márcio que pensasse sobre o seu desejo de continuar ou não com a terapia, disse-lhe que se ele decidisse por não continuar, daria-lhe alta, anulando, portanto, o desejo de sua “mãe social”. Dei-lhe uma semana para pensar e, para a minha alegria, ele decidiu continuar, entrando de vez, de forma “adolescente”, na terapia.

Em fevereiro de 2005, com a permissão da minha supervisora de estágio do curso de especialização e com a permissão de Márcio e de Leila, iniciei um pequeno grupo de Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers, formado por Marcio e Gabriela, outra adolescente que estava atendendo. Para esta tarefa utilizei o orientador terapêutico AD.

Gabriela, a outra adolescente, estava com quinze anos, era filha única e bastante infantilizada pelos pais, vivendo uma simbiose com a mãe. Começamos terapia individual no final de 2004. Ao contrário de Márcio, Gabriela falava bastante. Intui que juntá-los seria muito bom para ambos.

O método Ramain-Thiers, por apresentar um gênero de proposta que possibilita a terapia de grupo, assim como o trabalho corporal, propicia o surgimento de um instrumento eficaz para a emergência do emocional e dos níveis mais profundos da personalidade em qualquer ambiente terapêutico. É um método ideal para adolescentes que, de uma maneira geral, são avessos a falar de suas emoções.

Ramain-Thiers objetiva o desenvolvimento da Atenção Interiorizada, do Processo Criativo, a Busca da Autonomia e a Mudança de Atitude.

A Atenção Interiorizada possibilita a percepção eficaz da realidade, levando o sujeito a lidar melhor com ela, e estimulando-o também a incrementar a sua atenção no sentido de encontrar novas maneiras de estar no mundo, exatamente o que eu, como terapeuta, esperava destes dois adolescentes.

O desenvolvimento do Processo Criativo incentiva a procura, por parte do indivíduo, de soluções atualizadas para resoluções de seus problemas, através de propostas novas ou conhecidas, porém com exigências diversas.

A Busca de Autonomia em Ramain-Thiers refere-se ao respeito aos limites do próprio corpo e a possibilidade de, quando em grupo, o indivíduo procurar suas respostas e se disponibilizar para a mudança de situações.

O aspecto cognitivo e a área intelectual estão ligados, da mesma forma como o aspecto emocional está ligado à emoção e sentimentos, possibilitando a aceitação dos erros, acertos, frustrações e reparações, com o vislumbre de novas possibilidades e vivência de afetividade.

O trabalho corporal em Ramain-Thiers é voltado para o processo de evolução do corpo e da conscientização da ação. Ele procura estimular as características energéticas do indivíduo e sua evolução.

Começamos bem os trabalhos com Ramain-Thiers. No princípio houve uma certa resistência, principalmente de Márcio, relacionada aos trabalhos corporais, mas conforme íamos prosseguindo, ele foi se acostumando e gostando destes momentos.

As propostas diferenciadas de psicomotricidade foram feitas, a principio, com bastante dificuldade. O respeito às regras eram transgredidos, surgiam borrachas de todos os lugares, a troca de cor de lápis era esquecida. Quando eles se acostumaram com o material e perceberam que seus erros podiam ser reparados sem a necessidade de burlar as normas pré-estabelecidas, passaram a fazer as tarefas com ânimo maior.

Durante este ano conseguiram chegar, com bastante dificuldade, à fase genital, não se mantendo, tendo que regressar para a fálica.

Para Márcio, a entrada do Ramain-Thiers em sua terapia foi crucial. Depois de quase dez meses, no final de 2005, percebíamos que ele já conseguia lidar com a sua agressividade, falava da sua infância na instituição, da adoção de seus irmãos, de seus medos e inseguranças. Começou a participar das atividades do colégio, a falar de paqueras, demonstrando uma maior segurança e um aumento significativo da sua auto-estima.

Ramain-Thiers trabalha a regressão, levando o indivíduo a atualizar seus afetos, liberando a repressão e se amando, passando a aceitar melhor seus defeitos e qualidades.

Quando lhe dei alta, ele continuava morando com sua “mãe social”, ajudava uma floriculturista a enfeitar igrejas e salões de festas nos finais de semana, preparava-se para tentar vaga numa escola técnica de educação física e, principalmente, era um adolescente feliz !

COLEÇÃO
RAMAIN-THIERS

Leia o livro digital que você deseja
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Volume I
Ramain-Thiers: a vida, os contornos
A re-significação para o re (nascer)
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Volume II
A potencialidade de cada um:
Do complexo de édipo a terapia de casais
------------------------------------------------Volume III
A dimensão afetiva do corpo:
Uma leitura em Ramain-Thiers

------------------------------------------------Volume IV
As interfaces de Ramain-Thiers

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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