Literatura
Levava uma vida sossegada
Por: Roberto Shinyashiki
Médico.
Psiquiatra. Pós-graduado em Administração de
Empresas- MBA-USP. Doutor - USP. Escritor.
Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra e água fresca
Meu deus, quanto tempo
Eu passei sem saber?
Foi quando meu pai me disse: “Filha
Você é ovelha negra da família
Agora é hora de você assumir
E sumir!”
Rita Lee cantou maravilhosamente a
alma da gente: chega uma hora que é assumir
e sumir. Não dá mais para esperar. É partir
para a vida, criar o seu destino. A sua
crisálida já rompeu e não dá mais para
voltar a ser lagarta. Agora é abrir as asas
e voar.
Seu desafio nesse momento é se
transformar na pessoa que você quer ser.
Agora é hora de construir sua vida
do jeito que sempre sonhou.
Agora é hora de escrever a
história da sua vida!
Ou, em outras palavras, é hora de
começar a sua jornada de herói.
Talvez você esteja passando por um
grande desafio neste momento, e se tiver a
coragem de enfrentá-lo, sua vida nunca mais
será a mesma.
Qual é o seu desafio:
O casamento ou o fim do amor da
sua vida?
A formatura da faculdade ou uma
demissão no emprego
O início de uma empresa ou a
falência do seu negócio?
Na nossa vida existem marcos que
dividem o antes e o depois. Vou dar um
exemplo, para explicar melhor essa ideia.
Quando descobri minha vontade de
ser psiquiatra, matriculei-me em um cursinho
para vestibular em Medicina. Alguns meses
depois, entrei na faculdade.
Naquele momento, decidi que também
era hora de deixar de viver de mesada que
meu pai me dava e procurei formas de ganhar
algum dinheiro. Comecei a dar aulas
particulares, mas a grana era curta. Logo
depois, descobri que os cirurgiões da
faculdade precisavam de assistentes nas
cirurgias e eles davam uma pequena ajuda
financeira para os alunos que auxiliavam.
Percebi que o dinheiro que poderia ganhar em
cada cirurgia era mais do que eu ganhava em
um dia inteiro dando aulas.
Fuiprocurar informações sobre como
entrar nesses grupos de cirurgia e descobri
que o doutor Célio Gayer, o mais importante
cirurgião da cidade, tinha um grupo de
assistentes que eram selecionados por meio
de um concurso realizado entre o segundo e o
terceiro anos de faculdade. O conteúdo da
prova era Anatomia Humana. Então fui ser
monitor de Anatomia, para aprender o máximo
possível sobre o assunto. Passei no concurso
em primeiro lugar e comecei a participar das
operações. Com isso também fui aprendendo a
realizar cirurgias e, às vezes, os médicos
solicitavam que eu as assumisse sozinho.
Continuei me dedicando a estudar
Psiquiatria, porque sabia que esse era o meu
caminho, mas já estava ganhando um bom
dinheiro operando. Os convites para fazer
cirurgias eram cada vez melhores e mais
frequentes e minhas escalas para plantões de
pronto-socorro aumentavam a cada dia. Eu
estava totalmente envolvido com cirurgia,
mas meu coração pertencia à Psiquiatria.
Resolvi me casar e a necessidade
de dinheiro aumentou, prendendo-me ainda
mais à área cirúrgica. Fiquei com receio de
nunca conseguir me dedicar à minha
verdadeira vocação. Sentia-me vítima do
destino porque não tinha tempo para dedicar-me
ao que eu realmente queria.
Até que um dia disse para mim mesmo:
a parir do mês que vem não vou dar mais
plantão em pronto-socorro. Organizei minhas
finanças como pude e entrei de cabeça.
Era agora ou nunca!
Montei meu próprio consultório e
comecei a atender meus pacientes. No início
tinha medo de trabalhar sozinho, mas, ao
mesmo tempo, sentia-me feliz por conseguir
realizar meus sonhos.
Foi quando minha esposa engravidou.
Não era o momento ideal para sermos pais,
pois o dinheiro ainda era escasso, mas era
um filho desejado. Então, comecei a
trabalhar também com pacientes terminais em
hospitais para completar o orçamento.
O garoto nasceu lindo. Mas, é
claro, as despesas aumentaram. Por sorte,
nessa época, surgiu uma nova oportunidade de
trabalhar e fazer Psicoterapia em pacientes
com câncer. Segui em frente, cada dia mais
perto da minha vocação.
Alguns meses depois, tivemos uma
terrível notícia: o diagnóstico de que nosso
bebê sofria de uma doença gravíssima, com
uma expectativa de pouco tempo de vida. Meu
Deus do céu! A única possibilidade de ele
viver seria com tratamentos caríssimos, que
eu não teria como pagar. Mas continuei em
frente, sempre acreditando que o dinheiro
necessário chegaria no momento certo. E eu
precisava dar um jeito de ganhar mais.
Comecei a dar cursos de psicoterapia.
Trabalhava todos os sábados e domingos,
todas as noites, todas as tardes. Nunca
trabalhei tanto na minha vida.
Apenas não trabalhava durante as
manhãs, pois elaseram reservadas para levar
meu filho Leandro para os tratamentos.
O tempo passou, Leandro sobreviveu
à doença e minha rotina ficou mais calma.
Hoje me lembro dessa fase de minha
vida, incluindo a passagem de cirurgião para
psiquiatra, com muito orgulho. Nesse
processo de beber do cálice da provação,
percebi minha verdadeira força interior.
Também descobri amigos maravilhosos e
principalmente aprendi a valorizar as
amizades verdadeiras.
Antes do tratamento de meu filho,
eu me sentia preso à impossibilidade de
largar as cirurgias e me dedicar à minha
vocação como psiquiatra. Sentia-me incapaz
de ganhar o dinheiro necessário para levar
uma vida decente. Mas, no momento em que
respondi ao chamado da vida, comecei a
entrar em contato com minha força interior.
E depois do drama que vivi passei a
acreditar que os problemas são sempre
menores do que parecem quando se tem a
coragem de enfrentá-los.
A partir dessa época, o Roberto
transformou-se no Roberto Shinyashiki.
Alguns momentos estão destinados a
ser marcos inesquecíveis na sua vida. Basta
ter a coragem de ir sempre em frente,
encarar os desafios, superar os obstáculos,
escutar os bons companheiros de viagem,
deixar para trás os convites do mal e criar
a sua vida da maneira que você quiser.
Tenha sempre a certeza de que você
é maior do que imagina.
REFERÊNCIAS
SHINYASHIKI, Roberto. Sempre em frente.
2ª ed.São Paulo: Editora Gente, 2008.
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